Dos cartéis às bibliotecas

Dos cartéis às bibliotecas

Como a bem-sucedida experiência da Colômbia pode influenciar a Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto

Antes considerada a cidade mais violenta do mundo, Medellín deu a volta por cima e é hoje um caso de sucesso. As mais de 300 mortes para cada 100 mil habitantes, registradas no início da década de 1990, se transformaram em 300 mil visitantes à 9 Fiesta del Libro y la Cultura de Medellin, realizada no mês de setembro de 2015. Em 25 anos, a cidade se reergueu nas bases de uma iniciativa digna de pátria educadora: a formação de leitores.

A implantação de bibliotecas-parque na Colômbia, tanto em Medellín, quanto em Bogotá, foi a alternativa encontrada pelo poder público para formar cidadãos e enfrentar a violência. Os famosos cartéis do mundialmente conhecido Pablo Escobar deram, então, lugar à produção de livros, à cultura e à educação.

E foi na vitória consagrada do país que a superintendente da Fundação Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, Viviane Mendonça, buscou referências para um intercâmbio. A conexão Medellín-Ribeirão Preto ficará ainda mais intensa no ano que vem, com a Colômbia escolhida como nação homenageada pela 16a Feira do Livro.

Em entrevista ao Portal Revide, Viviane contou a experiência sobre a visita à Fiesta del Libro y la Cultura de Medellin. Segundo ela, a viagem foi gratificante e a vivência próxima a projetos de incentivo educacional, principalmente voltados aos jovens, foi fundamental para colher ideias. “Além das articulações públicas dos inúmeros contatos que fizemos para possibilitar o intercâmbio com o pais homenageado, tive contato com órgãos internacionais que trabalham em toda a América Latina com políticas voltadas para o livro, como a Câmara Colombiana do Livro, que possui articulação para a publicação de jovens escritores e difusão do livro, além de projetos voltados especificamente para jovens, que vêm se tornando cada vez mais o foco da Fundação Feira do Livro em Ribeirão Preto. A Festa também é muito bonita do ponto de vista estético, a comunicação visual é muito impressionante e todos se sentem muito à vontade no espaço. Vi todas as gerações e classes sociais aproveitando a Festa”, conta.

Foram seis dias de imersão no evento, um período suficiente para se aprofundar nos projetos educacionais da Colômbia e, principalmente, conhecer de perto a iniciativa das bibliotecas-parque. Segundo Viviane,  a diferença do projeto é ter a biblioteca como referência em um espaço criado especificamente para este fim. “Há ainda áreas de convivência, salas multi-uso, computadores, café, mas a referência é a biblioteca. Possuem ainda Plano de Leitura e Escrita, que tem como signatários instituições públicas e privadas, em que se estabelece acordos para o avanço das políticas e foi assinado durante a Festa de Medellín. Há muitas ações voltadas para inclusão e novas tecnologias, trabalho em escolas. Além da Fiesta, realizam a Parada Poética Juvenil e a Feira Popular de Livros com editoras locais”, explica.

A responsabilidade e o peso do poder público numa transformação como a que ocorreu na Colômbia é fundamental. Justamente por isso, a Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto tem buscado, anualmente, o apoio da Prefeitura de Ribeirão Preto. Em razão das sucessivas crises financeiras, o repasse de recursos para os eventos tem sido cada vez mais burocrático, problemático e menos intenso. De acordo com Viviane, a mudança cultural em Ribeirão Preto, por meio dos projetos realizados pela Feira, só pode ocorrer, de fato, com a ajuda do Governo Municipal.

“Os projetos de leitura devem ser permanentes e vistos como políticas públicas a serem implantadas em todos os espaços: escolas, bibliotecas, praças, centros culturais etc. A Feira do Livro já é um evento consolidado e que conta com o apoio e incentivo do poder público para acontecer e isso deveria ser de forma cada vez mais prioritária. A exemplo de Medellín, 80% do investimento feito na Fiesta vem da prefeitura. Em Ribeirão, apesar do apoio financeiro, a Fundação, a cada ano, tem de pleitear o apoio da municipalidade. Isso torna instável o planejamento e a priorização dos investimentos no evento. A Fundação foi criada  para realizar a Feira, mas a sua manutenção depende muito da busca de recursos externos, o que por um lado garante uma autonomia na realização do evento e a manutençao desta importante ação independente de questões politicas. Por outro lado, no entanto, acaba não sendo vista como uma política, como acontece na Colômbia. Na minha opinião, o poder público é o grande aliado para que todo esse trabalho de formação contínua aconteça”, conclui.

Revide On-line
Marina Aranha
Fotos: Arquivo Pessoal

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