Água contaminada
A água que sai da torneira em Ribeirão foi considerada como imprópria e acima do limite de segurança

Água contaminada

Levantamento aponta que a água de 763 cidades brasileiras tem produtos químicos e radioativos. Em Ribeirão Preto, foi encontrado o nitrato, uma substância que pode causar doenças crônicas

A água que sai da torneira de nossas casas em Ribeirão Preto pode estar contaminada com uma substância cancerígena. É o que revela um levantamento feito pela organização Repórter Brasil. Segundo a publicação, a água de 763 cidades brasileiras tem produtos químicos e radioativos. Ribeirão está entre esses municípios. A água daqui foi considerada como imprópria e acima do limite de segurança, o mais perigoso da escala, pois foi encontrado substâncias como o nitrato. As análises foram feitas por empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento das cidades. Os dados são de 2018 a 2020, fazem parte da base de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, e foram interpretados conforme os parâmetros da pasta federal. Segundo a organização, o nitrato é considerado como potencialmente cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), um órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS). No município, o abastecimento é feito com água extraída do Aquífero Guarani. Já a Secretaria de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Saerp) garante que, em uma avaliação recente, foi verificado que o índice de nitrato se encontra dentro dos padrões recomendados. 

O professor Marcelo Pereira de Souza, titular na área de Política e Gestão Ambiental da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), explica que as águas subterrâneas são essenciais para a vida por abastecerem a população, servirem para a agropecuária, suprir as indústrias e sustentarem vários sistemas aquáticos como rios, riachos, lagos e oceano. No geral, apresenta excelente qualidade, podendo ser utilizada para abastecimento humano sem tratamento. Quando apresenta alguns elementos químicos incorporados, normalmente são oriundos de dissolução de minerais nas rochas. “Contudo, com a crescente urbanização e a marcante presença das atividades do ser humano, a contaminação de águas subterrâneas tem sido cada vez mais frequente e é consequência de atividades humanas, como as cidades, as indústrias, a estocagem de produtos que oferecem risco e perigo de poluição e contaminação, além do lançamento de efluentes líquidos, como os esgotos. No caso de Ribeirão, foi encontrado o nitrato acima do que é considerado como aceitável, podendo ocasionar problemas para a saúde humana”, detalha o professor.

Ele explica que a presença de fossas, as precárias condições das redes de esgoto existentes – muitas vezes antigas e com vazamento –, e a ausência ou a ineficiência de sistema de tratamento de esgoto contaminam as águas superficiais e as subterrâneas com diversas substâncias, principalmente o nitrogênio. Outra maneira de contaminar água subterrânea é a presença de poços de extração sem a devida licença do órgão estadual responsável e ausência de fiscalização e monitoramento da quantidade e qualidade. “A perfuração sem os devidos cuidados técnicos, a operação inapropriada e o posterior abandono do poço perfurado sem os procedimentos de lacração são ações de grande risco para a contaminação das águas subterrâneas”, ressalta Souza.

O professor relata ainda que a água subterrânea utilizada para o abastecimento público em Ribeirão Preto não necessita de um sistema de tratamento de água convencional, apenas pode ser adicionado cloro para desinfecção no caso de alguma contaminação de organismos patogênicos, mas isso não elimina o nitrato. “Para removê-lo, é preciso instalar e a utilizar filtros especiais, como a troca iônica e osmose reversa. Isso com a devida operação, manutenção e monitoramento desses filtros, e um aumento de custos do sistema. A cidade tem aproximadamente 120 poços no abastecimento público, além dos inúmeros poços particulares, e significaria instalar filtros em praticamente todos os que apresentarem nitrato em concentração acima do permitido”, esclarece.

ABASTECIMENTO

A Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Saerp) informou que o abastecimento de água no município é feito exclusivamente por 120 poços que extraem água do Aquífero Guarani. “Tal informação sobre a presença de nitrato ocorreu de uma análise entre 2018 e 2020 e em um único poço, podendo variar sua concentração em determinada época do ano. O nitrato e seus compostos são utilizados na fabricação de fertilizantes, conservação de alimentos, entre outros, e os riscos são maiores para quem bebe a água ao longo de muito tempo, como muitos meses ou anos, em concentrações elevadas, sendo que neste caso foi apontada a presença do nitrato uma única vez, entre 2018 e 2020. No entanto, após a explotação da água nos poços, ela se dilui no sistema de abastecimento, diminuindo consideravelmente a concentração do nitrato, ficando sempre bem abaixo do limite permitido”, declara a pasta. Além disso, a secretaria garante que, periodicamente, são feitas análises nos poços e, em uma avaliação recente, foi verificado que o índice de nitrato se encontra dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde. 


Foto: Mariana Rocha

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