Cuidado interdisciplinar

Cuidado interdisciplinar

Equoterapia oferece uma abordagem multidisciplinar, além dos animais, equipe conta com fisioterapeutas e psicólogos

O uso de animais para fins terapêuticos tem ganhado cada vez mais espaço no tratamento de diversas doenças.  A equoterapia é o método que utiliza o cavalo em uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, com destaque para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência. As sessões de equoterapia são divididas em três momentos: a aproximação, que é a escovação, a alimentação, o contato físico e visual do paciente com o animal; a montaria, na qual há a ativação de capacidades motoras e físicas; e o desligamento, importante para a criança entender o encerramento de ciclos e aguardar o próximo encontro. Segundo a  equoterapeuta, fundadora do Centro de Equoterapia no Haras Al Khamsa, em Ribeirão Preto, Emanuela Bastos, os benefícios da equoterapia são cientificamente comprovados. Ela pode ser aplicada em patologias neurológicas, como o AVC e a paralisia cerebral, em síndromes e também em casos psiquiátricos, dentre eles o transtorno do espectro autista, um dos quadros de atendimento mais comuns. “No caso, da paralisia cerebral, a criança geralmente não tem o controle de tronco e pescoço. Com o cavalo, essa criança vai receber o movimento chamado de tridimensional”, explica a especialista. 

Além disso, o movimento cadenciado do animal ajuda a acalmar as crianças autistas. “O movimento da égua vai regular essa criança que, as vezes está agitada, nervosa”, exemplifica Emanuela. A montaria melhora a mobilização pélvica, articulações do quadril, o equilíbrio, a postura e o desenvolvimento da coordenação de movimentos. No entanto, a equoterapia não é focada apenas na capacidade motora e física, ela ajuda também na autoestima. “Na alimentação que é o primeiro momento da terapia em que a criança observa um animal de grande porte se alimentando, ela vai aprender a fazer carinho, a escovar, o que adentra no campo da autoestima. Estimulando a criança a querer se olhar e se cuidar. O paciente percebe que está cuidando de um animal de 600 kg sendo que ele nunca conseguiu escovar o próprio cabelo. A terapia começa na autoestima”, pontua. 

TRABALHO EM EQUIPE

No Centro de Equoterapia de Ribeirão Preto, a psicóloga e equoterapeuta, Laritsa Dias, e o fisioterapeuta e equoterapeuta, Gustavo Vilela, trabalham em conjunto com Emanuela em uma abordagem multidisciplinar. A psicologia na equoterapia visa à estimulação do paciente, avaliando suas potencialidades e limites. No primeiro contato com o paciente e a família é determinada a forma como a prática será aplicada para aquele indivíduo e qual animal será utilizado. “Na primeira sessão nós vamos com muita calma, porque nem sempre a criança chega e já parte para a montaria, existe todo um processo. Tem criança que já está mais adaptada com o animal e tem aquelas que não o conhecem”, pondera a psicóloga. 

Além da psicóloga, o fisioterapeuta desempenha um papel fundamental durante as sessões, abrangendo todas as habilidades motoras. “Proporcionamos exercícios avaliando se o paciente consegue executar sozinho ou se necessita da intervenção do fisioterapeuta. Nós usamos o cavalo como um fator cinético terapêutico, tornando nossa equipe interdisciplinar”, declara Vilela. Os animais também necessitam atenção especial para a execução de sua função na equipe. A fundadora do Centro explica que os cavalos precisam ser dóceis e não podem ser muito altos, para caso haja alguma intercorrência a criança possa ser retirada com segurança. Além disso, o animal precisa sempre ser higienizado, vermifugado, bem escovado antes das sessões, estar sempre com a vacinação em dia e com o casco muito bem feito, no máximo a cada 40 dias, porque a postura correta do animal depende d o casco. 

MELHORA NOTÁVEL

Para Amanda Félix, mãe de Nicolas, criança de sete anos diagnosticada com paralisia cerebral leve do lado esquerdo e autismo grau três, os benefícios da equoterapia são nítidos. “Eu sempre pesquisei sobre tratamentos e vi que a equoterapia, além de benefícios motores, também tem a questão de vínculo e cuidado. O Nicolas, com os animais, não tinha esse contato, mas a equoterapia passou a ter”, conta. Segundo ela, a equoterapia se difere de outras terapias, pois transforma o tratamento em um momento prazeroso. “A equoterapia deixa a criança mais à vontade. Quando ele vai para uma terapia convencional, às vezes ele nem quer fazer, diferente daqui. Aqui ele não vê como uma terapia, ele vê mais como um brincar, ficar ao ar livre, ele ama”, ressalta Amanda. A procura do método por indicação médica foi o caso de Marcela Mendonça, mãe de Bruno, de quatro anos e meio, diagnosticado com paralisia cerebral, hidrocefalia e epilepsia refratária. Bruno começou a praticar a equoterapia em novembro de 2021 e, até o momento, a mãe garante ter observado uma grande evolução. “Na parte motora vimos uma melhora no controle cervical, já na parte sensorial, na visão”, relata. “O contato com o animal promove um momento único de amor. O Bruno tem um carinho enorme pela Pipoca. Fazemos a ida a equoterapia um passeio relaxante”, acrescenta Marcela. 

Após quatro meses de tratamento, Daniela Lacerda vê melhoras na qualidade de vida do filho Anthony. Ele tem dois anos e apresenta o diagnóstico de paralisia cerebral anoxia. “Na primeira vez que nós viemos para cá, saímos de casa com ele super agitado, mas ao chegar no haras, ele dormiu. Fiquei em paz por ver que se tratava de um ambiente agradável para ele”, relata. Desde pequeno, Nicolas, filho de Ludmilla Etchebehere, sempre gostou de cavalos. O gosto pela equoterapia começou em 2005, quando Nicolas tinha oito anos. Apesar de não ter um diagnóstico preciso, ele nasceu prematuro de 24 semanas e ficou com problemas no comportamento. “Ele não é autista, mas apresenta alguns aspectos. Ele não verbaliza e ficou com um comprometimento na parte motora, mas tem a compreensão muito boa. Como mãe, sinto que ele tem muito ainda para desenvolver na equoterapia, ele sai feliz daqui. Eu sei que cientificamente existem muitos artigos, mas para quem é mãe sabe, nós sentimos. O olhar do filho, o jeito que ele se sente com o animal é algo que não precisaria ter comprovação, porque para a mãe é sentido”, ressalta Ludmila emocionada.

APADRINHAMENTO

Por se tratar de um método terapêutico com uma demanda maior de profissionais e cuidados com os cavalos, a equoterapia possui um custo elevado. Por isso, o programa de apadrinhamento foi desenvolvido para que voluntários pudessem ajudar as famílias que não podem pagar pelo tratamento. Qualquer pessoa que tenha vontade de colaborar com o tratamento de um paciente pode fazer esse apadrinhamento, com o prazo mínimo de um ano. Para realizar o apadrinhamento, basta entrar em contato no Centro de Equoterapia pelo telefone (16) 99393-3712. “Ao entrar em contato comigo, nós apresentaremos uma família que não tem condições de pagar. Se for uma pessoa ou empresa que conheça alguém que pode se beneficiar do tratamento e quiser apadrinhar essa criança, também é valido”, informa Emanuela. 


Fotos: Luan Porto

Compartilhar: