Trabalho 5.0: especialista dá dicas de como integrar o futuro ao presente na cultura empresarial
Em entrevista para a Revide, Fábio Longo, especialista em administração e Tecnologia, fala sobre a revolução digital no ambiente de trabalho
Fábio Longo, especialista em administração e tecnologia, compartilha sua visão sobre o impacto da revolução digital nas empresas. Com cerca de duas décadas de experiência em liderar equipes e integrar novos aprendizados, Longo explora como a transição para modelos de trabalho remoto e híbrido desafia as empresas a adaptar suas culturas e práticas. "A graduação em economia me abriu os olhos para compreender melhor a relação do ser humano com o mundo. A carreira profissional em empresas nacionais e multinacionais, no Brasil e fora dele, me permitiu e continua permitindo deixar legados, desenvolver pessoas, evoluir profissional, emocional e socialmente. Nestes ambientes, aprendi a valorizar a colaboração, vivenciei problemas complexos, competição e colaboração, convivi com pessoas com valores muito próximos e muito distantes dos meus", destaca. Longo é sócio da weme, um estúdio de produtos digitais. “Nós desenvolvemos negócios, produtos e serviços do zero. Nosso foco é a entrega de resultados impactantes por meio da tecnologia. Uma frase que gosto muito de repetir sobre nossa essência é que nós colocamos as necessidades e valores das pessoas e da humanidade no centro de nosso processo”, explica. Em entrevista, ele destacou como a evolução tecnológica molda o ambiente de trabalho e discute estratégias para manter a produtividade e o bem-estar dos colaboradores no cenário atual.
Quais são as principais diferenças na cultura corporativa que você observou entre os formatos de trabalho remoto, híbrido e presencial?
Como economista, eu gosto de olhar para essas mudanças em uma perspectiva histórica. Gosto muito de uma economista chamada Carlota Perez, que estudou profundamente as 5 grandes revoluções tecnológicas dos últimos 300 anos: a revolução industrial, a máquina a vapor, a eletricidade, as indústrias automobilística e petrolífera e, por fim, a era digital – iniciada pela tecnologia do silício. As quatro primeiras trouxeram grandes impactos sociais, trazendo as pessoas para as cidades e moldando a praticamente todas as nossas relações familiares, do comércio, do trabalho, etc que seguem vigentes atualmente. A quinta revolução tecnológica, do silício, impactou principalmente a forma como nos comunicamos, quebrando barreiras geográficas e impulsionando o comércio global numa velocidade extraordinária.
O formato 100% presencial é aquele que praticamente toda a população economicamente ativa aprendeu a levar para o dia a dia do trabalho. Esse formado foi influenciado principalmente pelas características do setor automobilístico. Suas características principais são a forte disciplina com horários, as posições hierárquicas, os processos e procedimentos repetitivos que visam a eficiência e a redução de riscos. Vivemos esse modelo nos últimos 100 anos, e continuamos altamente vinculados a ele.
Já os formatos híbrido e remoto são uma novidade bastante recente, e que não tem mais do que 20 anos. Ainda estamos tateando e aprendendo como utilizá-los da melhor forma. Mas é possível notar algumas coisas interessantes sobre cultura corporativa nos três modelos: no ambiente presencial, a cultura é muitas vezes reforçada por interações espontâneas e pela observação direta dos valores e comportamentos dos colegas e líderes. Já no trabalho remoto, a cultura precisa ser intencionalmente cultivada, com maior ênfase na comunicação clara e nas ferramentas digitais que suportam a colaboração e o engajamento. O modelo híbrido, por sua vez, exige uma abordagem ainda mais flexível, onde as empresas precisam equilibrar a consistência cultural entre os dias no escritório e os dias de home office, garantindo que todos os colaboradores, independentemente de onde trabalham, sintam-se parte da mesma cultura organizacional.
Como os líderes empresariais podem adaptar suas abordagens de gestão para manter a produtividade e o engajamento das equipes em formatos de trabalho remoto ou híbrido?
Não tem mágica, mas tem duas coisas que podem sintetizar bem: capacidade de adaptação e empatia. Os líderes devem investir em ferramentas que facilitem a colaboração e a comunicação, mas também precisam ir além das tecnologias. É essencial promover um ambiente de confiança, onde os colaboradores se sintam à vontade para expressar suas ideias e preocupações.
