Representatividade feminina

Representatividade feminina

Mercado de investimentos passa por uma transformação protagonizada por mulheres como Mariana Bergamini, Patrícia Moreira e Silvana Coselli Sborgia

*Matéria publicada na edição 1097 da revista Revide.

Vivemos um período de mudanças significativas em diversos aspectos da humanidade. Um deles, sem dúvida, é a questão de igualdade de gênero. Essa é uma batalha antiga e, para quem tiver interesse em se aprofundar mais no assunto, existe um vasto arsenal de registros que merecem ser analisados com atenção.

Fato é que, uma mulher vivendo, hoje, em um país em desenvolvimento como o Brasil, certamente tem um futuro com mais oportunidades do que tiveram sua mãe e sua avó. Isso porque as sementes plantadas no passado, de certa forma, restauraram a esperança, galgaram espaço e possibilitaram o acesso à melhores condições, especialmente no que diz respeito à educação. Empoderadas, as mulheres mostram sua força intelectual e desencadeiam uma profunda reestruturação em setores antes dominados pelos homens como, por exemplo, o mercado financeiro. 

Elas querem entender, querem participar e querem resultado, tanto como profissionais da área, quanto como investidoras. Esse movimento aparece nas estatísticas dos órgãos especializados. O estudo Raio-X do Investidor 2021, realizado anualmente pela Anbima, apontou que 47% dos brasileiros que investem em produtos financeiros são mulheres. Na B3, em agosto, o público feminino representava 27,94% do total de investidores, somando 1.094.926 CPFs cadastrados na bolsa de valores.

Outra informação que pode surpreender os leitores: na corretora digital NuInvest, o número de mulheres investidoras com mais de 60 anos cresceu 50% nos últimos dois anos. Elas, inclusive, já representam 45% do total de investidores dessa faixa etária na plataforma e têm R$ 1,3 bilhão sob custódia (dado divulgado em agosto de 2021). Para compor esta capa, convidamos três grandes nomes do setor: Mariana Bergamini, Patrícia Moreira e Silvana Coselli Sborgia. Elas relembram o início da carreira e analisam o cenário atual, compartilhando os principais desafios e conquistas.

PATRÍCIA MOREIRA

Patricia Moreira construiu uma trajetória bem-sucedida nesse universo

Formada em Administração de Empresas pela Unaerp, e com diversos cursos nas áreas de Finanças, Gestão, Mercado de Capitais e Empreendedorismo, entre outros, ela é, atualmente, diretora do Banco Safra S.A. e responsável pelo Large Corporate Brasil (corporações privadas com faturamento anual superior a R$3bi) base São Paulo.

”Entrei no mercado financeiro aos 19 anos como Assistente Comercial Jr. na Unidade Corporate Bank do extinto Banco Nacional S.A. em Ribeirão Preto, com forte intuito de me inserir em um setor altamente competitivo, inovador e dinâmico. Sempre tive muita sede de buscar meu próprio espaço no mercado de trabalho. Estar inserida neste mercado representa você acordar atenta, com muita vontade de fazer acontecer e permanentemente em buscas de resultados de alto valor agregado na relação entre Banco & Cliente”, descreve.

Para quem não está tão familiarizado com o assunto, a especialista traz uma breve contextualização. “O setor financeiro tem papel fundamental de fomento. Investimentos de curto, médio e longo prazo, busca de soluções para as corporações que vão de capital de giro, comércio exterior, mercado de capitais, captação e recursos, M&A (fusões e aquisições), estruturação de dívidas, gestão de ativos e uma infinidade de produtos, ferramentas e serviços que agilizam e dão suporte à atividade produtiva que impulsiona o país e o mundo”, frisa.

Sobre a questão de gênero, ela confirma que, assim como em outros setores, a presença masculina é, historicamente, predominante. “Diversos fatores levaram a isto, mas, o que importa mesmo é que as mulheres perceberam que podiam ir além do cuidado com a família e com o lar. A mudança aconteceu quando elas aceitaram o desafio de irem à luta sem nenhum tipo de preocupações comparativas e adjetivas. Não devemos mais tratar isto como tendência e sim como realidade. Mérito das próprias mulheres que, a cada dia, vem provando seu valor com muito foco, objetividade e uma certa dose de intuição”, finaliza.

Bate bola

Uma leitura indispensável: “A Arte da Guerra”, obra literária do pensador chinês Sun Tzu, escrito por volta do ano 500 a.C. “Mulher Alfa”, escrito por Cristian Xavier de Brito, retrato da mulher brasileira contemporânea, sua autenticidade, criatividade e resiliência para liderar vida pessoal e profissional.

Um curso necessário: preparatório para CPA 10 (iniciantes) e CPA20 (fase posterior), ambos ministrados pela ANBID. ANCORD/CVM, assessoria de investimentos. Diversos outros cursos preparatórios também disponíveis no mercado.

Dicas para mulheres entrarem no mercado: Seja no mercado financeiro ou em qualquer outro mercado, se valorizem como pessoa, como mulher, como profissional. Tenha muito foco e determinação. Otimize seu tempo, saiba dividir espaços para cuidar de você, da sua família e da sua profissão. 

