Há quase 30 anos, crise já afetava prefeituras

Há quase 30 anos, crise já afetava prefeituras

Edição da revista Revide de outubro de 1987 mostra, que naquela época, os municípios da região já penavam para fechar as contas

“Prefeituras à beira da falência”. Não, esta não é a manchete atual da Revide. Esse é o título de uma reportagem publicada em outubro de 1987, quando os municípios da região passavam por crise financeira.

A afirmação mais forte dentro do texto é de um prefeito da região, que na ocasião não quis se identificar. E afirmou que “quebrou a cara” por ter errado nos cálculos do orçamento da prefeitura do município, que na época tinha 20 mil habitantes. De acordo com a reportagem, esse prefeito já não contava mais com o orçamento do município em agosto, porque o dinheiro simplesmente acabou.

E essa não foi a única situação do tipo enfrentada na época. Outras cidades da região de Ribeirão Preto passavam pelo mesmo problema. E na falta de crise econômica para botar a culpa, o carrasco acabou sendo o plano Cruzado, lançado um ano e meio antes, que afligia os prefeitos devido à inflação “assustadora”, que obrigava os salários a serem corrigidos toda vez que os preços superasse o aumento de 20%.

Entretanto, esse problema da inflação conseguiu ser revertido por alguns municípios. Em Sertãozinho, o então prefeito Joaquim Marques começou a aplicar o dinheiro da cidade no mercado financeiro.

“Se a inflação é baixa, dá para usar o dinheiro bem. Mas, se é alta, os juros e a correção monetária também sobem, o que faz com que o dinheiro não desvalorize muito”, afirmou o político sertanezino na reportagem de 1987.

A estratégia também foi adotada em Jaboticabal, que não se deu muito bem. Depois dos dividendos das aplicações terem se tornados a segunda maior fonte de receita do município, a situação logo se reverteu, assim que o plano Bresser – instituído para conter a inflação, não controlada pelo projeto econômico anterior, já que passava dos 23% ao mês – entrou em vigor em julho daquele ano. O motivo foi o congelamento dos preços, que comprometeu 8% do orçamento municipal.

Na época, o então prefeito de Batatais, Geraldo Marinheiro, disse à Revide que a crise era “a pior que a cidade já passou”. Marinheiro já participava da vida política do município desde o início dos anos 1960.

Naquela época, outras soluções encontradas por algumas cidades foram a antecipação do ICMS e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), para quitar dívidas.

Crise de 2015

Passados 28 anos, a crise volta a assombrar as prefeituras. Para contenção de gastos, em Jaboticabal, a prefeitura optou por diminuir o expediente, em Batatais, quem sofreu foi o tradicional carnaval da cidade, e em Sertãozinho, algumas promessas de campanha deixaram de ser cumpridas.

No início de outubro de 2015, o prefeito de Batatais, Eduardo Oliveira (PTB), anunciou que a prefeitura deixará de financiar o carnaval da cidade, um dos mais tradicionais da região, passando a responsabilidade para as próprias escolas de samba.

O município deixa de repassar verbas para as escolas, mas afirma que o continua a ser responsável pela estrutura no Sambódromo da cidade.

“É uma forma realista de tentar viabilizar o carnaval de rua do próximo ano. Sabemos que as escolas de samba e bloco queriam mais. Só que não vamos assumir aquilo que o poder público não pode arcar no momento. É um ano atípico e pedimos a parceria dos nossos carnavalescos para não deixar de realizar o evento”, afirma o prefeito.

Além disso, Batatais também cortou horas extras no funcionalismo público, limitou o consumo de combustível da frota oficial, e começou a rever os contratos, para se enquadrar na “realidade austera brasileira”, explica a prefeitura em nota.

Em Sertãozinho, algumas promessas de campanha do prefeito José Alberto Gimenez (PSDB) foram descartadas, como a instalação de uma unidade da Unesp de Jaboticabal no município, devido a crise que as universidades estaduais em São Paulo estão passando, aponta Gimenez.

Algumas medidas aplicadas pelo município para a redução de custos foram o corte de contratações de funcionários comissionados, revisão de contratos com empresas, que levou a novos valores mais baixos ou ao cancelamento, e acordos com empresários da cidade para aliviar a situação para os trabalhadores demitidos, como a manutenção de planos de saúde, e elaboração de uma cesta básica, no qual os supermercados as vende a preço de custo.

Porém, a situação mais extrema de todas as prefeituras da região tenha acontecido em Jaboticabal. Isso porque, até o expediente das repartições municipais foram alterados, para evitar gastos de ar-condicionado, por exemplo.

Os órgãos públicos funcionam das 7h às 13h, e isso segue assim até 31de março de 2016. A diminuição do expediente serve para a economia de energia, água, telefone e material de consumo em geral, como material de escritório, de higiene e limpeza.

Em nota, a prefeitura afirmou que as medidas fazem parte de um estudo de eficácia, junto a outras cidades que aplicaram medidas semelhantes, para confirmar a efetividade dos resultados obtidos.

“Diante da crise econômica que afeta nosso País e das dificuldades que a Prefeitura de Jaboticabal vem enfrentando, por conta do reflexo desta crise que provocou, inclusive, queda na arrecadação, a Administração Municipal adotou um pacote de medidas que vai gerar economia e ajudar a reorganizar as contas públicas”, destaca a nota.

Revide On-line
Leonardo Santos
Fotos: Arquivo Revide

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