Clubes de assinatura e os 'prossumidores'

Clubes de assinatura e os 'prossumidores'

No Brasil, os clubes de assinatura já movimentam mais de R$ 1 bilhão por ano, e tem gente ficando viciada nas novidades

Em tempos de crise econômica, a jornalista Camila Mara descobriu uma maneira de conhecer produtos novos e pagar mais barato. Ela assina pacotes em três clubes virtuais – dois de alimentação, e um de cosméticos -, que todos os meses trazem “novidades”, que ela nem imaginava onde encontrar.

Camila conta que conheceu esses clubes há mais ou menos um ano, pela internet mesmo, e se tornou adepta por sempre estar conhecendo coisas novas, além de ter a expectativa de ter investido bem próprio o dinheiro – ela gasta uma quantia em torno de R$ 100.

“Vi que são bem cômodos, e contam com produtos diferentes, que não encontramos no mercado com facilidade. É barato, e te apresenta novidades que podem fazer você virar um consumidor sem depender apenas do clube. É uma forma de divulgação bem inteligente”, diz a jornalista, que vê como vantagem o fato de não ser necessário ter compromisso, já que se não quiser mais o serviço, só não precisa pagar no mês seguinte.

“Sempre ficamos na expectativa do que vai vir em cada mês. É bem diferente. Às vezes é uma comida bem diferente ou que não conhecemos, e que talvez só encontrasse em empórios especializados, e isso é bem útil”, explica Camila, que tenta transferir esse “vício” até para o cachorro, que também recebe produtos de um clube destinado ao mercado animal.

De acordo com levantamento realizado em 2015 pela revista de negócios Exame, no Brasil são mais de mil clubes do tipo funcionando, e que, apenas nos primeiros oito meses daquele ano, movimentaram mais de R$ 1 bilhão, o dobro do que todo ano de 2014. O maior clube do País, especializado em vinhos, conta com mais de 100 mil assinantes, que movimentam cifras em torno de R$ 250 milhões.

Proprietário de um clube de assinaturas, Gabriel Ribeiro diz que em dois anos de atuação no mercado já enviou mais de 10 mil kits em todos os estados do Brasil, e afirma que a crise não atrapalha as vendas, já que desde o início dos trabalhos só viu o aumento de assinantes.

Ele conta que começou o negócio com a esposa já que sempre gostaram de cozinhar, e que, quando viajam, garimpam produtos culinários diferentes e tiveram a ideia de trazer a essa experiência de descoberta de sabores para outras.

“Sempre quis empreender, então depois de trabalhar em grandes empresas e ganhar um pouco de experiência decidi abrir esse negócio. Meu bisavô foi um grande empreendedor, ele veio de Portugal sem nenhum dinheiro e ao longo de sua vida criou mais de 10 empresas. Cresci ouvindo as histórias dele que sempre me inspiraram”, recorda.

O economista Daniel Belíssimo conta que essa modalidade em que o consumidor financia diretamente o fornecedor tem até nome, “prossumidor”, porque os consumidores acabam se tornando também um produtor, tornando-se um co-produtor.

“O consumidor pode direcionar seu consumo para causas em que acredita. Para negócios que podem impulsionar questões sociais e locais, ou podem simplesmente ir ao mercado e comprar de qualquer marca. Mas ele pode se associar, por exemplo, a pequenos agricultores, e co-produzir, colhendo depois os alimentos com os produtores e dividindo de forma justa”, destaca o economista.

Porém, ele vê com ressalvas os clubes de assinatura, já que ele acredita que é preciso “ressignificar” o consumo, e ele vê que muitos desses clubes realizam simplesmente a troca de mercadorias sem haver um questionamento.

“O consumo é um dos atos mais políticos dos nossos tempos, então redução de custos é relevante, mas é apenas um dos pontos e um dos mais simples, e são várias tendências que estão apontando para um caminho similar, como uma economia da consciência, solidária, criativa, compartilhada, comunhão, entre outros”, aponta Daniel.

“Então, isso está ligado fundamentalmente a uma educação do consumo, para que cada vez mais se torne um consumo consciente e solidário. Mas ainda isto está engatinhando”, conclui.
 

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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