Com competição própria, atletas surdos não participam de Paralimpíada
Atletas surdos não participam de Paralimpíada

Com competição própria, atletas surdos não participam de Paralimpíada

Deficientes auditivos disputam Surdolimpíada que terá competição em julho de 2017, na Turquia

Entre os mais de 4,3 mil atletas com algum tipo de deficiência que participarão da Paralimpíada do Rio de Janeiro a partir de quarta-feira, 7, não há deficientes auditivos. Os surdos não participam dos Jogos Paralímpicos e têm uma competição específica, que é a Surdolimpíada (Deaflympics). A próxima edição está marcada para julho do ano que vem, na Turquia.

Atualmente, o Comitê Internacional de Desportos de Surdos (ICSD) não é filiado ao Comitê Olímpico Internacional (COI) nem ao Comitê Paralímpico Internacional (IPC) . A presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS), Deborah Dias, conta que, em 1990, houve grande confusão nos comitês olímpicos nacionais sobre os jogos para atletas surdos.

“Muitas das organizações nacionais desportivas de surdos, que antes tinham vínculos diretos e harmoniosos com o seu Comitê Olímpico Nacional, perderam essas ligações e foram forçadas a se unirem a uma organização desportiva nacional de deficientes, o que fez com que perdessem a autonomia e grande parte do financiamento”, diz.

Depois disso, em 1995, o ICDC, por decisão da maioria dos delegados, decidiu se retirar do IPC. No início deste ano, o Comitê Internacional de Desportos de Surdos e o Comitê Olímpico Internacional assinaram um memorando de reconhecimento com o objetivo de fortalecer as relações entre as organizações de desporto para pessoas com diferentes capacidades.

Para Deborah, apesar de ainda realizar seus próprios jogos mundiais, a falta de visibilidade e de reconhecimento dificulta a obtenção de financiamento do esporte para surdos por empresas públicas e privadas. “Com essas dificuldades, os surdoatletas, quando não estão motivados, acabam desistindo de seus sonhos. Outros conseguem realizar e arcam com as despesas de treinamento e das competições de seu próprio bolso e de doações de alguns amigos e familiares”, diz a presidente da CBDS.

Apesar disso, ela acredita que não haverá uma integração dos atletas surdos na Paralimpíada. “ Nos Jogos Surdolímpicos, os atletas são capazes de competir e interagir entre si livremente, sem a necessidade de intérpretes de língua de sinais. Se os atletas surdos forem competir nos Jogos Paralímpicos, será necessário um grande número de intérpretes de língua de sinais para evitar as barreiras de comunicação”, explica.

Ela também lembra que nos Jogos Paralímpicos há uma restrição no número de competidores e, se a paralimpíada tivesse que absorver os cerca de 2,5 mil surdoatletas que participam dos jogos Surdolímpicos, poderia haver cortes em modalidades esportivas de atletas com outras deficiências, prejudicando tanto os paratletas quanto os surdoatletas.

Segundo ela, os surdos não se consideram pessoas com deficiência. “Pelo contrário, nós nos consideramos parte de uma minoria linguística e cultural. Em esportes de equipe e alguns individuais, a perda auditiva pode trazer algumas dificuldades ao atleta. No entanto, isso desaparece nos Jogos de Surdos”, diz.

De acordo com ela, as regras nos esportes para surdos são idênticas às de atletas sem deficiência, e a única adaptação que deve ser feita é a substituição da sinalização auditiva por visual. Entre os atletas que têm permissão para competir nos Jogos de Surdos não há classificações ou restrições, exceto a exigência de que tenha perda auditiva de pelo menos 55 decibéis no melhor ouvido.


Foto: David Mark

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