Política e esporte se misturam em Ribeirão Preto

Política e esporte se misturam em Ribeirão Preto

Entre honrarias e leis, esporte só consome 0,5% do orçamento do município

O presidente do Comercial, Brenno Spinelli, deve receber uma homenagem na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, isso se for aprovado pelos vereadores nesta terça-feira, 15, o título de Cidadão Emérito, proposto por Bebé (PSD), o que deve ocorrer sem muitos entraves.

Homenagens à gente ligada a esportes ou atletas não são muitos raras na Câmara. No início deste mês, o vereador Beto Cangussu (PT) propôs o título Ordem do Mérito Esportivo a equipe de futebol americano Botafogo Challengers, em razão da grande campanha do time na Copa América da modalidade, realizada em fevereiro, no México, onde obteve o vice-campeonato.

Além dessas honrarias, os vereadores também se aventuram na criação de leis para a seara esportiva. Por exemplo, em 2015, foram aprovadas cinco leis que envolvem de alguma maneira o esporte, como a lei 13.610, que regula a venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios de futebol, de autoria de Walter Gomes (PR), que contou com bastante apoio dos dois principais clubes de futebol da cidade, Comercial e Botafogo, que enxergaram aí a oportunidade de captar mais recursos.

Outra proposta importante para os clubes que passou pela Câmara foi a lei de incentivo ao Esporte, de André Luiz da Silva (PC do B) que prevê a isenção parcial de Imposto Sobre Serviços (ISS) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para pessoas físicas e jurídicas que patrocinarem eventos esportivos, clubes e esportistas a partir de 2017.

Essa lei foi questionada pela prefeita Dárcy Vera (PSD), sob a alegação de vício de iniciativa por separação de poderes, por ser prerrogativa do Executivo legislar sobre o assunto, por se tratar se receitas, arrecadação, o que foi considerado improcedente pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP).

Nas últimas semanas, a miscelânea entre esporte e política extrapolou as casas de lei e foi de fato para rua, ou melhor, aos estádios. Primeiro foi a manifestação da torcida uniformizada Gaviões da Fiel contra os preços dos ingressos e também por pedidos de punição ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), investigado na operação Alba Branca, da Polícia Civil, por suspeita de desvios e superfaturamento no dinheiro da merenda das escolas públicas.

Capez, como promotor, ganhou destaque nos anos 1990, por ter iniciado a campanha para a extinção das torcidas uniformizadas no Estado, ao considerar que elas são as principais fomentadoras da violência nas partidas de futebol.

A atitude da torcida corintiana, que voltou a repetir o protesto na manifestação do último domingo, 13, foi reproduzida por duas uniformizadas em Ribeirão Preto, a Mancha Alvinegra, do Comercial, e a Kamikaze, do Botafogo.

O sociólogo e pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc) Silas Nogueira aponta que as organizações esportivas têm grande capacidade de organização, e por isso são vistas com importância por políticos ou movimentos para expansão de pautas.

“As torcidas organizadas e as instituições esportivas são um grande instrumento de mudança política. Porque lá dentro você pode fazer escola, como é feito na Gaviões, Mancha Verde, entre outras, e permite que as ideias sejam difundidas para mais pessoas de maneira mais sólida”, pontua Nogueira.

As contas não fecham

Mesmo com tamanha importância aos anseios políticos, o esporte não é muito bem tratado quando o assunto são investimentos. O orçamento de 2016 da Prefeitura de Ribeirão Preto só prevê 0,5% dos gastos públicos com esta área, o equivalente a 10,8 milhões. Apenas as secretarias de Meio Ambiente (0,43%) e Turismo (0,03%) têm o caixa mais magro, com 9,3 milhões e 663,5 mil nos cofres, respectivamente.

A título de comparação, o Ministério do Esporte tem um orçamento de R$ 5 bilhões, o equivalente a 1,6% de todo orçamento da União para 2016. Entretanto, é preciso levar em consideração que este ano haverá Jogos Olímpicos no Brasil.

Entre outros, a pouca importância dada ao esporte na hora de repartir o dinheiro público foi a grande culpada da não organização dos Jogos Abertos do Interior em Ribeirão Preto - realizado em Barretos e Sertãozinho – que oficialmente saiu do calendário da cidade por não ter onde hospedar os atletas durante as competições. Caso os jogos tivessem sido realizados em Ribeirão Preto, a Secretaria Estadual de Esportes investiria até R$ 1,2 milhão no município.

 

Foto: Arquivo Revide

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