As novas metodologias de ensino da Escola Thomaz Alberto Whatelly

As novas metodologias de ensino da Escola Thomaz Alberto Whatelly

Centro de Inovação da Educação Básica Paulista integra novas metodologias de ensino ao currículo dos alunos

O início do ano letivo em 2022 marcou o retorno presencial dos alunos às escolas, mas também a implantação do “novo ensino médio” em todo o país. Criado por uma medida provisória em 2016, transformada em lei federal em 2017, o novo ensino médio propõe uma reforma no ensino. Entre as principais mudanças estão o aumento da carga horária e a inclusão das matérias optativas nas quais os alunos poderão se aprofundar em áreas como linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Com o novo modelo, espera-se que parte das aulas seja semelhante a todos os estudantes do país, regidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A ideia é formar alunos preparados para a vida, com conhecimentos acadêmicos, sociais e voltados para o mercado de trabalho. Uma formação ampla ao invés de uma voltada somente para fazer mais pontos no vestibular. Para que essa reforma funcione, será necessário vencer alguns obstáculos já conhecidos da educação brasileira. Diminuir a desigualdade entre o ensino público e o privado é um deles. Enquanto as escolas particulares discutem formas inovadoras de aplicar e aprimorar o novo sistema, escolas públicas se questionam como conseguirão seguir as novas diretrizes. O risco é que a BNCC não seja tão “comum” assim.

 

Em Ribeirão Preto, uma iniciativa positiva do governo do Estado de São Paulo tem apontado na direção de um futuro promissor. Situado na Escola Estadual Dr. Thomaz Alberto Whatelly, nos Campos Elísios, o Centro de Inovação da Educação Básica Paulista, o CIEBP, oferece um ambiente propício ao desenvolvimento de habilidades por meio de sete espaços formativos distintos: Hub de Inovação, Programação Descomplicada, Cultura Maker, Cultura Digital, Robótica, Prototipagem e Fabricação Digital. Cada um desses espaços é projetado para proporcionar experiências educacionais únicas e enriquecedoras por meio de trilhas e mentorias de projetos. Com metodologias ativas e uma, o CIEBP visa oferecer uma perspectiva única a estudantes e professores das redes públicas de ensino estadual e municipal. Todo o pavimento superior da escola, paralelo à Rua Marquês de Pombal, foi reformado e, desde abril de 2022, abriga o CIEBP.

 

A estrutura, de fato, é capaz de fazer frente a algumas escolas particulares. Todavia, existem, em todo o Estado de São Paulo, 18 unidades do CIEBP, sendo a maioria na região metropolitana de São Paulo. Para que outras escolas, da rede estadual e municipal usufruam desse espaço educativo, é necessário o apoio das unidades escolares e, o ainda inexistente, apoio financeiro da iniciativa privada. Isso porque, alunos de outras escolas de Ribeirão Preto e da região podem organizar excursões para o local, sendo necessário o custeio do transporte. "Nesta semana, estamos atendendo a escola estadual Professor Jorge Rodini Luiz, do Jardim Procópio. Todos esses alunos terão formações e mentorias em cada um dos nossos espaços formativos, para desenvolvimento de habilidades e competências", explica Pedro Paulo Lima Barbosa, coordenador do CIEBP. 

"A beleza desse espaço consiste em pensar de que forma os materiais não estruturados nos ajudam a pensar a aprendizagem do estudante", acrescenta Barbosa. Materiais não estruturados na educação são recursos flexíveis que não seguem uma sequência fixa, permitindo aos alunos explorar e construir conhecimento de forma mais livre e adaptativa. Exemplos incluem jogos educativos, simulações digitais, projetos de pesquisa, vídeos educativos, recursos online interativos e atividades práticas como experimentos científicos, arte e artesanato, e projetos de engenharia. Esses recursos incentivam a criatividade, a experimentação e a descoberta ativa.

 

Karina Isvertilane Teixeira Goncalves, diretora da escola, destaca que com o CIEBP, os alunos podem ver na prática o conteúdo teórico aprendido em sala. "Esse espaço veio com uma proposta de inovação para áreas da tecnologia e desenvolvimento de projetos. Os alunos ficam curiosos, eles saem daquela rotina de lousa, giz e caderno e têm acesso a um outro mundo", destaca. A diretora ainda reforça que o espaço vem para auxiliar o cumprimento do novo currículo paulista. "Todo planejamento e desenvolvimento das atividades pedagógicas do CIEBP estão ligadas aos itinerários do novo ensino médio, o que agregou muito no desenvolvimento dos alunos", conclui Karina.

 

ESPAÇO DE POSSIBILIDADES

O CIEBP tem feito sucesso com o público alvo: os alunos.   As estudantes Evelyn Beatriz Marques Desidério e Beatriz Vitória Marchetti, ambas de 17 anos, optaram pelo currículo escolar integrado com o ensino técnico de desenvolvimento de sistemas. Apesar de não ser a primeira opção delas para seguir carreira, ambas entende que os conhecimentos em tecnologia da informação são valiosas para o futuro. Evlyn almeja cursar Fisioterapia, mas a rotina extenuante impede a jovem de se dedicar mais aos estudos e prestar um vestibular este. Por dia, Evleyn percorre cerca de 40 km. Isso porque, ela precisa sair do Parque dos Pinus, às 6h30 da manhã, para ir até a região da Avenida Dr. Celso Charuri onde faz o curso remunerado de mecânica de usinagem pela empresa da qual é contratada. Após o término do curso, às 11h30, ela se desloca até a escola Thomaz Alberto Whately, onde assiste às aulas até às 18h35, chegando em casa por volta das 20h. "A minha primeira opção é a fisioterapia, pretendo fazer um vestibular quando a rotina estiver menos corrida. Se eu não conseguir, daí posso ver algo na área de Tecnologia da Informação (TI)", explica.

 

Para Débora, As alunas ingressaram no primeiro ano do ensino médio em 2022, e viram o CIEBP ser inaugurado. Para Beatriz, o espaço ainda tem potencialidades a serem exploradas. "Eu gosto muito do CIEBP, da ideia dele e das possibilidades. A única coisa que eu melhoraria, mas acho que não depende tanto do CIEBP, é que poderíamos ir lá mais vezes. É um espaço muito legal e que dá para ser muito melhor aproveitado", pontua a aluna. Para Evelyn, os professores precisam se adaptar ainda às possibilidades do espaço e das novas dinâmicas em sala de aula. "Tivemos muitos convites por parte dos professores do CIEBP, mas gostaríamos de vir para cá mais vezes", acrescenta.

 

Estudantes Evelyn e Beatriz falam sobre os benefícios e pontos de melhoria do CIEBP

 

ESPAÇOS

O CIEBP é dividido em sete espaços com propostas interdisciplinares e de metodologias ativas.

 

Hub de Inovação

Espaço para EdTechs, educadores, estudantes e empreendedores desenvolverem, validarem e colocarem em prática ideias inovadoras e, assim, contribuírem para a transformação da Educação Pública de São Paulo.

 

Programação Descomplicada

Espaço de imaginação, criatividade e raciocínio lógico para desenvolver atividades plugadas e desplugadas, de maneira lúdica e criativa, a fim de todos compreenderem o pensamento computacional.

 

Estúdio

Neste espaço, as ideias são transformadas em formato multimídia, com o desenvolvimento de atividades alinhadas à Educomunicação, contando com infraestrutura básica para a realização de gravação, edição e transmissão de conteúdos audiovisuais.

 

Cultura Maker

O ambiente tem como foco a Cultura Maker, que contempla o fazer, o construir, o experimentar e o criar, utilizando sucata e componentes eletrônicos no desenvolvimento de robôs e protótipos, bem como a programação.

 

Cultura Digital

Espaço para o desenvolvimento de atividades alinhadas à Educomunicação, produções audiovisuais e pensamento computacional, por meio do uso da tecnologia, propiciando a todos o aprofundamento nos diversos modos de fazer, criar, inovar e distribuir significados típicos da cultura digital, atrelados ao uso consciente, ético e crítico em suas diversas aplicações no mundo digital. Assim, estimular a criatividade.

 

Robótica e Modelagem

O Espaço tem como objetivo tornar acessível, a estudantes e professores, a criação de protótipos e projetos eletromecânicos utilizando Arduino e materiais estruturados ou não estruturados, com programação em blocos e linguagem C++. No intuito de garantir inovação no processo de aprendizagem, também é explorada a criação de modelos funcionais em simuladores (on/offline). Isso permite interagir de forma controlada e segura com os componentes eletrônicos, com base nos quatro pilares do pensamento computacional.

 

Prototipagem e Fabricação Digital

Espaço para a modelagem e produção de protótipos, com o apoio de equipamentos computadorizados, tais como impressora 3D e mesa de corte a laser.

 

Com o CIEBP, os alunos podem ver na prática o conteúdo teórico aprendido em sala


Luan Porto

Compartilhar: