Pesquisadora premiada

Pesquisadora premiada

Tathiane Maistro Malta, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP/USP), é uma das ganhadoras do programa Para Mulheres na Ciência 2022, com pesquisa sobre um tipo específico de c

O sonho de cursar Farmácia na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto fez Tathiane Maistro Malta deixar sua cidade natal, Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em 2002. Foi quando ela passou na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), onde se formou em 2006. Depois, também fez mestrado e doutorado em Ciências na universidade.

 

E todo seu esforço foi digno de prêmio: 20 anos após ter passado na USP, a pesquisadora é uma das ganhadoras do programa Para Mulheres na Ciência 2022, promovido pela L’Oréal Brasil, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e Academia Brasileira de Ciências (ABC).

 

“Eu sempre me interessei por ciência e senti afinidade pela área biológica. A faculdade de Farmácia parecia me dar um amplo leque de possibilidades de atuação profissional e, durante o curso, eu me interessei pela pesquisa científica. Nunca mais parei. Depois de trabalhar nos Estados Unidos como pesquisadora por quase três anos, tive a oportunidade de voltar para o Brasil em 2019 e iniciar meu próprio grupo de pesquisa na FCFRP. Hoje, eu me sinto muito feliz em receber esse prêmio de reconhecimento pelo meu trabalho”, declara Tathiane.


A premiação aconteceu em 30 de novembro, na sede da L’Oréal Brasil, no Rio de Janeiro. Desde 2006, o programa premia, anualmente, com uma Bolsa Auxílio Grant jovens doutoras brasileiras com projetos científicos de alto mérito a serem desenvolvidos durante 12 meses em instituições nacionais.

 

Sete jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática recebem uma bolsa de R$ 50 mil cada uma para serem investidos em suas pesquisas.

 

“Ganhar esse prêmio é uma honra muito grande, além de ser uma dose importante de motivação em uma época que precisamos valorizar a ciência. Especialmente, esse prêmio reconhece e promove o trabalho de mulheres na ciência e isso é muito importante para inspirar e incentivar a próxima geração de cientistas brasileiras. É importante divulgarmos a carreira científica e dar oportunidade para a próxima geração conhecer nosso trabalho”, argumenta. 


Em sua pesquisa, Tathiane investiga os gliomas, um tipo específico de câncer no sistema nervoso. “Os gliomas são tumores cerebrais bastante agressivos, sem cura e com poucas opções de tratamento atualmente.

 

Como outros tumores, os gliomas têm evolução bastante variável e isto é decorrente das alterações genéticas e moleculares das células tumorais de cada paciente. Eu estudo gliomas há nove anos e o meu foco é olhar para o DNA e para o RNA das células tumorais e também de células não-tumorais para identificar as alterações que fazem os tumores serem mais ou menos agressivos e resistirem ao tratamento”, detalha.

 

Segundo a cientista, essas descobertas podem auxiliar no diagnóstico do paciente e no manejo clínico mais adequado. “É o que chamamos de ‘medicina de precisão’, que significa individualizar o tratamento para cada paciente. E só podemos fazer uma medicina de precisão se antes tivermos estudos que identificam essas alterações genéticas e moleculares e entendemos o que elas representam”, explica.

 


A pesquisadora da USP de Ribeirão Preto investiga os gliomas, um tipo específico de câncer no sistema nervoso,  e busca um tratamento com base na medicina de precisão

 

Avanços


A pesquisadora defende que o Brasil ainda precisa de melhorias para a valorização das mulheres na ciência, pois é algo que ainda acontece vagarosamente. “Iniciativas como esse prêmio são importantes nesse sentido.

 

Existe uma lacuna entre as oportunidades para mulheres e para homens, não só na ciência, mas, especialmente, em carreiras de alto nível. E precisamos reconhecer essas e outras lacunas e trabalhar para corrigi-las, pois só assim acredito que poderemos ter oportunidades iguais para todos e construir um mundo melhor para a próxima geração”, acredita. Para exemplificar as disparidades de gênero, Tathiane conta que apenas há cerca de cinco anos que as agências de fomento implementaram a licença-maternidade para as bolsistas de pós-graduação. Antes disso, a bolsista ficava desassistida financeiramente durante esse período.

 

“E apenas no ano passado que foi possível incluir o período de afastamento por licença-maternidade no Currículo Lattes, que é o principal sistema de coleta de informações de pesquisadores brasileiros. Aos poucos, estamos reconhecendo que precisamos promover e valorizar a participação feminina nas diferentes esferas da sociedade e a ciência é uma delas. A mim, resta ser confiante de que estamos em um bom caminho”, finaliza a cientista. 


Fotos: Revide

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