Mesmo com desempenho positivo no esporte, Ribeirão Preto não tem equipe profissional feminina
Na cidade, as mulheres apresentam resultados superiores ao dos homens

Mesmo com desempenho positivo no esporte, Ribeirão Preto não tem equipe profissional feminina

Atletas profissionais da cidade falam sobre os obstáculos enfrentados por conta do gênero

Mesmo com desempenho positivo no esporte de Ribeirão Preto, a cidade ainda não possui uma equipe profissional feminina. Nas categorias de base, as conquistas são muitas, mas a falta de patrocínio atrapalha a evolução das mulheres.

Um dado disponibilizado pela Secretaria de Esportes, com base nos Jogos Regionais de Ribeirão Preto, revela que as mulheres têm se mostrado mais eficientes que os homens. No último ano, 486 ribeirãopretanos participaram do evento, destes, 258 eram homens e 228 mulheres, no entanto, a maior parte dos troféus foram conquistados pelas equipes e atletas femininas.

Dentre os títulos, Ribeirão Preto foi campeã 16 vezes, um prêmio para a equipe mista, seis para a masculina e 9 para as mulheres. O mesmo desempenho foi repetido com os segundos e terceiros lugares, já que cinco vezes as meninas ficaram com o vice enquanto apenas três os homens. Nas terceiras colocações, foram cinco medalhas paras os times femininos e três para os rapazes.

No entanto, estes dados parecem não sortir efeito para os patrocinadores. O secretário Ricardo Aguiar explica que a falta de equipes repletas por mulheres profissionais está ligada às dificuldades da arrecadação de dinheiro.

“Sempre valorizamos o esporte feminino da cidade, haja visto os resultados e números. Em 2018, quase 50% foi constituída por mulheres em inúmeras modalidades. São boa equipes. Temos atletas de seleções e equipes campeãs no continente. Entretanto, nós temos modalidades que já fomos em busca de patrocínios, mas são esportes caros e não conseguimos o apoio suficiente para o investimento profissional”, disse Aguiar.

A prova disso ocorre diariamente com Nilza Morais. Aos 44 anos, a atleta é campeã paulista e brasileira em corridas nas montanhas. Ela carrega o nome de Ribeirão Preto em todos os locais por onde compete, mas quase sempre os custos saem do próprio bolso.

“Nas competições eu vivo na tentativa de ultrapassar meus limites físicos e emocionais para me colocar em igualdade com atletas masculinos. Quando acaba a prova os atletas homens que ultrapassei nem olham para mim. Poucos me cumprimentam. A presença da mulher no esporte se torna cada vez maior, mas fisicamente os homens são bem mais fortes. Essa é a única diferença que vejo. Pois as mulheres têm transformado o mundo. A mulher de hoje quebra severas restrições calcada de valores masculinos”, comentou Nilza.

Para ela, em relação á patrocínio os homens são bem mais vistos. “Nós mulheres precisamos conquistar um nível a mais no esporte para conquistar tal visibilidade. Por conta dos meus resultados conquistados em 2018, hoje tenho parceiros, mas patrocínio em dinheiro não tenho nada, o que faz com que os valores com hospedagem, translado, inscrição, alimentação sejam supridos por mim. Eu fui atrás de muitas empresas, mas mesmo com meu currículo não consegui nada até o momento, no entanto, algumas dessas patrocinam homens”.

Preconceito e ensinamentos

Entre as atletas profissionais, Mariana Garcia tem se destacado. Única integrante da equipe de ciclismo, compete em modalidades paraolímpicas e além de enfrentar barreiras por ser mulher, também sofreu preconceito por ter deficiência. “Pessoas com deficiência sofrem com a falta de acessibilidade em prédios, hotéis, estabelecimentos públicos e comerciais, e transporte coletivo. Isso exclui muitas vezes o nosso direito de ir e vir. Os direitos das pessoas com deficiência estão melhorando muito lentamente, é por isso que eu não me privo de ir a qualquer lugar onde eu queira estar, pois se eu ficar em casa me lamentando as pessoas nunca irão enxergar as dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam no seu dia-a-dia. Qualquer esporte de alto rendimento exige do atleta muita disciplina e determinação. Mesmo com as dificuldades por várias questões, o paraciclismo é minha paixão”, falou Mariana.

Verônica Rubião atualmente é professora de caratê. Ela contou que já teve dificuldades em relação à credibilidade e respeito em aula, pelo fato de ser mulher e muitas vezes dar aulas para homens e pessoas mais velhas que ela, mas com o tempo mostrou o trabalho e ganhou reconhecimento. “Hoje essa diferença entre gêneros está menor, temos muitas mulheres na arte marcial como atletas e como professora. Eu acho isso sensacional, pois na época que comecei eu era a única menina”, explicou Verônica – atual técnica da equipe de competição de Ribeirão Preto e da seleção paulista de caratê.

Mariana, Verônica e Nilza possuem destaques em modalidades diferentes

 


Foto: Divulgação e Arquivo Pessoal

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