Radicado em Ribeirão Preto, ex-jogador guarda camisa de algoz do Brasil na Copa de 82
Camisa usada pelo atacante italiano Paolo Rossi na vitória sobre o Brasil virou relíquia guardada por Juninho Fonseca

Radicado em Ribeirão Preto, ex-jogador guarda camisa de algoz do Brasil na Copa de 82

Ex-zagueiro e hoje comentarista, Juninho Fonseca tem relíquia da partida mais lamentada do futebol brasileiro

Ter em mãos a principal lembrança de seu maior algoz, naquela batalha que ficou marcada pelo triunfo dele. Fato épico, que poderia fazer parte de um livro da literatura clássica. Porém, é o que acontece com o comentarista esportivo Juninho Fonseca, que há anos vive e trabalha em Ribeirão Preto. Ele tem em casa a camisa número 20 da Itália da Copa do Mundo de 1982.

Para quem não está familiarizado com o número, a camisa é a de Paolo Rossi, artilheiro do Mundial daquele ano e autor de três gols da vitória italiana sobre o Brasil, que culminou na eliminação daquele que é apontado como um dos maiores times de futebol brasileiro da história. Juninho Fonseca estava em Barcelona aquele dia. Ou melhor, estava no banco: era o zagueiro reserva da seleção brasileira.

Aos 23 anos, Juninho era um dos destaques da Ponte Preta e, desde 1976, colecionava convocações para seleções brasileiras de categoria de base, tanto que jogou a primeira Copa do Mundo Sub-20, em 1976, organizada na Tunísia. Depois disso, tornou-se titular da equipe de Campinas e foi convocado para a disputa das Eliminatórias para a Copa de 1982.

Por ser um dos caçulas da seleção e, na época a Fifa permitir apenas 5 jogadores no banco de reservas, Juninho só teve a oportunidade de ir para o banco do Estádio Sarriá justamente no jogo mais importante para o Brasil na Copa do Mundo. Isso porque, o outro zagueiro reserva, Edinho, machucou-se em uma das partidas anteriores.

Ele conta que, durante o jogo, mesmo com o Brasil atrás no placar – a seleção brasileira ficou em desvantagem três vezes, e em apenas duas conseguiu igualar o marcador – tinha confiança de que, a qualquer momento, o Brasil faria o terceiro e empataria em 3 a 3, o suficiente para classificação para as semifinais.

“O Brasil ficou o tempo todo atrás. Se você contar o tempo que o jogo passou empatado, não deve ter sido mais do que 30 minutos. Nem isso. Saiu atrás, mas tinha um poder de fogo muito grande, um ataque imponente, com jogadas variadas, vários jogadores tinham feito gols. Era uma seleção madura, com jogadores que já tinham ido para Copas anteriores”, recorda.

Paolo Rossi abriu o placar para Itália logo aos 5 minutos de jogo. Sócrates empatou para o Brasil aos 12, só que, aos 25 minutos de jogo, Rossi fez o segundo da Itália. Falcão empatou para o Brasil aos 22 minutos do segundo tempo. Entretanto, aos 29 minutos, Rossi, de novo, marcou e fez o terceiro, fechando o placar. Final: 3 a 2 para a Itália.

Juninho conta que não teve intenção nenhuma de pegar a camisa do atacante italiano. Ele lembra que, após a partida, ainda sem entender muito que havia acontecido, embora reconhecesse que a Itália tinha um time bastante experiente, foi até o vestiário dos vencedores da partida.

“Bati no vestiário e na hora não vi qual era a camisa. Só vi depois, e percebi que tinha uma coisa diferente assim. A histórias vão ressaltando alguns pontos que são importantes”, pontua o hoje comentarista, que diz que entregou a camisa que estava naquele dia na mão de algum membro da comissão técnica italiana e recebeu de volta outra.

“Não existia muito isso de trocar camisa. Fui lá no vestiário, falando italiano, espanhol, português, aquela coisa, porque o esporte é meio universal. Você faz gestos, sinaliza, faz expressão fácil, aí veio a camisa. Tem um peso, para o bom e para o mau”, recorda.

Juninho diz que já recebeu diversas ofertas pela relíquia, porém, ele não tem intenção de vender e, sim, de criar um museu itinerante. Enquanto isso, a camisa fica guardada com ele, seja em Olímpia, onde vive a família, ou em Ribeirão Preto, onde mora.

O ex-jogador ainda conta que nunca tinha tido a oportunidade de conversar com o carrasco daquele verão espanhol de 1982. Depois da partida, Juninho recorda que a sensação era de que tudo não passava de um sonho. Prova disso foi que, ao entrar no ônibus da seleção, disse: “Pessoal, tranquilidade. Isso aí só é um sonho. O jogo é amanhã”.

Anos depois, em 1989, reviu alguns dos jogadores que entraram em campo naquele dia, em uma partida em homenagem ao zagueiro italiano Scirea, morto precocemente naquele ano. Desta partida, ele guarda a camisa que usou e outra, de um italiano, o ex-atacante Grazziani. Mesmo assim, nunca chegou a tocar no assunto da relíquia que tem em casa.


Foto: Arquivo Veja; arquivo pessoal

Compartilhar: