Apesar das dificuldades, micro e pequenos empresários se arriscam no mercado
À frente da Lariveg, Alana é um dos exemplos de pequenos empreendedores, com seus pratos vegetarianos

Apesar das dificuldades, micro e pequenos empresários se arriscam no mercado

Segundo o Sebrae, 98,5% do total de empresas no País é formado por micro e pequenas empresas

Em 2015, Alana Paiva Pieronti perdeu o emprego de recepcionista. E, para deixar tudo ainda mais complicado, ela ficou grávida logo em seguida. Foi aí que ela teve uma ideia que uniria o útil ao agradável. Pensando em passar mais tempo próximo da filha, auxiliar na educação alimentar da pequena e ainda lucrar com isso, Alana inaugurou a LariVeg, um projeto familiar com o intuito de propagar o vegetarianismo. Atualmente, o negócio é a principal fonte de renda da família.

O exemplo de Alana é só um dentre os vários casos de pessoas que perderam o emprego em plena crise e precisaram se virar para garantir algum dinheiro. Atualmente, as empresas voltam a crescer ainda de maneira tímida. Como dito no jargão econômico, é um “crescimento para o lado”. Isto acontece quando o mercado cresce para retornar ao mesmo patamar que possuía antes da queda. 

Dentre as dez cidades que mais possuem empresas no Estado de São Paulo, Ribeirão Preto ocupa a quarta colocação, atrás somente da Capital, Campinas e Guarulhos, respectivamente. Contudo, entre as dez primeiras, Ribeirão apresentou um crescimento um pouco mais lento, ficando na sétima posição. Entre 2016 e 2017, o crescimento no número de empresas ativas foi de 12,8%, e, de 2017 para 2018, foi de 7,39%. A que mais cresceu foi Sorocaba, com 14,78% na primeira amostragem e 9% no último ano.

Com isso, uma das figuras que ganharam mais visibilidade com a crise e com as temperaturas mornas nos motores da economia foi a do microempreendedor. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 98,5% do total de empresas no País é formado por micro e pequenas empresas.

Dentro destes 98,5%, existem três perfis diferentes: o Micro Empreendedor individual (MEI), com uma receita bruta anual de até R$ 60 mil, a Microempresa, com receita de R$ 60 mil a R$ 360 mil ao ano e a Pequena empresa, que arrecada de R$ 360 a R$ 3,6 milhões ao ano.

O Sebrae explica que, para se formalizar, é preciso informar o número do CPF, data de nascimento, número do título de eleitor ou o número do último recibo de entrega da Declaração Anual de Imposto de Renda Pessoa Física – DIRPF, caso esteja obrigado a entregar a DIRPF.

A formalização é gratuita e pode ser feita pelo Portal do Empreendedor. Em Ribeirão Preto, o Poupatempo, no setor azul relativo aos serviços municipais, realiza todo o procedimento; consulta da viabilidade do local, abertura no portal, emissão do alvará provisório, impressão dos primeiros boleto e cadastro para emissão da nota fiscal ribeirãopretana.

Alguns dos pratos da Lariveg

A conta gotas

Aos poucos, o pequeno empreendedor consegue abrir e manter o seu negócio com menos dificuldades. A prefeitura divulgou, no último dia 11, que o serviço para a formalização do MEI está mais rápido. Segundo nota, o MEIs de Ribeirão Preto conseguem se formalizar em cerca de 40 minutos.

O MEI é destinado às pessoas que trabalham por conta própria e se legalizam como pequenos empresários, com carga tributária mais baixa, acesso a benefícios como a Previdência Social, mais facilidade na busca por empréstimos e emissão de nota fiscal.

Desde a mudança do MEI – Sala do Empreendedor Municipal, da Rua Laguna para o novo local no Novo Shopping, o município alega ter otimizado o serviço com a informatização e capacitação dos profissionais que operam o sistema.

