
Perigo no Asfalto
No mês da campanha Maio Amarelo, atual superintendente da RP Mobi comenta estatísticas que listam Ribeirão Preto entre as cidades do estado de São Paulo com mais mortes no trânsito
No mês da campanha Maio Amarelo – movimento internacional de conscientização para redução de sinistros no trânsito –, a plataforma Infosiga, do Detran-SP [Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo], lista Ribeirão Preto na quarta posição entre as cidades paulistas com mais vítimas fatais de acidentes, com quase 16 a cada 100 mil habitantes. Nos três primeiros meses de 2025, foram 28 mortes – 40% acima das 20 registradas no mesmo período do ano anterior – e, em um ano, 117.
Os dados sequer são refutados pelo atual superintendente da RP Mobi, Marcelo Santos Galli, engenheiro mecânico, civil e de Segurança do Trabalho com especialização em Liderança e Gestão de Pessoas. Nomeado pelo atual prefeito Ricardo Silva (PSD), mesmo tendo integrado a equipe da administração anterior – foi superintendente na Saerp (Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto) na gestão de Duarte Nogueira (PSDB) –, ele afirma os levantamentos do Infosiga e ter implementado medidas para diminuir os índices de sinistros nas vias da cidade. Veja, na entrevista a seguir, como ele responde às críticas feitas mais constantes feitas ao trânsito de veículos nas vias de Ribeirão Preto, cuja engenharia de tráfego e fiscalização são de competência do município.
O trânsito de Ribeirão Preto é o quarto que mais mata no estado de São Paulo, com quase 16 mortes para cada 100 mil habitantes. Só no primeiro trimestre de 2025, foram 40% mais mortes do que no mesmo período do ano passado – 28 contra 20. A que o senhor atribui este aumento e o que o município pode fazer para diminuir esses números?
A nossa equipe da RP Mobi, por meio da nova gestão da Prefeitura, tem acompanhado os últimos levantamentos da plataforma Infosiga a fim de diminuir os índices de sinistros nas vias da cidade que são de competência do município. No primeiro trimestre deste ano, intensificamos todas as medidas de engenharia de tráfego e de campo, com ações de fiscalização, além de fortalecer programas e campanhas educativas e de conscientização com o foco na segurança viária da população na cidade. Inclusive, também nestes três primeiros meses de 2025, criamos na empresa um departamento com foco especial na segurança viária com intuito de monitorar, direcionar e executar ações no combate à violência no trânsito. Ainda, reforço que essas diversas ações vêm sendo adotadas na cidade, no sentido de aumentar a segurança do trânsito e reduzir os índices de sinistros nas vias municipais. Também ressalto que dados do Infosiga aponta que os recentes sinistros registrados na cidade ocorreram em diferentes locais, todos com adequada sinalização viária, evidenciando que estes sinistros e este aumento registrado no primeiro trimestre se deram devido à imprudência ou negligência dos envolvidos.
Também ocorrem muitas brigas no trânsito de Ribeirão Preto. Como combater isso?
Em relação aos desentendimentos por parte dos condutores no trânsito percebo que falta empatia, cidadania e respeito entre condutores e pedestres. É preciso que as pessoas repensem os seus comportamentos. Temos que valorizar a vida.
Já ouvi de muitos conhecidos de outras cidades a afirmação de que em Ribeirão Preto os motoristas são mais desrespeitosos às leis de trânsito e menos empáticos do que em grandes capitais, como a própria cidade de São Paulo. O senhor concorda com isso? Se não, a que atribui essa percepção?
A frota de veículos emplacados em Ribeirão Preto é de aproximadamente 600 mil, sem incluir os veículos de cidades que também circulam por aqui. Recentemente, realizamos um levantamento para aferir o comportamento dos condutores em um movimentado cruzamento da cidade, onde constatamos 782 infrações de avanço do vermelho do semáforo no prazo de 14 horas. Isso demonstra um fator cultural de inobservância às normas de trânsito, que por consequência pode gerar desrespeito e falta de empatia. Nesse sentido, vale destacar que este cenário também é observado em outras cidades paulistas com as mesmas particularidades, pois o governo estadual aponta que 94% dos sinistros são causados por falha humana.
Entre as muitas críticas de especialistas à organização do trânsito em Ribeirão Preto está a de que o número de agentes de fiscalização é insuficiente. Quantos eles são, hoje? Há perspectivas de a Prefeitura contratar mais? Existe um número ideal?
Atualmente, contamos com 82 agentes de trânsito no município. Percebemos que há uma necessidade de aumento do efetivo para atender todas as competências atribuídas a estes profissionais. Nesse contexto, a nova gestão da Prefeitura tem tomado conhecimento desta situação e já se comprometeu a disponibilizar todo o apoio necessário para a melhoria desse trabalho, que compõe as ações de segurança viária no município. As devidas tratativas para a realização de concurso para contratação de novos Agentes de Trânsito seguem em análise para viabilidade.
