Efeito dominó

Efeito dominó

Reajuste anunciado pela Petrobras aumenta o preço da gasolina, diesel e gás de cozinha; segundo especialistas, conflito na Ucrânia e embargo ao petróleo e gás natural russo pressionam o preço

No dia 10 de março a Petrobras reajustou os preços da gasolina, diesel e gás de cozinha (GLP), após quase dois meses sem aumentos nos combustíveis. Com a alta no preço médio, a gasolina passa de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro, um aumento de 18,8%, enquanto o diesel subiu de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, uma alta de 24,9%. Já o GLP subiu de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg. O aumento veio logo após o anúncio da suspensão das importações de petróleo e gás natural da Rússia, por parte do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. No mesmo dia, a cotação internacional do petróleo tipo Brent registrou alta de 3,9%, fechando em US$ 128 dólares o barril, maior cotação desde 2008.

De acordo com o economista Luciano Nakabashi, professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), o que motiva o reajuste é o atual contexto internacional. “O principal fator é o aumento do preço do petróleo decorrente dessa invasão da Rússia na Ucrânia e o embargo dos países ocidentais como reação.  Consequentemente, temos sentido o aumento no preço da gasolina, óleo diesel e acaba puxando também o etanol, pela questão da substituição dos combustíveis", explica. Segundo o economista, as perspectivas dependem do caminhar da guerra e de como o governo federal brasileiro vai reagir ao aumento. “Se o governo brasileiro não fizer nada e deixar o preço da gasolina e do óleo diesel aumentar de acordo política atual da Petrobras, teremos uma inflação maior. O combustível é a fonte de transporte de boa parte dos bens. Então a logística acaba sendo muito impactada pelo aumento do preço, gerando um impacto indireto sobre outros produtos”, acrescenta Nakabashi.

O professor Edgard Monforte Merlo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), destaca que o repasse da Petrobras impacta fortemente outros setores. “A Petrobras repassou os aumentos que vinham ocorrendo no mercado internacional de petróleo e gás. Embora seja necessário, o repasse ele deve ser feito com maior cuidado, pois combustíveis e gás impactam fortemente todos os setores da economia. O mercado de petróleo e gás não é um mercado competitivo, isso significa que os produtores conseguem modificar os preços internacionais praticados”. 

ESTIMATIVAS DO SETOR

Fernando Rocca, representante da associação de postos Núcleo Postos Ribeirão Preto, avalia que reajuste já era previsto pelo setor em função dos impactos do conflito na Europa. “Já estávamos prevendo esse anúncio da Petrobras, pois o mercado apresenta sinais de forte aumento desde o último final de semana devido aos impactos da guerra da Ucrânia no preço internacional do petróleo. A guerra influencia o preço do petróleo, e a política de preços da Petrobras está diretamente ligada ao preço internacional e à variação do dólar. Será difícil uma redução desse preço no curto e médio prazo”, explica. O empresário ressalta que o etanol acompanha o aumento por questões logísticas. "O etanol sofrerá impacto de preço, pois o transporte do mesmo se dá por caminhões movidos a diesel e isso já influencia no preço do produto”, completa Rocca. O percentual de aumento que as distribuidoras repassaram aos postos, foram repassados aos preços na bomba. Segundo estimativa de Rocca, o preço do etanol deve ficar entre R$4,70 e R$5,00 por litro. O da gasolina entre R$6,90 e R$7,40 o litro, e o do diesel entre R$6,50 e R$7,00 o litro.

IMPACTOS IMEDIATOS

Na avaliação de Dorival Balbino, presidente da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), os setores que dependem diretamente do transporte rodoviário são os mais afetados. Porém, o reajuste nos preços dos combustíveis dissemina o custo sobre toda economia nacional, encarecendo produtos e serviços. “O impacto é imediato no setor de serviços, principalmente sobre prestadores que dependem de veículos e profissionais liberais. No comércio, o primeiro impacto é sobre os custos de entrega que influencia o preço final dos produtos. Mas os custos logísticos são repassados para praticamente todos os produtos, inclusive os essenciais como alimentos, higiene e limpeza”, explica Balbino.

Ainda segundo o presidente, no curto prazo, a perspectiva é negativa uma vez que o Brasil é um país muito dependente do sistema de transporte rodoviário. “Uma pizzaria que antes cobrava 60 reais da pizza e cujos insumos estão todos mais caros, para não perder tanta margem de lucro precisa aumentar o preço para 65 ou 70 reais. Mesmo assim, ele vai lucrar menos pois se tentar acompanhar a variação dos preços dos insumos o consumidor não aceita”, exemplifica. Balbino aconselha que os empresários tenham atenção redobrada aos indicadores financeiros como seu fluxo de caixa e realizem uma gestão financeira conservadora. “Não é o momento mais indicado para captar empréstimos. Se isso for realmente necessário, é preciso avaliar muito bem pois com esse cenário e com uma taxa de juros básica de 10,75%, isso pode acabar comprometendo a saúde financeira da empresa”, alerta o presidente da Acirp.

“Neste momento, é muito importante preservar setores geradores de emprego e renda como o comércio e transportes. Os consumidores, de modo geral, vão sentir uma elevação nos preços de alimentos e dos gastos com transportes, elementos essenciais e que dificulta sua substituição”, completa o professor Edgard Monforte. 


Foto: Revide

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