Crise econômica faz sonho de concluir a faculdade ficar para depois, segundo IBGE
Estudante de Ribeirão Preto relata as dificuldades encontradas para concluir o ensino superior

Crise econômica faz sonho de concluir a faculdade ficar para depois, segundo IBGE

Desde o início da crise, mais de 170 mil jovens deixaram a universidade por falta de condições financeiras

O sonho de concluir o ensino superior da recepcionista Letícia Fernanda de Paula, 20 anos, vai ter de ficar para o futuro. O motivo: os altos custos das mensalidades e a necessidade de ter de ajudar em casa.

Letícia até tentou começar 2018 na faculdade. Escolheu o curso de fisioterapia em uma universidade de Ribeirão Preto, procurou um programa de bolsa de estudos para poder ter descontos na mensalidade e iniciou as aulas.

Porém, a estudante ribeirãopretana teve de adiar o sonho no meio do caminho, assim como outras 170 mil pessoas em todo o País, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgada em maio. O levantamento mostrou a realidade vivida pelos jovens com idade entre 19 e 25 anos, que deixaram o ensino superior nos últimos anos: a maioria por problema relacionados à crise financeira que afetou o País e que ainda não se mostra muito distante no retrovisor dos brasileiros.

Segundo o Semesp, associação que reúne mantenedores de faculdades e universidades, mesmo com a crise, Ribeirão Preto não apresentou um resultado tão negativo. Desde 2015, mesmo com a redução na oferta de vagas do Financiamento Estudantil (Fies), o número de matrículas nas instituições de ensino superior diminuiu apenas 0,6%, no período.

Além de pagar as mensalidades da faculdade, Letícia tem de ajudar os pais com as contas de casa, e eles não teriam condições de ajudar a filha a pagar a faculdade. Além disso, “surpresas” no meio do caminho também foram um problema, como taxas de renovação de matrícula, por exemplo.

“Eu tive de largar antes do final do semestre. A mensalidade pesou bastante, mas também tive umas surpresas no meio do caminho. Eu aderi a um programa de bolsa de estudos e tinha que pagar taxa de renovação de matrícula já no primeiro semestre. E foi virando um bolo, e eu não consegui pagar. E tive de pedir para sair, porque já tinha passado o prazo para trancar”, conta a recepcionista.

“Eu comecei em março. Demorei um pouco porque fiquei indecisa no começo, porque fiquei pensando se ia dar conta de pagar ou não pagar. Eu fui, acabou que não dei conta de pagar”, completa a jovem.

Uma situação bem parecida com a demonstrada pelos números da Pnad. O levantamento aponta que, além do desemprego, que atingiu em cheio essa fatia da população – 25% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não têm carteira assinada –, estão entre as maiores causas de abandonos nas universidades particulares, desde o começo da crise, no fim de 2014, a falta de crédito disponível aos estudantes e a diminuição de renda.

Porém, apesar do cenário ainda difícil e das adversidades, como mostram os números, Letícia não desiste de alcançar o sonho de concluir o ensino superior. “Não vou tentar na particular. Vou tentar em uma pública, que é mais certo para mim”, afirma.

Ela já iniciou os estudos para tentar uma vaga em uma universidade pública e vai prestar os principais vestibulares, como a Fuvest, que permite o ingresso na Universidade de São Paulo (USP), e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).  


Foto: Pixabay

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