Economistas avaliam os impactos do coronavírus na economia em Ribeirão Preto

Economistas avaliam os impactos do coronavírus na economia em Ribeirão Preto

Especialistas defendem o isolamento social e avaliam as melhores ações para diminuir os efeitos da crise

Há um consenso entre os economistas de que, independentemente do tipo de medida que será utilizada no combate ao novo coronavírus, grande parte dos países no mundo verão seus indicadores econômicos recuarem nos próximos meses. Seja pela quantidade de mortes causadas ou pelos impactos do fechamento do comércio, a previsão é de resultados negativos no Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.

Para tentar entender melhor os impactos do coronavírus na economia, e a eficácia das medidas do governo, o Portal Revide consultou três economistas que fizeram uma análise sobre o cenário atual.

Edgard Monforte Merlo, professor de Economia de Empresas da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), avalia que, apesar de todos os impactos econômicos previstos, o ideal é manter a quarentena por enquanto. "Ou para o comércio, ou as pessoas morrem. Não há alternativa [...] E se você mata as pessoas, mata a economia", comentou Merlo.

Já o economista Luciano Nakabashi, da FEA-RP/USP, avalia que o melhor para o momento é seguir com o comércio fechado. "Porque também, eu acho que isso vai acontecer independentemente de o governo agir ou não. As próprias pessoas vão deixar de frequentar certos lugares", disse.

Mantida a quarentena e o fechamento parcial do comércio para salvar a vida das pessoas e evitar o colapso precoce do sistema de saúde, os economistas observam as medidas do governo como uma maneira de garantir o básico à população. Uma forma de mitigar os efeitos iminentes da crise.

No dia 16 de março, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que cerca de R$ 83 bilhões serão aplicados em ações para a população mais vulnerável, até R$ 59,4 bilhões para a manutenção de empregos e pelo menos R$ 4,5 bilhões para o combate direto à pandemia.

Dentre as medidas direcionadas para a população está a antecipação das parcelas do 13º para aposentados e pensionistas; a antecipação do abono salarial para junho e a transferência de valores não sacados do Programa de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Além dessas medidas, no dia 2 de abril, foi publicado no Diário Oficial da União a lei que aprova o benefício de R$ 600 para trabalhadores autônomos e informais. E já é estudado no Senado a inclusão de outras categorias como motoristas de táxi ou de aplicativos e pescadores sazonais.

Para Alberto Borges Matias, professor titular em finanças aposentado pela USP e presidente do Inepad Consulting, a medida é importante para manter, em partes, a economia ainda ativa. “Manterão parte da renda para manter parcialmente o comércio operante, principalmente o comércio de bens de menor valor”, explica.

"Quanto mais baixa a renda, menos poupança as famílias têm e mais dificuldade elas terão para passar por esses momentos de crise. Se o governo não injetar o dinheiro para essas famílias, muitas pessoas vão acabar passando fome. São medidas para as necessidades básicas”, acrescenta Nakabashi.

Ribeirão Preto e as empresas

De modo geral, os economistas avaliam que as empresas ligadas à venda de produtos básicos, como alimentos, itens de higiene, farmácia, delivery e produtos voltados para o home office, como computadores, impressoras e similares, não devam sofrer grandes impactos com a crise.

Por outro lado, por Ribeirão Preto ser uma cidade que depende muito do comércio e da prestação de serviços, a cidade deverá sofrer com os impactos da crise em breve. "A economia aqui se baseia no agronegócio, indústrias e serviços. Só que o setor de serviço emprega quase metade das pessoas da cidade, é o que faz a economia girar", explica Merlo.

Por isso, o economista acredita que a cidade sofrerá uma perda entre 5% e 10% da renda nos próximos meses. No País, o Produto Interno Bruto (PIB) que fechou 2019 com crescimento 1,1% –  abaixo do esperado –, teve a estimativa para 2020 revista. Os mais otimistas esperavam um PIB na casa dos 2% para este ano, com a crise do coronavírus, porém, o Relatório de Mercado Focus divulgado nesta segunda-feira, 6, prevê um PIB de -1,18%.

“Organizações de Saúde sentirão crise de liquidez mais à frente. Escolas já estão sentindo. Parte do setor imobiliário está parado. Bares, restaurantes, lojas de vestuário, estética, enfim comércio e serviços que exigem mobilidade, estão buscando alternativa no delivery. Muitos irão encerrar atividades e gerar desemprego”, avalia Matias.

Também é consenso entre os economistas ouvidos que, nesse momento, é essencial que as empresas e os governos consigam manter os empregos. A conta é simples: quanto mais pessoas estiverem trabalhando ao final do período de quarentena, mais rápido o país voltará a crescer.

Todavia, grandes empresas que possuem um caixa maior sofrerão menos do que as micro e pequenas empresas. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), cerca 98% do total de empresas no País é formado por micro e pequenas empresas.

Dentro destes 98%, existem três perfis diferentes: o Microempreendedor individual (MEI), com uma receita bruta anual de até R$ 60 mil, a Microempresa, com receita de R$ 60 mil a R$ 360 mil ao ano e a Pequena empresa, que arrecada de R$ 360 a R$ 3,6 milhões ao ano.

Para o Edgard Monforte Merlo, é necessário que os bancos, principalmente os públicos, criem linhas de créditos com juros mais atrativos para que as pequenas empresas consigam manter os empregos.

“O governo tem que fazer o papel de um aparelho respirador nesse momento. As empresas pequenas estão doentes e ele que tem que fornecer esse oxigênio para deixá-las vivas”, compara o economista.

Bancos

Para tentar injetar ainda mais recursos na economia, o Governo Federal reduziu a taxa de depósito compulsório dos bancos. Todos os bancos são obrigados a depositarem parte de todo o dinheiro depositado em suas agências, no Banco Central. Dessa forma, o BC evita que os bancos especulem com aquele dinheiro, criando uma multiplicação artificial da moeda.

Com mais liquidez, os bancos teriam mais dinheiro para oferecer na economia, mais linhas de créditos e empréstimos mais atrativos. "Eles teoricamente terão que fazer isso. Só que os bancos podem optar por não gastar esse recurso e manter o dinheiro em suas reservas, estão todos receosos com investimentos agora", explica Merlo.

Por isso o economista defende que os bancos públicos e o governo devam agir nesse sentido. Fornecendo crédito barato e irrigando a economia. Em entrevista recente ao programa Mentoria 2020, o deputado federal Baleia Rossi (MDB) explicou que esse é o pensamento da maioria dos parlamentares em Brasília.

"O país vai sair mais endividado, mas eu acho que isso é uma escolha. Vamos dar condição para o governo federal se endividar, mas para salvar vidas e garantir os empregos", disse o deputado.

Com a manutenção dos empregos, intervenções precisas e controladas do governo na economia, o economista Luciano Nakabashi acredita que é possível mitigar os efeitos da crise.

"Mais dinheiro, significa mais financiamentos e pessoas tomando mais empréstimos.  que é fundamental porque esperamos uma queda de demanda e uma queda do consumo por conta da queda da renda", conclui Nakabashi.


Foto: Acervo Revide

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