Para Marina Silva, crise é da política e não do governo

Para Marina Silva, crise é da política e não do governo

Marina esteve presente em Ribeirão Preto, onde falou para estudantes

Para Marina Silva (Rede), as crises política, econômica, de valor, ambiental e social que a sociedade vive configuram uma crise maior, que é de toda civilização, e envolve todas as pessoas. Para ela, isso é comum na humanidade, porém hoje há um diferencial, pois a sociedade está ciente dos problemas pelos quais passa.

A ex-ministra e senadora lecionou uma palestra na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP), da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, nesta terça-feira, 16. Marina acredita que a crise política não é específica do governo, e sim da política.

“Estamos no fundo do poço, mas a crise é mais profunda, é na própria política”. Marina aponta que o modo de fazer política precisa ser mudado e cita o sociólogo polonês Zygmunt Bauman para ilustrar a situação.

“‘Política é a arte de juntar pessoas para fazer mais do mesmo’, e isso se deve porque o ‘Sistema’ é imutável, e vem daí essa crise. O Obama é homem mais poderoso no mundo, mas não consegue mudar o sistema da saúde dos Estados Unidos. Nós falamos que a culpa é dos congressistas do Partido Republicano, mas eles só estão defendendo um sistema”, afirma.

Porém, ela acredita que este cenário está se transformando, já que as maneiras de ativismo estão mudando, lembrando dos protestos de Junho de 2013 e do movimento dos Indignados, na Espanha, pois as pessoas, especificamente os jovens, se tornaram autônomos.

“Está surgindo um novo sujeito político no mundo que vai reinventar o jeito de fazer política. Notamos que eles não têm lideranças, isso porque hoje não é mais um ativismo dirigido, que envolve partidos, sindicatos e líderes carismáticos, no qual me incluo”, explica a ex-senadora, que defende que o papel dos líderes é fazer com que as pessoas percebam que não necessitam de líderes para fazer a diferença.

“Quando começou a perseguição a Chico Mendes, eu levava todos mantimentos para ele. Imagina eu, que hoje sou magrinha, trinta anos atrás enfrentando jagunços doidos para pegar Chico Mendes? Então fui perguntar para o arcebispo porque ele me escolheu para fazer isso. Eu esperava que me dissesse que era porque tinha força. Mas ele respondeu  ‘para quem não tem condições, qualquer um serve’. Foi aí que aprendi que qualquer pessoa pode fazer a diferença”, recordou.

Crise ambiental

Marina não acredita que as crises econômica e social possam ser resolvidas totalmente quando for resolvida a crise ambiental. “Podemos perder 2% ou 3% do Produto Interno Bruto, mas temos que lembrar que nós perdemos a biodiversidade mil vezes mais rápido do que há cinquenta anos. Isso é mais grave que a bomba de hidrogênio”, afirmou.

Ela ainda lembrou que a crise hídrica que a região sudeste passa nos últimos é reflexo do desmatamento na Floresta Amazônica. Sobre a tragédia de Mariana, Marina muda o adjetivo, e trata como crime.

“É um crime o que ocorreu em Mariana. As investigações vêm mostrando que a Samarco sabia que poderia dar problemas e não tomou providências. Os responsáveis têm de ser punidos. Presidente, diretor e os técnicos da empresa responsáveis por isso devem ter os bens congelados e impedidos de deixar o País”, aponta Marina, que afirma que se encontrou com deputados federais da Rede, e propôs que fosse criada uma legislação que torne esse tipo de crime como hediondo.


Foto: Leonardo Santos

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