Recomeçar sempre

Recomeçar sempre

Em seu segundo livro, “O Outro Lado de Alvinho”, o psicólogo e psicanalista Ionan Ferreira Santos aborda a fase adulta do personagem e traz como mensagem jamais desistir de seus objetivos

Uma jornada com armadilhas, desafios e recomeços em plena vida adulta. É o que vive o personagem principal de “O Outro Lado de Alvinho”, o segundo livro do psicólogo e psicanalista Ionan Ferreira Santos. A publicação finaliza a saga do protagonista iniciada em “Memórias de Alvinho”, que relata o sofrimento psíquico de uma criança através do olhar da psicanálise. Na nova obra literária, o autor destaca que um dos capítulos demonstra a importância da arte na sublimação dos males tanto da criança quanto no ser adulto. Nos dois livros, o ponto-chave é a busca pela ajuda psicológica e psicanalítica para solucionar problemas do passado ou que enfrentamos no momento. De acordo com Ionan, o melhor momento para procurar auxílio profissional é quando as dores da alma se tornam insuportáveis, tendo em vista a consciência da supremacia da existência e de que todos nós precisamos uns dos outros. “Este é o momento que vale a percepção de que precisamos de ajuda psicológica/psicanalítica, quando não conseguimos resolver sozinhos as nossas angústias”, orienta.


A história de Alvinho mostra que a saúde mental precisa ser levada mais a sério. O assunto está mais em voga, especialmente após a pandemia da Covid-19. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Para se aprofundar no assunto, a OMS divulgou, em junho deste ano, sua maior revisão mundial sobre saúde mental desde a virada do século 21. O relatório fornece um plano para que governos, profissionais da saúde, acadêmicos e também a sociedade civil apoiem o mundo na transformação dessa área, que sofreu diversos baques com o coronavírus. O trabalho demonstra que a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia. E os motivos que causaram essa piora são diversos: preocupações financeiras, desemprego, estresse causado pelo isolamento social, luto vivenciado por milhões de pessoas após perder alguém querido por conta do vírus, solidão e o medo de se infectar com a doença. No relatório, a OMS recomenda que os países aprofundem o valor e o compromisso que dão à saúde mental, com mais investimentos na área. Já um estudo do Instituto FSB Pesquisa, de janeiro deste ano, mostrou que a pandemia dificultou os cuidados com a saúde e o bem-estar do brasileiro para 54% dos entrevistados e revela que 60% dos brasileiros que fazem terapia começaram o tratamento após o surto de Covid-19 no mundo. Além disso, uma pesquisa da Associação Brasileira de Psicologia da Saúde (ABPS), que entrevistou 121 profissionais da área entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, aponta que 83,5% dos psicólogos ouvidos perceberam um aumento de demanda dos pacientes na pandemia e 86% perceberam maior sofrimento dos pacientes durante o período.

 


Os cuidados com a saúde mental podem começar pela terapia. Para Ionan, a psicanálise ajuda a refletir sobre as questões da vida e a resolver os problemas pessoais. Segundo ele, a psicanálise pontua que é preciso amar para não adoecer e que o processo analítico contribui, levando o ser humano a enxergar as oportunidades e possibilidades que a vida oferece, gerando um processo de transformação e evolução. Nosso caráter é construído na infância e é preciso identificar os traumas adquiridos nesta fase da vida para conseguir trabalhá-los internamente. “O caráter está ligado à construção da personalidade do sujeito. Os filhos são sintomas dos pais, portanto, na primeira infância, assim como na segunda, as responsabilidades maternas e paternas são imprescindíveis. Os traumas e os sintomas podem ser identificados através da agressividade exacerbada da criança ou, por outro lado, através de um estado depressivo quando ela se fecha para o mundo. Nesses casos, a criança deve ser encaminhada ao processo analítico, onde o profissional da área da saúde mental deverá fazer constantes entrevistas com os pais, convocando-os para reflexões sobre a participação deles no sofrimento da criança”, recomenda. O psicanalista ainda argumenta que as vivências que temos com nossos pais interferem diretamente em nosso psicológico e que o universo psíquico da criança funciona como uma esponja, pois absorve todas as neuroses dos genitores. “É possível identificar que determinadas vivências são boas quando uma criança é bem amada e se torna plena. Em psicanálise, plenitude é sinônimo de felicidade. A criança feliz gosta de brincar e interagir com as outras crianças. É preciso salientar que o brincar é o trabalho da criança. Por outro lado, quando os pais vivem uma relação tóxica, baseada em ausências, cobranças, agressões e culpas, certamente essa realidade desencadeará na criança inúmeros sofrimentos”, alerta.

 


Para nos tornarmos sobreviventes de nossas vivências, assim como o personagem Alvinho, Ionan observa que isso acontece através das reflexões. De acordo com ele, cada sujeito deve se conscientizar de seus males e mensurar o tamanho de seu sofrimento. “Buscar ajuda torna-se um ato fundamental, vencendo, portanto, as suas próprias resistências. A psicanálise em essência é a cura pelo amor. Através dela, nós podemos aprender que primeiramente é preciso amar e perdoar para podermos seguir em frente”, pontua. Ele acredita que são várias as lições deixadas pelo protagonista de seus dois livros. Entre essas lições, que não podemos permitir que nossas dores definam o nosso futuro. “Já que a vida é feita de recomeços, é preciso aprender a fazer novas escolhas, respeitando os seus desejos, não abandonando seus sonhos e fantasias e lembrando que todo ser humano deve ser fiel a si mesmo e leal com os outros. Portanto, para o protagonista desta história, enquanto há vida, há análise”, conclui Ionan. Ele salienta que seu novo livro, “O Outro Lado de Alvinho”, é a conclusão em aberto de “Memórias de Alvinho”. As vivências, as reflexões, os aprendizados e as transformações ocorridas durante a vida deste sobrevivente deverão ecoar em toda a sua existência. “Talvez, daqui a alguns anos, eu possa resgatar a saga de Alvinho. No momento, estou construindo uma obra literária baseada em minhas experiências clínicas. O próximo livro deverá tratar da alma feminina. Aguardem o ‘Caso Antonella G’”, finaliza. 


Foto: Luan Porto

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