Alunos de escola de Ribeirão Preto conquistam 4º lugar no xadrez em Jogos Escolares
"Quarto lugar tem sabor de ouro", diz professora idealizadora de projeto

Alunos de escola de Ribeirão Preto conquistam 4º lugar no xadrez em Jogos Escolares

Resultado é fruto de projeto que juntou professora, enxadrista que já disputou mundial e estudante que quer transformar escola pública

Os alunos da Escola Estadual Rafael Leme Franco, que fica no Jardim Antártica, em Ribeirão Preto, conseguiram a quarta colocação nos Jogos Escolares do estado de São Paulo, disputando xadrez. O grande resultado é fruto de um projeto de uma professora de educação física, que há sete anos começou a usar o esporte da mente para ajudar no desenvolvimento dos estudantes.

A ideia partiu da professora Rosemary Carvalho, que diz que o quarto lugar conquistado nos jogos tem sabor de ouro. Isso porque foi conquistado logo no primeiro ano em que a escola passou a participar das competições com os alunos que estão no projeto – hoje são 30 jovens que participam das aulas extraclasse de xadrez.

“Eu tenho essa vontade de ensinar. Comecei o projeto assim que comprei um livro de regras, fui evoluindo junto com os alunos e hoje eles são melhores do que eu”, comenta a professora, que conta com orgulho que os alunos trocaram até as férias para treinar e poder fazer bonito em Praia Grande, município do litoral paulista, que foi sede da edição 2017 dos jogos.

Os conquistadores do feito foram os alunos Samuel Elias de Oliveira, Hugo Moreira de Almeida, Ivo Henrique Siqueira, Allan Oliveira Dias e Eduardo Ribeiro Ramos, que conquistaram o resultado por equipes, e Anna Luiza Queiroz Borges (única menina que foi à competição), 11ª colocada no individual geral.

“O projeto vai de vento em popa”, comenta Rose, que para pôr as ideias em prática contou com ajuda de pais de alunos e voluntários para treinarem os estudantes. Entre eles está o enxadrista, campeão e professor Matheus Nunes Dias, que já até representou o Brasil em Mundial, e o estudante de química, e também enxadrista, Paulo Henrique Rodrigues.

Nunes começou no xadrez com 10 anos de idade e hoje, aos 22, é um dos destaques do País na categoria, tanto que vai participar do Pan-Americano da modalidade, que acontece em novembro, no Equador. Ele levou para a escola as técnicas para ajudar a garotada nos treinos.

“A condição que eles tinham para praticar o xadrez era bem complicada, porque as aulas são caras, e assim que fui convidado, fui dar uma mãozinha, até porque o xadrez me dá um prazer muito grande”, comenta o jovem, que em apenas um mês de treinamento conseguiu fazer com que os alunos se desafiassem mais.

“Pego muito no pé. Eu sou uma pessoa muito exigente. Pedia para que cada me enviasse os vídeos deles jogando para poder ver onde estavam os erros para que fossem corrigidos e os acertos para aprimorar”, aponta Matheus.

Outro responsável pelo resultado é Paulo Henrique, que é voluntário no projeto e, sempre que pode, corre atrás para fazê-lo continuar. Ele tem a pretensão de criar uma cultura enxadrista na escola. “Só faço aquilo que gosto, mas foi um grande desafio prepará-los, já que eles não estavam acostumados com o ritmo encontrado na competição. É como se um jogador de futsal fosse jogar no campo”, compara o estudante, que conta as dificuldades que passou no projeto.

Um dos problemas que ele encontrou foi a falta de estrutura da escola para o xadrez, que embora pareça ser um esporte simples, necessita de equipamentos precisos para tirar o melhor de cada pessoa, e que muitas vezes são caros. Além disso, ele teve de correr atrás de apoio para manter a equipe que foi a Praia Grande nos dias de competição.

Para que a galera pudesse competir, ele contou com a ajuda de amigos para levantar o dinheiro. “Esses alunos são muito empenhados. Alguns, que não conheciam a praia, deixavam de conhecer, para poder treinar”, comenta Paulo Henrique, que avalia que o esforço valeu a pena.

Paulo aponta que o xadrez ajuda a desenvolver a capacidade cognitiva de quem pratica, ajudando na hora de tomar decisões, permitindo que se pense diversos cenários, até encontrar a melhor solução.

“Quero que, além deste resultado, mantenha-se uma sequência para criar uma cultura dentro da escola e quebrar as barreiras que os estudantes da escola pública encontram ao longo do caminho, em razão do sucateamento e falta de apoio. Eles mostraram que podem fazer qualquer coisa, mesmo sem qualquer respaldo”, diz o jovem.


Foto: Arquivo pessoal

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