
Novo escritório promete estreitar relação entre empresas de Ribeirão Preto e do Canadá
Iniciativa aposta em potencial do mercado canadense e capacidade da indústria, do agronegócio e das startups da região
O Canadá fica a mais de 8 mil km de Ribeirão Preto, mas para alguns empresários da região, essa distância pode ficar menor. A Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) inaugurou recentemente um escritório focado em facilitar negócios e conectar empresas locais e canadenses. Chamado de Chapter Ribeirão Preto, o escritório é o primeiro fora das capitais brasileiras. “O potencial de geração de oportunidades para ambos os lados é enorme. Ribeirão Preto é um polo econômico relevante e a presença local da CCBC permite um mapeamento mais assertivo das oportunidades para empresas canadenses e brasileiras”, afirma Hilton Nascimento, diretor estatutário comercial da CCBC.
Rodrigo Forcenette, coordenador do escritório, destaca o caráter prático da iniciativa: “O Chapter servirá como uma ponte para empresas que buscam expandir suas operações para o Canadá, oferecendo suporte jurídico, inteligência de mercado e conexões estratégicas”. De grandes produtores agrícolas a startups, o objetivo, segundo os responsáveis, é estabelecer um corredor direto de oportunidades com o mercado canadense.
O impacto do novo espaço não deve ser imediato. “Vamos desburocratizar os processos e criar um ambiente mais favorável para novos negócios. A Câmara Municipal de Ribeirão Preto deve aprovar ajustes na legislação em menos de 60 dias”, afirmou o prefeito Ricardo Silva durante a inauguração do espaço, que fica no escritório Brasil Salomão e Matthes Advocacia, na zona leste da cidade. Evandro Grili, sócio do escritório, explica que a presença da CCBC na região pode significar um diferencial competitivo para as empresas que buscam internacionalização. “Os empresários terão acesso direto a missões comerciais, rodadas de negócios e informações estratégicas sobre regulamentações e incentivos fiscais no Canadá, o que reduz incertezas e acelera processos de expansão”, explica o advogado.
Outro aspecto esperado é o fortalecimento do networking empresarial. A criação de eventos exclusivos, encontros bilaterais e programas de intercâmbio entre empresários dos dois países está na agenda da CCBC. “Nosso objetivo é que empresários brasileiros e canadenses possam trocar experiências e consolidar relações comerciais de longo prazo”, reforça Hilton Nascimento.
O Chapter também servirá como um ponto de apoio logístico para empresários que necessitam de consultoria especializada sobre regulamentação canadense. “As diferenças tributárias e regulatórias podem ser um entrave para novos negócios. Nosso papel é oferecer um suporte completo para que essas barreiras sejam superadas com eficiência”, explica Forcenette.
Os setores que mais devem se beneficiar desta parceria são o agronegócio, a tecnologia, a saúde e a logística. “O Canadá é um país altamente inovador e sua demanda por produtos e serviços de alta qualidade coincide com a expertise de diversas empresas em Ribeirão Preto”, explica Daniella Leite, diretora de negócios da CCBC.
O agronegócio, setor que move bilhões na economia da região, pode expandir suas exportações para o mercado canadense, especialmente no segmento de biocombustíveis e tecnologia agrícola. “A expertise de Ribeirão Preto em etanol e biometano é um diferencial que pode posicionar as empresas da região como líderes na exportação de energia limpa para o Canadá”, afirma André Ignacio, diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo de Ribeirão Preto (Ciesp-RP).
Em 2024, a balança comercial Brasil- -Canadá foi responsável por gerar mais de R$ 1,1 bilhão em exportação e R$ 70,8 milhões em importação somente para o agronegócio. Apenas a região de Ribeirão Preto movimentou R$ 4,9 bilhões. Além disso, o número de agritechs (startups dedicadas à área) cresceu 34% nos últimos anos. “Estamos ansiosos para falar para o governo do Canadá explorar mais as oportunidades aqui nesta região”, enfatizou Anouk Bergeron-Laliberte, Senior Trade Commissioner no Consulado Geral do Canadá em São Paulo, que esteve presente à solenidade de inauguração do Chapter Ribeirão Preto.
No setor de tecnologia, startups voltadas para inteligência artificial, softwares para automação e biotecnologia encontram um ambiente promissor no Canadá. “A economia canadense está cada vez mais voltada para a inovação, e há diversos programas de aceleração e financiamento para startups estrangeiras que desejam expandir suas operações no país”, comenta Saulo de Souza Rodrigues, gerente da Incubadora do Supera Parque.
Além disso, a área de logística e transporte tem muito a ganhar. “O Canadá depende de uma cadeia de suprimentos eficiente para manter suas operações industriais e comerciais em pleno funcionamento. Empresas brasileiras que oferecem soluções em transporte e armazenagem podem encontrar um nicho de mercado vantajoso”, afirma Daniella Leite.