Além disso, a flexibilidade se torna um pilar fundamental – tanto em termos de horário quanto da forma como o trabalho é realizado. Na weme, por exemplo, nós praticamos alguns rituais aprendidos com as grandes empresas de tecnologia que são os check-ins regulares para acompanhamento de barreiras, engajamento com a estratégia, percepção de produtividade semanal, percepção de impacto, entre outros. Cada vez mais precisamos ter foco em resultados em vez de horas trabalhadas, e conseguir estimular e promover um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.
Nada disso é fácil, mas são exigências do mundo contemporâneo para os líderes que podem e devem ser praticadas, aprendidas, e ajustadas conforme o contexto de cada organização. O que não dá mais é para ser um líder que esteja com os 2 pés inteiros no modelo que esteve vigente até a 4ª revolução tecnológica. O líder contemporâneo precisa entender que o mundo mudou e que cabe a ele buscar essa adaptação.
O que você espera que sejam as próximas grandes tendências ou inovações nos modelos de trabalho nos próximos anos?
Como as empresas devem se preparar para essas mudanças? Tem muita coisa rolando, mas quero destacar três grandes tendências: a primeira e mais óbvia é uma maior adoção de inteligência artificial e automação, o que permitirá às empresas melhorar a eficiência e liberar os colaboradores para focar em tarefas mais criativas e estratégicas. A segunda será a hiperpersonalização do ambiente de trabalho, onde as necessidades individuais dos colaboradores serão mais reconhecidas e atendidas, seja em termos de horários flexíveis, espaços de trabalho customizados, ou benefícios que atendam às suas preferências. A terceira deverá ser conectada com o bem-estar mental e emocional dos colaboradores; isso ganhará ainda mais destaque, com as empresas adotando políticas e práticas que suportem um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal. Para se preparar para essas mudanças, as empresas precisam ser ágeis, investir continuamente em tecnologias que suportem essas tendências e desenvolver uma cultura que valorize a inovação e a adaptabilidade.
Como transformar as novas tecnologias em boas condições de trabalho para os colaboradores ao invés de uma ansiedade com o medo da "substituição pelo computador"?
Acredito que seja fundamental que as empresas promovam uma cultura de aprendizado contínuo e desenvolvimento profissional. Parece que isso é chover no molhado, mas são poucas as empresas que já tem isso instalado no seu DNA de forma verdadeira, sendo praticado no dia a dia pra valer. Em vez de ver a tecnologia como uma ameaça, os colaboradores devem ser incentivados a vê-la como uma ferramenta que pode aumentar suas capacidades e liberar tempo para tarefas mais significativas.
Novamente citando a weme, nós elencamos 25 tarefas simples que poderiam ser executadas utilizando IA, e o impacto positivo nos times foi incrível. Para colocar em práticas, todos tiveram que estudar, experimentar, colocar em prática, errar e – principalmente – documentar os aprendizados. Destes 25, algumas tarefas permaneceram manuais, mas outras já ganharam uma escala de adoção interna tão grande que já não conseguimos mais distingui-las do processo normal.
Com base na sua experiência em administração e liderança, quais são os erros mais comuns que as empresas cometem ao tentar implementar novos modelos de trabalho, e como eles podem ser evitados?
Um dos erros mais comuns é a falta comunicação clara sobre a conexão que existe entre os novos modelos e a estratégia da empresa. O colaborador precisa entender os motivadores da mudança, sentir-se parte dela, e perceber seu impacto individual no todo. Mudanças desse tipo requerem uma estratégia bem delineada, onde os objetivos, expectativas e responsabilidades sejam claramente comunicados a todos os níveis da organização.
Outro erro frequente é subestimar a importância do treinamento e do suporte contínuo – a transição para novos modelos de trabalho pode ser desafiadora, e os colaboradores precisam de tempo e recursos para se adaptarem. Também acredito que seja essencial que os líderes permaneçam flexíveis e dispostos a ajustar as abordagens conforme necessário, caminhando ao lado dos colaboradores e baseando-se nos feedback deles e nas métricas de desempenho. Para evitar esses erros, as empresas devem adotar uma abordagem iterativa, onde as mudanças sejam implementadas em fases, com constante revisão e ajuste.
Foto: Luan Porto