Segundo a coordenadora Adriana Carvalho, do Posto Avançado de Atendimento, antes eram realizados 361 atendimentos por mês. “Com a mudança para o novo endereço, ampliamos este número para 1.333 atendimentos no mês de junho, entre solicitações de informação, abertura, alteração e encerramento de MEI em geral. Desse total, 461 são novas inscrições ou formalizações apenas nesse período do mês passado”, informa.

Contudo, cada serviço deve lidar com leis que correspondam ao produto oferecido. Por exemplo, se um empreendedor resolve vender produtos alimentícios, deve dispor de um espaço específico para este serviço, com fiscalização da Vigilância Sanitária. Portanto, o prazo para pôr a mão na massa pode variar de MEI para MEI.

Já no caso de pequenas empresas, com funcionários e um público grande, o tempo de regularização é bem maior.  “De acordo com o Índice de Cidades Empreendedoras da Endeavor, na cidade de São Paulo, o tempo de abertura de empresas é de 74 dias. Em Ribeirão Preto, o tempo é de 42 dias. A média no Brasil é de 62 dias”, explica o Sebrae por meio de nota.

Segundo ranking da DoingBusines de 2017, o país onde é possível abrir uma empresa mais rápido é a Nova Zelândia. Lá, o empresário resolve toda a burocracia em um dia. Um exemplo mais próximo é o vizinho Uruguai, onde é possível dar o pontapé inicial no próprio negócio em uma semana.

Mulheres na luta

Alana, a proprietária da Lariveg, conta que logo que perdeu o emprego de recepcionista resolveu fazer alguns pratos vegetarianos para vender. “Pedi ajuda a minha sogra, que é cozinheira. Ela me passou dicas, algumas receitas e daí comecei a caminhar com as minhas próprias pernas. Pesquisei bastante e fui aperfeiçoando meu cardápio e receitas, hoje tenho mais de 20 pratos à disposição”, relembra a microempreendedora que nunca fez um curso de gastronomia.

Outro caso de sucesso é o da Cupcakes by Isa, também de Ribeirão. Isabela Nascimento Lepera é formada em Direito, mas conta que a área nunca a atraiu. “Eu nunca me identifiquei com a advocacia e as experiências que tive advogando me desestimularam. Como comecei a produção dos doces ainda na faculdade, como um hobby, achei uma estrada pra fugir da profissão que eu tinha escolhido mal. Troquei as brigas do direito pelas alegrias da confeitaria”, brinca Isabela.

Isabela da Cupcakes by Isa se inspira nas sobremesas estadunidenses

Atualmente, a Cupcakes by Isa é uma marca de doces, de produção artesanal. Isabela trabalha com produtos da linha finger food, para comer com as mãos. As inspirações vêm dos doces estadunidenses.

Apesar de não se identificar com o Direito, a área das leis ajudou Isabela na caminhada para a consolidação do seu negócio. “O Direito me ajudou em partes. Pela formação, eu conheço bem a estrutura e hierarquia do poder Executivo Municipal, então alguns órgãos e seus funcionamentos eu já tinha boa noção de como seria para lidar. Mas a teoria é sempre diferente da prática por aqui”, comenta.

A microempreendedora comenta que, apesar dos avanços, a burocracia ainda atrapalha muito quem deseja abrir o próprio negócio. A burocracia é tanta que, segundo Isabela, confunde os próprios funcionários públicos. Ela explica que foi preciso abrir um segundo MEI e CNPJ para poder atuar de maneira regularizada.

“Quando fui dar baixa [no primeiro MEI e CNPJ], a Junta Comercial sequer havia me registrado. Então eu fiquei 10 meses com a empresa funcionando, sem o registro na Junta. Tenho visto que as coordenadas que eles dão geralmente não são as mais objetivas e muitas informações são cruzadas e contraditórias. Parece não existir comunicação entre os órgãos”, finaliza Isabela.

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Sob supervisão de Marina Aranha.


Foto: Amanda Bueno/ Arquivo pessoal

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