Ressaca econômica
Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Ressaca econômica

Alta na inflação deve gerar impactos nas contas de início de ano; contratos de aluguel e materiais escolares podem ter aumentos na casa dos dois dígitos percentuais

*Matéria publicada na edição 1097 da revista Revide.

O governo federal dobrou a meta. Só que essa não é uma boa notícia. O Banco Central (BC) determinou para 2021 uma meta de 3,75% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – o indicador oficial da inflação no Brasil. O alvo indicado pelo BC possui uma margem de flutuação, a inflação poderia variar entre 2,5% e 5,25%. Porém, ela fechou o ano em 10,06%, a maior alta desde 2015. Quando o teto é rompido, o Banco Central precisa escrever uma carta pública explicando as razões.

Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o estouro da meta foi causado pelos “sucessivos choques de custos” e ressaltou que a alta se trata de um movimento observado também em outros países. “De fato, a aceleração significativa da inflação em 2021 para níveis superiores às metas foi um fenômeno global, atingindo a maioria dos países avançados e emergentes”, escreveu. O preço das commodities, energia elétrica e combustíveis foram outros fatores que empurram o índice além do previsto. 

Janeiro tende a ser um mês em que se gasta mais com reajustes, contas, material escolar etc. Não bastasse isso, a disparada no Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) pode afetar o mercado imobiliário. Isso porque o índice é o principal indexador do preço dos aluguéis no país. Se ele sobe, os contratos de aluguéis ficam mais caros. A Lei do Inquilino não obriga os locatários a determinarem o reajuste do valor pago pelo aluguel com base no IGPM, apesar de lhe conceder o direito de reajustar o valor anualmente a partir de um mês de vencimento do contrato estabelecido.

O índice caiu nas graças do mercado imobiliário por alguns motivos. Primeiro porque os proprietários precisavam de um índice que saísse no início do mês, data comumente utilizada para vencimento de contratos; o IGP-M sempre é publicado no final do mês anterior, o que atende esse requisito. Outro fator pode ser a desvinculação com o poder público. O índice é publicado por uma instituição privada e de renome no mercado. O IGP-M de dezembro de 2021 teve alta de 0,87%, fechando em 17,7% o acumulado de 12 meses. Além dos aluguéis, índice é o principal indexador de tarifas de serviços como, por exemplo, internet, TV por assinatura, mensalidades escolares, planos de saúde etc. 

Luciano Nakabashi e Alan RibeiroNormalização  

Para o economista e professor da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), Luciano Nakabashi, a alta no IGP-M foi causada por uma série de fatores. Entre eles, a depreciação cambial, com a desvalorização do real em relação ao dólar por conta da desconfiança do mercado internacional com a instabilidade da economia brasileira. Ademais, a alta global dos commodities e a interrupção de importantes etapas nas cadeias produtivas globais são outros fatores externos que prejudicaram o indicador. Por fim, questões internas como o preço da energia e combustíveis – este último ligado ao câmbio por conta da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobrás –, além da fuga de investimentos, juros altos entre outros motivos precisam ser considerados. 

Porém, o economista avalia que a subida acentuada dos preços deve encontrar um teto em 2022, dando indícios de estabilização e queda ao decorrer do ano. “Existe uma tendência maior de normalização para 2022. O câmbio também não deve continuar se depreciando. Aliado ao aumento de juros, isso deve conseguir controlar o avanço da inflação”, afirma Nakabashi. A estimativa de Nakabashi encontra eco em outras análises feitas pelo mercado. De acordo com o BC, a projeção dos analistas para a inflação deste ano é de 5,15%. Os dados integram relatório Focus, publicado na última segunda-feira, 24, a pesquisa contou com a participação de uma centena de instituições financeiras. 

Volta às aulas 

Além da possibilidade de reajustes na casa dos dois dígitos das mensalidades das escolas, o preço dos materiais escolares também deve assustar os pais. De acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (ABFIAE), o aumento pode chegar a 30%. Para auxiliar quem está nessa situação, o contador e professor de Ciências Contábeis da Estácio, Alan Ribeiro, separou algumas recomendações. “Uma das alternativas é reaproveitar os artigos que foram pouco utilizados no ano anterior, ou colocar em uso aqueles excedentes, como lápis de cor, borrachas, canetas, apontador e lapiseiras. Antes de sair às compras, faça uma lista dos itens que estão em bom estado de conservação, assim evita-se o desperdício”, indica o professor. Realizar as compras pela internet também pode ser vantajoso, mas é preciso ficar atento ao prazo de entrega para não correr o risco de as aulas começarem sem o material ter sido entregue.


Fotos: Agência Brasil/ Revide

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