Preparando para a vida

Preparando para a vida

Além da preparação para o vestibular, a professora Regiane Pedigone Segantini, idealizadora do 100% Redação, acredita em uma metodologia que trabalhe o aluno não só para conquistar uma vaga na univers

Para a professora Regiane Pedigone Segantini, formada em Letras, Linguística e Filosofia, preparar os alunos para o vestibular vai além de oferecer uma boa metodologia relacionada à gramática, à interpretação de texto e à redação. Ela acredita que, além de uma escrita com autoria, os adolescentes precisam desenvolver um senso crítico e uma interpretação de mundo em diversas áreas do conhecimento, fugindo do senso comum, e estarem preparados para a vida num posicionamento ético e humanista. 

Foram esses motivos que a fizeram criar o 100% Redação - Curso de Língua Portuguesa, que conquistou, em 13 anos, uma legião de estudantes empenhados em planejar uma carreira profissional de sucesso. É o único curso que chegou à marca de 18 notas 1.000 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), além de somar dezenas de aprovações em vestibulares de medicina públicas e privadas e centenas de aprovações em outros cursos de nível superior. A seguir, confira a entrevista com a professora apaixonada pelo ofício de ensinar. 

Como o estudante deve se preparar para essa etapa da vida?

Não acredito em processo a curto prazo. Acredito na continuidade, desde a infância, para não sobrecarregar no final. Primeiramente, vem o estímulo dos pais, da família e do contexto de leitura, não somente a de livros, mas exposições de arte, museus, documentários, a cultura em geral analisada de forma mais crítica com a criança. Levá-la, por exemplo, a São Paulo, que fica tão perto da nossa região, e apresentá-la aos diversos museus, a exposições e a diversos lugares em que ela possa experimentar a vivência de um enriquecimento, além daquilo que ela vê somente no papel.

Também acredito na experiência de trabalhos voluntários, em que a criança e o adolescente participem em comunidades, em lares de idosos e nos orfanatos, de situações diferentes do que vive, espaços que de repente estejam diferentes. O aprendizado não se faz somente com a teoria, mas também na prática. Isso seria o ideal para um aprendizado a longo prazo, com o senso crítico de vivência, o que raramente acontece nas escolas. A grande dificuldade quando o aluno chega ao ensino médio é se deparar com um mundo diverso, amplo e fora da sua bolha. Precisa dominar todos os argumentos de uma vez, o que acaba sendo difícil. 

Não acredito em algo que seja mágico, que o adolescente consiga dominar de uma maneira muito boa e obtenha um aprendizado concreto sem a experiência. Vamos dizer que ele não tenha tido a oportunidade e o conhecimento para fazer isso antes, terá que correr atrás. Será mais penoso, difícil e, com certeza, terá que buscar grupos de apoio em escolas especializadas, como no texto, que você precisa dominar tudo, desde ecologia a direito, todos os assuntos de uma maneira aprofundada. Acaba sendo difícil para o aluno escrever de uma maneira concisa, em poucas linhas e com uma profundidade necessária, o que os vestibulares exigem. 

Qual é a importância da redação e da Língua Portuguesa em uma prova de vestibular?

Na verdade, a redação é eliminatória. Notamos que muitos vestibulares usam a redação para várias funções: primeiro, analisar o perfil do aluno que está entrando na instituição — se ele é preconceituoso, se tem um senso crítico apurado em relação a várias questões que são colocadas no texto.

Em alguns vestibulares, ela equivale a uma análise psicológica. Para entender como é a pessoa, os valores morais e o ponto de vista ético são analisados no texto. Outra função é avaliar se o aluno tem um ponto de vista muito senso comum, acrítico e superficial. Há vestibulares que simplesmente eliminam esses candidatos, caso da Fuvest onde a redação tem um peso de 50% na segunda fase. Se o aluno realmente não sabe argumentar, ele não entra. Resumindo, se não sabe expor claramente o que é pedido, com um senso crítico apurado, com uma visão ética e humanista, ele simplesmente é eliminado. 

O tema da redação é sempre um medo que persegue os estudantes, que ficam sabendo o assunto que será abordado apenas no momento da prova. Há alguma dica para que ele se sinta pronto mesmo sem saber o tema?

Primeiramente, depende do processo citado nas outras respostas, envolve a vivência de estudo a longo prazo. O aluno que passa por esse processo terá mais facilidade para lidar com esses embates éticos dos textos. Com toda a certeza, ajuda muito se o estudante que tem uma noção clara de direito, ecologia, tecnologia, relações interpessoais, história e sabe contextualizar. Mas não é só isso. O aluno fica muito preocupado com o tema, mas muitos vestibulares já vêm com um texto de apoio. Esses textos quando são muito bem interpretados e associados a um conhecimento, possibilitará a elaboração de uma boa redação. Entretanto, é preciso conhecer as técnicas, ter coesão e coerência e saber elaborar um bom projeto para seu desenvolvimento. Não é só o tema que derruba um candidato. Aliás, o tema não é tão importante, parece polêmico isso, mas fazer um bom projeto de texto é essencial. 

Algo perigoso que os alunos fazem é copiar textos de internet, essas citações prontas, pois nunca funcionam, é um conselho que dou: elimine isso da vida, pois é perigoso e extremamente arriscado. É preciso que o aluno acredite no que está fazendo. Com uma boa leitura, quando eu falo de leitura não é só ler o texto, é saber o contexto daquele assunto que está sendo abordado. Dessa forma, conseguirá ir bem. Não acredito que é o tema derruba um aluno.  Se for um tema muito difícil e complexo, os vestibulares precisarão de uma boa coletânea de textos de apoio, se não derrubarão todo mundo. Para mim, essa questão sobre o tema não deveria assustar tanto os alunos, pois se ele estiver preparado, conseguirá elaborar uma boa redação. 

Como esse aluno deve ser motivado para obter bons resultados nas provas de Língua Portuguesa e redação?

Em primeiro lugar, não olhar esses casos sucesso e ficar se comparando, acho horrível a comparação, pois cada pessoa tem seu tempo, sua maneira de aprender e de assimilar. Isso é o principal, pois a competividade pode deixar o aluno mais ansioso, triste e desmotivado com sentimento de fracasso. Uma maneira de motivação é tentar fazer um projeto, a médio-longo prazo, dependendo do curso, sabendo que numa visão mais realista as coisas não são tão pragmáticas e rápidas. Para se conquistar um sonho é preciso de tempo, até porque somos humanos e não devemos ficar doentes por causa de um sistema que cobra tanto de uma maneira, muitas vezes, cruel, com essa competividade absurda, além de querer se igualar a todo mundo. 

Acredito em uma coisa interessante para as pessoas se motivarem também. Primeiro é a pessoa descobrir do que gosta, pelo que se interessa nas diversas áreas do conhecimento, ver a área, a atuação, participar de workshops nas diversas universidades, ter um relacionamento com pessoas que fazem aquele curso em que está interessada. Vale conhecer as instituições pessoalmente, entrar em grupos dessas universidades e tirar ideias. Isso motiva e desperta a vontade e o desejo. Ela sabendo que a médio-longo prazo poderá conseguir entrar naquela universidade, pois terá inúmeros exemplos, criará uma visão mais realista e mais motivadora. Uma terapia, com um psicólogo, também é algo que pode ajudar nesse momento. 

O que te levou a criar o 100% Redação?

Na verdade, sempre trabalhei em grandes cursinhos e, por melhores que fossem os trabalhos com textos, notava que era impossível desenvolver um ensino interdisciplinar com os alunos em relação à argumentação e à vivência. Era preciso de mais tempo para isso. Eu mesma não consegui fazer um trabalho nos colégios em que lecionei, pois, por mais que eu tentasse adaptar até mesmo com o que faço hoje não era possível sem uma equipe. Isso é um trabalho que precisa ser feito com equipe multidisciplinar e era meu sonho trazer para o aluno uma vivência mais ampla do conhecimento de mundo, de um conhecimento mais específico, que abrange a antropologia, a filosofia, a sociologia, também noções de direito, de cidadania, de diversos outros assuntos mais aprofundados.

Mostrar as consequências de um mundo em que prevaleça a humanização, diminuir as barbaridades das violências em todos os seus símbolos, de uma formação moral, ética. Isso todos os alunos carregam para vida, tenho alunos formados que já têm filhos, que provavelmente também serão alunos. Isso é maravilhoso, pois é algo levado para as profissões, uma maneira mais bonita e ética, pois a ética vê o bem do outro, uma colaboração para suas profissões e para o mundo, onde todos possam viver melhor e, realmente, isso é uma premissa do curso. Isso reflete nos textos, na vida acadêmica e em tudo o que ele for fazer. Fazer algo mais aprofundado e próximo do aluno era um sonho. Poder estar com aquele ser humano na nossa frente e não um monte de gente sem olhar com todo cuidado a singularidade presente em cada pessoa. 

Além disso, criar um espaço que não lembrasse escola. A marca do 100% Redação é contar com um local artístico, onde os alunos têm muito acesso à cultura, a conversas e a trocas. Geralmente, temos estudantes que são muito interessados, que estudam bastante, no sentido de se ajudarem e conviverem em um ambiente que todos têm objetivos comuns, criando ligações, presenciando histórias de motivação e fazendo laços de amizade e de ajuda, o que é muito bonito. Dá uma satisfação muito boa para gente que é professor, a equipe festeja junto cada passo desses alunos. 

Não é só um curso com uma finalidade que acaba no vestibular. A gente também compartilha depois as especializações dos alunos, muitos são médicos que enfrentaram a Covid-19. Compartilhamos de perto essa vivência e tudo isso é um processo importante hoje em dia, um mundo que é tão individualizado e fechado numa bolha. Poder continuar essa amizade, de perseverança, de ajuda, pois os meninos que já estão na universidade ajudam os outros. Considero isso uma marca muito bacana do nosso curso. 

Qual é o trabalho que o 100% Redação desenvolve com esses alunos no decorrer do cursinho oferecido?

Além das aulas tradicionais, a gramática, a interpretação de texto e o carro-chefe e a redação, oferecemos oficinas de textos individualizadas. Para todos os vestibulares, trabalhamos as provas com os alunos, o tipo de banca, que oscila muito a correção de uma para a outra, pois uma redação do Enem nunca caberia na Fuvest. Alunos não costumam ler edital e, também, não têm acesso aos critérios que são abordados por essa banca. Por isso, iriam muito mal. Preparamos o aluno individualmente para os vestibulares que ele vai prestar. No primeiro momento, a gente pede para ele informar os que deseja concorrer. Durante todo ano, é feito um trabalho de base para a construção de um texto, mas, principalmente a singularidade de cada banca. Isso é algo muito importante e que a gente faz com maestria, pois temos redações que foram máximas e publicadas pela Unicamp e pela USP. Temos um único resultado no Brasil de 18 notas 1.000 no Enem, algo único. Preparamos também os alunos para as entrevistas e as avaliações em grupo, que são utilizadas por alguns vestibulares, como o da FGV.  O aluno tem um curso muito completo.

Como é poder fazer parte de uma das etapas mais importantes da vida desses estudantes?

Digo que é algo muito especial, porque somos um corpo de professores. A gente acaba passando no vestibular todos os anos, pois sofremos e comemoramos juntos com os alunos. Isso é algo que não tem preço! Criamos vínculos com esses alunos. Por exemplo, quando preciso ir ao hospital, já pergunto se tem um de nossos alunos, pois muitos cursaram medicina. O que era para ser uma consulta, vira festa. Tudo isso é maravilhoso, deparar com ex-alunos, acompanhar a vida deles, pois geralmente passam famílias inteiras pelo nosso curso. Criamos laços amorosos com essas pessoas, algo muito difícil hoje em dia, pois vivemos em um mundo individualista, com as relações fragmentadas e frágeis. Construir essas relações na pós-modernidade é uma alegria imensa e nos faz acreditar que as coisas podem ser diferentes. 


Foto: Revide

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