Um advogado especialista na matéria chegou a acusar os agentes de trânsito de só se preocuparem em multar dois tipos de infrações – excesso de velocidade e dirigir falando ao celular – deixando ilesos, por exemplo, motociclistas, conhecidos por “costurarem” no trânsito. Como o senhor responde a isso?
Os agentes de trânsito atuam na fiscalização de todas as infrações previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Contudo, para atender às ações e direcionamento previstos no Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRANS), visando aumentar a segurança no trânsito, há predominância dessas infrações, uma vez que, comprovadamente, são as principais causas dos sinistros de trânsito.
Muitos motociclistas desobedecem regras básicas, principalmente aqueles que têm no veículo seu ganha-pão. Não se pensa em fazer operações específicas para este tipo de condutor?
Com relação aos motociclistas, a RP Mobi tem realizado ações de conscientização e fiscalização em parceria com a campanha do Detran-SP: “Faz Seu Corre Sem Correr”, em que os condutores são orientados a direção segura, respeitando as normas de trânsito, particularmente sobre redução de velocidade, ultrapassagens seguras, guardar distância lateral dos veículos de grande porte, estado de conservação dos veículos e uso de equipamentos obrigatórios de segurança, entre outros cuidados.
O Ribeirão Mobilidade visava a criação de 56 km de corredores de ônibus, mais horários de atendimento nas linhas, menor tempo de viagem em cada uma e menor tempo de espera nos pontos de ônibus. Esses objetivos foram alcançados?
Atualmente, Ribeirão Preto conta com dez corredores de ônibus, totalizando 56 km de vias exclusivas para o transporte coletivo. Esses corredores estão distribuídos pelos eixos Norte/Sul e Leste/Oeste, formando uma malha viária que interliga diversas regiões da cidade. A RP Mobi conta com um avançado sistema de gestão que permite a análise detalhada de todos os dados do transporte coletivo da cidade. Com essa tecnologia, é possível monitorar em tempo real a operação dos ônibus, avaliar a demanda de passageiros e identificar oportunidades de melhoria no serviço. Atualmente, a rede de transporte está passando por uma nova avaliação, visando promover ajustes e otimizações. Esse processo inclui a incorporação de novos empreendimentos, como bairros em expansão, além da criação ou adequação de linhas para atender novos pontos de interesse na cidade. Dessa forma, a RP Mobi ainda não possui uma consolidação desses dados para uma avaliação definitiva em relação às recentes modificações na rede.
Como está sendo operacionalizado o projeto Escola Pública de Trânsito da RP Mobi? Quantos estudantes já participaram só este ano?
A Escola Pública de Trânsito (EPT) Antônio José da Cruz Santos – “Dr. Niltão” está localizada nas dependências da minicidade fixa de trânsito da RP Mobi. Destina-se a promover a Política Nacional de Trânsito (PNT) bem como executar ações e cursos voltados para o exercício da cidadania, mobilidade e segurança no trânsito. Para isso, foi construída uma sala para a projeção de vídeos, palestras e dinâmicas. O trabalho desenvolvido na minicidade desperta a responsabilidade nas crianças, pois,auxilia a garotada na conscientização sobre os cuidados necessários no trânsito, além de instruir os participantes na educação como pedestre. Neste ano, já recebemos 195 crianças e adolescentes na EPT. A intenção é expandir estas visitas ao longo deste ano.
Vocês têm algum plano de fiscalização e repressão à brincadeira perigosa de pegar ‘rabeira’ de ônibus?
Esta prática carece de previsão legal pelo Código de Trânsito Brasileiro. Em razão disso, recentemente, apresentamos à Guarda Civil Metropolitana (GCM) as atualizações das ocorrências dessa prática visando que a corporação intensifique a patrulha em combate a elas, especialmente no período da tarde, quando há maior incidência dos casos. Lamento os registros da prática desse ato junto ao transporte coletivo urbano. Ainda oriento que, quando o usuário ou motorista da rede de transporte coletivo urbano suspeitar ou presenciar qualquer situação, denuncie à Polícia Militar pelo telefone 190, ou pela GCM (153) para tomar as providências cabíveis.
Os veículos da rede ainda sofrem com vandalismos? Em que proporção? Não há como reprimi-los com mais fiscalização também?
Infelizmente temos frequentemente registros de casos de vandalismo na rede do transporte coletivo urbano. De janeiro a abril, já contabilizamos 415 ocorrências desse crime ao patrimônio público, sendo 380 casos de rabeira. Diante disso, a nossa equipe tem buscado o apoio das autoridades de segurança pública a fim de diminuir estes lamentáveis índices.
De que forma a Prefeitura contribuirá para a campanha Maio Amarelo, de conscientização para redução de acidentes no trânsito?
A Prefeitura tem participado do desenvolvimento das campanhas e das mais de 30 ações da programação do movimento Maio Amarelo no sentido de incentivar e apoiar a realização das atividades ao longo do mês temático.
Guilherme Sircili