Seis anos e contando...

Seis anos e contando...

Escola Domingos Angerami, no complexo Ribeirão Verde, está interditada desde 2018; Prefeitura promete fim da espera para abril

Anunciada pela Prefeitura de Ribeirão Preto para a primeira semana de abril, a inauguração do novo prédio da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professor Dr. Domingos Angerami reacende a esperança dos pais de mais de 600 estudantes do Ensino Fundamental moradores no complexo Ribeirão Verde, na zona Leste da cidade. Eles esperam não ter mais que enviar seus filhos para uma escola distante mais de 10 km de suas casas. Os mais de 550 alunos do Angerami passam por isso desde 2018, quando o prédio antigo da escola foi interditado por problemas de segurança.

 

A demora na entrega da nova unidade também afetou, mais recentemente, cerca de 60 alunos que concluíram o 5º ano na Emef Maria Ignez Lopes Assis, também no Ribeirão Verde, que só oferece séries do Ensino Fundamental I (1ª a 5ª). Um grupo de pais de alunos, formado no final do ano passado para exigir providências da Prefeitura, foi informado que também seus filhos passarão a frequentar o novo prédio da Angerami. Até lá, porém, eles seguem enfrentando trajetos de mais de 1h30, na ida e na volta da Emef Dom Luís do Amaral Mousinho, onde tiveram que se matricular para não perderem o ano.

 

No caso da Domingos Angerami, toda a estrutura da escola foi transferida, em 2018 mesmo, para um prédio provisório à rua João Clapp nº 1.501, onde já funcionou uma unidade escolar do Sistema Sesi. Os pais dos alunos, porém, não ficaram satisfeitos com a solução, segundo a vendedora autônoma Gislaine Andrade Mariano Rosa, mãe de Lara, 14, atualmente no 9º ano. Ela também integrou um grupo de pais que se organizou à época da interdição para pressionar a Prefeitura e lembra que os estudantes perderam muitas aulas enquanto se decidia o que fazer. “Também faltavam professores. Foi um transtorno! Dali dois anos veio pandemia e o estudo online, que tornou tudo mais difícil ainda. Não sei o que vai ser dessas crianças”, reclama a mãe.

 

A mãe de Lara recorda ainda que, após decidida a transferência, o grupo de pais organizou um abaixo-assinado exigindo transporte gratuito para os estudantes se locomoverem até o prédio provisório. Foram atendidos, mas com ônibus que, segundo eles, até hoje deixam a desejar em termos de segurança. Alguns dos veículos quebraram algumas vezes no caminho, fazendo com que os alunos chegassem estressados e atrasados à aula. Até hoje nenhum dos pais segue conformado com a situação, segundo Gislaine. “A gente aprendeu a conviver com o transtorno porque as crianças têm que estudar, mas ainda se preocupa, porque eles são transportados em veículos bem antigos, sem cintos de segurança, com crianças pequenas junto. A gente os manda correndo riscos e pedindo a Deus que voltem a salvo”, diz.

 

Questionada sobre a segurança do transporte escolar dos estudantes do Ribeirão Verde, a Secretaria Municipal da Educação de Ribeirão Preto informou que “não procede a informação de que alunos da rede municipal são transportados em ônibus sem estrutura”. Em nota, afirma que a Pasta mantém contrato com uma empresa terceirizada, cujo serviço é fiscalizado e vistoriado constantemente e que os pais que estiverem com algum problema ou quiserem fazer alguma denúncia podem entrar em contato direto com a Secretaria.

 

ROTINA DE GENTE GRANDE

 

Nos dias da semana em que frequenta uma Escolinha de Futebol, o pequeno Yuri cumpre uma rotina corrida para uma criança de apenas 10 anos de idade. Começa às 9h da manhã, quando sua mãe, Kátia Bispo Santos da Silva, começa a aprontá-lo para estar na escolinha às 10h, onde ele treina até as 11h. Na sequência, dispõe de apenas 45 minutos para chegar em casa, tomar banho, almoçar e se vestir, para conseguir estar no ponto do ônibus escolar às 11h45. Sua aula no 6º ano da Emef Dom Luís do Amaral Mousinho, a mais de 10 km de sua casa, começa às 13h, mas o ônibus inicia o trajeto bem antes para dar tempo de embarcar outros alunos pelo caminho. Yuri só chega em casa por volta de 19h todos os dias. “Os estudantes do assentamento [Mario Lago, também no Ribeirão Verde] chegam mais tarde ainda”, conta a mãe, que considera “um absurdo” crianças terem que estudar tão longe por falta de vagas em seu bairro.

 

Yuri é um dos 58 alunos que concluíram o Fundamental I na Emef Profª Maria Ignez Lopes Rossi em 2023 e tiveram que se matricular na Dom Luís do Amaral Mousinho este ano. Sua mãe foi quem formou o grupo de 40 pais, que também aceitou a contragosto os filhos estudarem tão longe de casa. “Se eles não fossem, perdiam a vaga na rede. E temos de manter as crianças na escola”, comenta a dona de casa, que segue indignada. “São crianças de 10 e 11 anos em ônibus escolares sem cinto de segurança. É perigoso! E se meu filho tiver uma febre, uma indisposição qualquer na escola? Demoraria muito para eu chegar até lá de ônibus, porque não tenho carro. No dia de fazer a matrícula dele no Mousinho gastei uma fortuna de Uber”, reclama.

 

Kátia denuncia ainda que, nos primeiros dias de aula no Mousinho, os ex-alunos do Maria Ignez foram deixados do lado de fora do prédio para esperar os ônibus escolares. “Foi preciso que uma comissão de pais fosse pedir para deixá-los esperando dentro. É muita falta de respeito”, escandaliza-se.

 

ENTENDA O CASO

O antigo prédio da Emef Professor Dr. Domingos Angerami foi interditado pela Justiça em 2018, a pedido do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que elaborou laudo apontando falhas no quadro de disjuntores, fiação exposta e instalações elétricas irregulares em salas e banheiros, que poderiam causar incêndios. Após acatar a decisão, a Prefeitura realizou a transferência da estrutura da escola para o prédio antigo do Sesi Campos Elíseos e decidiu pela construção de uma nova sede para a unidade, que foi iniciada em abril de 2020, com previsão de conclusão em 12 meses. Mas a obra sofreu sucessivos atrasos desde então, razão pela qual a Prefeitura decidiu, só em 2023, romper o contrato com a construtora responsável, alegando abandono nos trabalhos. Uma nova licitação foi realizada, com prazo de conclusão da obra previsto para janeiro de 2024. De acordo com a Prefeitura, as obras foram concluídas. Tudo somado, a construção consumiu mais de R$ 7 milhões.

 

Contatada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Educação informou, por meio da Assessoria de Imprensa da Prefeitura, que as equipes técnica e pedagógica da Pasta trabalham, neste momento, no planejamento de organização da mudança para o novo prédio dos 562 alunos do Ribeirão Verde que assistem às aulas no prédio do antigo Sesi Campos Elíseos. Informou, ainda, que a nova unidade tem capacidade para 800 alunos de Ensino Fundamental e uma área de 4.960,17 m². Sua estrutura física conta com quadra coberta, 14 salas de aula, refeitório, cozinha, sala dos professores, secretaria, sala de recursos, laboratórios de informática, matemática e ciências, copa, almoxarifado, sala da gestão escolar, coordenação, pátio coberto e descoberto.

 


Foto: Luan Porto

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