MARIANA BERGAMINI

Mariana declara sua paixão pelo mercado de investimentos: realização profissional

Formada em Ciências Contábeis com pós-graduação em Gestão de Pessoas e liderança, Mariana Bergamini é outro nome forte nesse segmento. Depois de atuar por 10 anos como gerente bancária em instituições como Santander e Bradesco, ela se tornou assessora de investimentos private e sócia da Blue3 Investimentos, um dos maiores escritórios da XP Inc. no Brasil, eleito, em 2021, o melhor escritório do país. “Acredito que ajudar os brasileiros a investirem melhor é uma causa muito nobre. É uma grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, um grande propósito da minha vida profissional.”, afirma a especialista.

Questionada sobre as razões que elevaram esse setor aos holofotes nos últimos anos, ela responde: “O amplo nível de informações disponíveis nos meios de comunicação e o crescimento de assessores de investimentos no Brasil ajudam a causar essa transformação na vida das pessoas, que buscam melhores alternativas de investir seu capital. O acesso ao mercado é aberto para todos, de todas as classes, para quem já tem ou quer começar, de forma prática, transparente e simples. Meu papel, como profissional da área, é identificar e oferecer aos meus clientes as melhores oportunidades, de acordo com cada perfil e prazo de investimento”, detalha.

Quanto ao crescimento da representatividade feminina no mercado, Mariana explica que existe um estudo do Goldman Sachs onde os fundos de ações geridos por mulheres tiveram melhor desempenho durante todo o ano de 2020, mesmo em meio a alta volatilidade por conta da Covid-19. “As mulheres que produzem conteúdo sobre educação financeira nas redes sociais, também ajudam a impulsionar a presença feminina no segmento”, completa. Mais um dado que vale a pena ser mencionado: a taxa do número de mulheres investindo na bolsa de valores chegou a ultrapassar 100% em 2020, segundo informações da B3. “É nítido que as mulheres passaram a se aprimorar no assunto e, assim, buscar sua segurança e independência financeira”, finaliza.

Bate-bola

Um livro indispensável: “Warren Buffet investe como as mulheres” – um livro de cabeceira que tenho e que recomendo para mulheres que querem investir e atuar no mercado. É simplesmente o maior investidor do mundo assumindo e comprovando que as mulheres investem melhor do que a maioria dos homens, Ele mesmo se utiliza desse instinto feminino na hora de decidir onde investir.

Um curso necessário: O curso “Formação de Investidores” desenvolvido pela Xpeed School, a escola on-line de educação financeira da XP Inc. – na minha opinião é o curso mais completo da atualidade sobre o tema.

Uma dica para uma mulher que queira entrar nesse mercado: Conhecimento é fundamental para quem quer fazer parte. Propósito, intensidade e espírito empreendedor também, pois o jeitinho feminino de fazer sempre o melhor já existe em cada uma delas.

SILVANA COSELLI SBORGIA

O que mais encanta Silvana é que o setor vai além dos números, estatísticas e operações

Há 26 anos, Silvana Coselli Sborgia atua na instituição financeira Banco Ribeirão Preto S/A- Banco BRP. Administradora de empresas e pós-graduada em Finanças pela FGV, ela ocupa o cargo de Diretora Administrativa/Jurídica. “Sempre atuei na área financeira, desde o tempo que trabalhei na empresa comercial da minha família. Era responsável pelo planejamento financeiro, tributário e estratégico da empresa, bem como pelo relacionamento com bancos e fornecedores. Estive diretamente envolvida desde a fundação do Banco Ribeirão Preto no ano de 1995, participando da idealização de um banco diferenciado na região. Nosso diferencial sempre foi o relacionamento com os clientes, estando muito próximo dos mesmos”, revela.

O que mais a encanta no trabalho é que, diferente do que muitas pessoas pensam, ele vai muito além dos números, estatísticas e operações. “Estar inserida no universo financeiro representa uma oportunidade de estar em contato direto com assuntos econômicos (tanto da economia nacional, quanto internacional), empresariais, estratégicos e de gestão de pessoas. Por isso que digo que o mercado financeiro é tão dinâmico e exige das pessoas nele envolvidas um dinamismo compatível. Por um lado, assumimos a responsabilidade de conhecer e de nos envolver diretamente com as necessidades dos nossos clientes, sejam pessoas físicas ou jurídicas, e, por outro lado, de buscar ferramentas para atender tais necessidades e expectativas, o que acredito seja possível através de muito estudo do mercado presente e de projeções assertivas para o futuro. Estamos em constante aprendizado para fazer frente a esse desafio”, declara Silvana.

A diretora comenta que a questão de gênero nunca foi um ponto relevante nas contratações do banco. “No meu ambiente, atualmente, a força de trabalho feminina representa 50%. A mulher possui algumas características pessoais e emocionais que, a meu ver, complementam o modo de atuar dos homens no trabalho. Vejo que as mulheres têm demonstrado uma atuação muito eficaz e perfeccionista neste mundo de trabalho. Entendo que a representatividade das mulheres é, não só de crescimento, mas de fortificação. Quem sabe um dia de predominância. Acredito que as mulheres que querem entrar no mercado financeiro devem sonhar alto, assumir os riscos e se lançar em busca de seus objetivos sem medo”, incentiva. 

Bate bola

Um livro indispensável: "Faça acontece: mulheres, trabalho e a vontade de liderar”, de Sheryl Sandberg. 

Um curso necessário: Pós-Graduação em finanças e gestão de pessoas

Uma dica para uma mulher que queira entrar nesse mercado: Não almejar o cargo de outrem (seja homem ou mulher); é preciso ter a conscientização de que a conquista de um espaço de liderança e de respeito no mercado financeiro depende da capacitação, dedicação e persistência, independente do gênero.


Fotos: Luan Porto/Revide

Compartilhar: