Negócio familiar em Ribeirão Preto atravessa gerações
No Brasil, apenas 3% das empresas alcançam a quarta geração

Negócio familiar em Ribeirão Preto atravessa gerações

Alceu Mancini não se vê fora do ofício que aprendeu com avô; especialista diz que para atravessar gerações é preciso reconhecer dificuldades

Aos 29 anos de idade, Alceu Mancini mantém uma sapataria, negócio fundado pelo bisavô, que veio da Itália e fundou uma oficina na região de Ribeirão Preto, que já completa 88 anos. Um desafio para quem dirige um negócio familiar, já que, de acordo com a empresa de consultoria Strategos, apenas 3% dos negócios alcançam a terceira geração.

Alceu é ambicioso. Ele, que há um ano resolveu abrir uma oficina em Ribeirão Preto – a fundada pelo bisavô fica em Monte Azul Paulista – já planeja ampliar o negócio. Porém, ele esbarra na falta mão-de-obra especializada no mercado de trabalho. Tanto que ele mesmo teve de ensinar as técnicas para a mãe, Jandira, e para os irmãos.

“É bem difícil de achar gente para trabalhar com isso. Tem a mãe, que, quando meu avô faleceu, eu tive de ensinar a ela e aos meus irmãos, porque não encontramos ninguém”, explica o sapateiro, que conta que começou a trabalhar na área com apenas nove anos de idade, aprendendo o ofício com o avô.

“É uma profissão que eu gosto, eu não me vejo fazendo outra coisa, não sei se é porque eu fui criado neste negócio, mas não me vejo em outro lugar. Eu faço tudo, fabricamos botas, consertos. Aprendi tudo com o meu avô”, diz.

Ele acredita que o fato de ser uma profissão com ares de passado não atrapalha de forma alguma os negócios, já que, de acordo com ele, ainda oferece um serviço que muitas pessoas ainda procuram, como pequenos consertos e até fabricação de calçados. “Aqui na região não tem. As pessoas procuram para fazer de tudo”, comenta.

Sobrevivendo através dos tempos

O consultor e professor universitário Murilo Carneiro, blogueiro do Portal Revide, aponta que para os negócios familiares poderem se sustentar atravessando gerações, é preciso que o empreendedor conheça as necessidades da empresa e saiba quais são as dificuldades pelas quais pode passar, assim consegue encontrar soluções para manter o negócio.

“Normalmente, os empreendedores que montam empresas do nada, eles têm o ‘olho do tigre’, a vontade de dar certo e fazer aquilo acontecer. Há exceções, mas os empreendedores vêm de situações difíceis, e eles tem a gana pelo negócio. O primeiro erro que eles cometem é ‘eu não quero que os meus filhos passem pelas dificuldades pelo que passei’. Ele vai superprotegendo os futuros herdeiros, não deixando vivenciar a empresa e criar essa paixão pelo negócios. Os próprios fundadores acabam não formando seus filhos para essa sucessão. E acaba não formando bons sucessores”, analisa Carneiro.

Além disso, o especialista acredita que o ideal é que as empresas familiares não se mantenham estáveis e busquem sempre crescer, como pretende Alceu. Para Carneiro, esse estágio só é alcançado quando se passa enxergar o negócio como um meio profissionalizado, assim, é preciso buscar pessoas no mercado de trabalho que tenham capacitação, fazendo o empreendimento se expandir.

“E é importante, porque as empresas chegam em um momento em que precisam se profissionalizar. Uma dica é trazer para a gestão do negócio pessoas de fora, mesmo que não sejam da família”, explica.


Foto: Arquivo pessoal

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