Palestinos e simpatizantes da região fazem ato no calçadão de Ribeirão Preto
Dezenas de pessoas discursaram e fizeram passeata durante o ato ‘Cessar Fogo Já’, que pressiona por fim dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza
Um trecho do calçadão da rua General Osório, no Centro de Ribeirão Preto, foi palco, na manhã deste sábado (11), do ato “Cessar Fogo Já”, que reuniu dezenas de pessoas, entre palestinos radicados na região e simpatizantes, desde as 9h da manhã até por volta de 12h. Organizado pela Mesquita da Luz “An-Nur”, o ato pediu o fim dos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, que já duram mais de um mês.
Desde que ataques coordenados do grupo radical islâmico Hamas causaram 1.400 mortes e fizeram mais de 200 reféns em Israel, no último dia 7 de outubro, a contraofensiva israelense já fez mais de 10 mil mortos na Faixa de Gaza, dominada pelo grupo. Entidades internacionais têm pedido por um “cessar fogo” que permita a entrada de ajuda humanitária no território, mas sem sucesso.
Entre os manifestantes no calçadão havia mulheres usando hijad (véu usado em torno da cabeça), ao menos uma delas de burca (vestimenta muçulmana feminina que só deixa os olhos à vista), homens, mulheres e crianças com camisetas da Antifa (conglomeração de grupos de esquerda contra o fascismo) e muitas pessoas portando bandeiras da Palestina, que eram agitadas em hastes ou amarradas ao corpo. Entre os simpatizantes da causa havia também sírios, libaneses e descendentes radicados na região.
Em palanque montado em frente ao calçadão da rua Tibiriça, várias lideranças da comunidade palestina na região discursaram. Entre elas a antropóloga e professora universitária na USP Ribeirão Francirosy Campos Barbosa, estudiosa do Islã há 26 anos e desde 2019 também da Islamofobia no Brasil. Para ela, atos como o deste sábado são necessários para chamar a atenção da população para o contexto histórico do conflito no Oriente Médio. “Infelizmente a causa palestina não é conhecida ainda e a gente tem pouco espaço de divulgação sobre o que foi, por exemplo, a Nakba [leia box], a expulsão dos palestinos em 1948. Então as pessoas acabam achando que a situação começou no dia 7 de outubro”, declarou.
Presidente da Associação Nacional de Juristas Islâmicos (Anaji), o advogado Girrad Sammour veio de Barretos para participar do ato. De acordo com ele, a entidade, que reúne juristas de todo o país no combate à intolerância religiosa por meio de informação e, quando necessário, interpondo ações judiciais, o volume de denúncias de intolerância contra palestinos aumentou, desde 7 de outubro, em torno de 1.000%. “É necessário esse tipo de movimento porque na nossa sociedade, infelizmente, as pessoas não têm todas as informações sobre a história e acabam formando um juízo de valor sobre o Oriente Médio sem saber que fazemos uma resistência legítima. Não é uma guerra religiosa, mas territorial, que já dura 70 anos”, afirmou.
Após os discursos, os manifestantes saíram em passeata pelo calçadão da rua General Osório, repetindo em coro palavras de ordem como “E viva a luta do povo palestino...”. Durante o trajeto, chamou a atenção a pequena Nur, de 7 anos, que de cima dos ombros do tio Ocba puxava o coro “Palestina livre”.
Após percorrer em ida e volta o trecho entre as ruas Tibiriçá e a Amador Bueno, a passeata parou de novo em frente ao palanque, onde mais dois discursos encerraram o ato. Viaturas da Polícia Militar permaneceram estacionadas no calçadão da rua Tibiriçá durante toda a manifestação. Não foram registrados incidentes.
BREVE HISTÓRIA DO CONFLITO
Os conflitos entre israelenses e palestinos começaram com a criação do Estado de Israel, oficializada em 1948, mas que começou a ser gestada no final do século 19, com o surgimento do movimento sionista. Os sionistas defendem, até hoje, o retorno dos judeus à Palestina, onde seus antepassados viveram desde por volta de 1,5 mil a.C. até o ano 70 da nossa era, quando foram expulsos pelos romanos na que ficou conhecida como Diáspora Judaica. A região passou, então, a ser ocupada pelos árabes muçulmanos, desde 636 a.C. até o início do século 20, quando passou à dominação otomana e, após a Primeira Guerra Mundial, à inglesa.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, a comunidade internacional encontrava-se sensibilizada pelo genocídio de judeus promovido pela Alemanha de Hitler, o que fez a Inglaterra abrir mão de sua dominação sobre o território para que a ONU intercedesse na criação do prometido estado de Israel, o que foi oficializado em maio de 1948, com a divisão da Palestina em três partes: Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Logo em seguida ocorreu a Nakba: expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas casas por milícias sionistas.
Desde então, Israel vem ocupando cada vez mais territórios palestinos com assentamentos de judeus, os chamados kibutzim (plural de kibutz).
Foto: Sílvia Pereira