NÚMEROS E PERSPECTIVAS
Em 2024, o comércio entre Ribeirão Preto e Canadá movimentou cerca de US$ 2 milhões, mas a tendência é de crescimento exponencial com o novo Chapter. O mercado canadense já é um dos mais receptivos para produtos brasileiros. No total, as trocas comerciais entre Brasil e Canadá alcançaram US$ 7,2 bilhões no último ano, sendo que as exportações brasileiras totalizaram US$ 4,1 bilhões. “A participação de Ribeirão Preto nesses números ainda é modesta, mas o potencial de crescimento é enorme, pois esperamos ajudar a conectar empresários locais com o que há de mais promissor no comércio internacional”, afirma Forcenette.
O Brasil exporta principalmente minérios, produtos agrícolas e industrializados para o Canadá, enquanto importa polímeros, fertilizantes e tecnologias. Com a presença da CCBC em Ribeirão Preto, espera-se que novos negócios surjam em áreas como pesquisa e desenvolvimento, energias renováveis e produtos farmacêuticos.
Empresas que antes não consideravam a possibilidade de atuar fora do Brasil agora têm um suporte estratégico para viabilizar essa expansão. “Com um planejamento estruturado e apoio da CCBC, os empresários podem acessar um mercado de alto poder aquisitivo e diversificado como o canadense”, ressalta Daniella Leite.
Além do suporte prático, a presença do Chapter incentiva a aproximação de governos e instituições financeiras que podem facilitar investimentos bilaterais. “Uma de nossas metas é ampliar os convênios entre instituições de pesquisa, órgãos governamentais e empresas, promovendo acordos de cooperação tecnológica e inovação”, complementa Saulo Rodrigues.
O setor educacional também entra nessa equação. Universidades e centros de pesquisa de Ribeirão Preto têm oportunidades de intercâmbio com instituições canadenses, criando um ambiente favorável para troca de conhecimento e desenvolvimento de novos projetos. “A inovação nasce do conhecimento e, com essa conexão mais forte, esperamos que novas ideias e negócios surjam entre Brasil e Canadá”, afirma Hilton Nascimento.
A expectativa dos envolvidos é que a presença do Chapter Ribeirão Preto gere um ciclo virtuoso para os negócios da região. “Empresas que nunca pensaram em internacionalização agora têm um suporte especializado para dar esse passo”, destaca Forcenette.
Já Henrique Reis, coordenador de Internacionalização do Supera Parque, reforça que as startups de Ribeirão Preto possuem conexões já estabelecidas com mercados como Estados Unidos, Portugal, Espanha, América Latina e China. “Com a estruturação do Chapter em Ribeirão Preto, a expectativa é de que haja mais um ambiente favorável para startups interessadas em expandir sua atuação internacionalmente”, diz.
DESAFIOS
Burocracia, barreiras culturais e necessidade de adaptação ao mercado canadense são obstáculos históricos. “O momento exige estratégia e uma visão de longo prazo. Estamos diante de um novo cenário econômico global e Ribeirão Preto tem tudo para se destacar”, conclui André Ignacio.
Hilton lembra que o momento político e econômico no mundo é cada vez mais complexo. “O atual cenário geopolítico influi significativamente nos processos de tomada de decisões para realização de investimentos e desenvolvimento de parcerias internacionais”, explica.
“A gente sabe o quanto isso é importante e o quanto é difícil ao mesmo tempo; só que as portas se abrem quando há vontade de fazer negócios internacionais e existem parceiros que ajudam a dar este passo”, acredita Saulo de Souza Rodrigues.
“Apesar de todos os meios existentes para divulgação de informações sobre internacionalização de negócios, sentimos que as equipes de gestão de pequenas e médias empresas brasileiras ainda se mantêm muito focadas no corporativo operacional”, conta Hilton. Existem caminhos disponíveis para serem trilhados e que levam à construção de parcerias de sucesso entre empresas de diferentes países, mas essas iniciativas se perdem no dia a dia dos gestores. Mercados competitivos, esforços para redução de custos priorizados em relação ao desenvolvimento e aplicação de estratégias para aumento de vendas criam ambientes não favoráveis para a implementação de parcerias internacionais, que trarão resultados a médio prazo. “A chave para a mudança de comportamento dos gestores e obtenção de sucesso nas parcerias entre empresas brasileiras e canadenses passa pela criação de linhas de crédito de fácil acesso, onde financiamentos de projetos ligados a internacionalização de empresas criam estruturas dedicadas para o novo negócio e que não consomem os recursos atuais existentes, não impactando negativamente nas receitas correntes das empresas”, conclui o diretor comercial da CBCC.
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Fotos: Felipe Denuzzo