Botânico e Irajá: o m² mais valorizado de Ribeirão Preto

Botânico e Irajá: o m² mais valorizado de Ribeirão Preto

Planejada para dar acesso a empreendimentos que se tornaram o m² mais caro da cidade, a avenida João Fiusa é um patrimônio histórico e urbanístico de Ribeirão Preto

A valorização do m² na avenida Professor João Fiusa não foi algo que simplesmente aconteceu. Pelo contrário, foi premeditado. Nasceu da necessidade de viabilizar a construção do Colégio Santa Úrsula, associada ao feeling dos empresários Moacir Castelli e Paulo Tadeu Rivalta de Barros, de que o vetor de crescimento da cidade seria nessa área.

 

Tudo começou na década de 1990, quando o Jardim Santa Ângela não passava de uma chácara localizada entre a avenida Presidente Vargas, o Jardim Irajá e o Jardim Canadá, de propriedade das irmãs ursulinas, que utilizavam a área para produzir leite, verdura e outros produtos.

 

Como o colégio no centro da cidade já estava pequeno para as operações e enfrentava os problemas de uma estrutura antiga desde a década de 1980, a Associação de Ursulinas decidiu usar a área de 10 mil m² na região central, mais a área de 353 mil m² da chácara, como moeda de troca para a construção de um novo colégio. 


Contatada pelas irmãs, a Hochtief do Brasil planejou um loteamento com terrenos convencionais, de 250 m², mas, ainda assim, o valor captado com as vendas não seria suficiente. Sabendo da intenção das freiras, por intermédio de um irmão que prestava serviço para a Hochtief, em 1991, o empresário Moacir Castelli se uniu a Paulo Tadeu, da Habiarte, para viabilizar o projeto.

 

Acreditando na valorização da área no entorno da escola, e imaginando a migração de empreendimentos da área central para a zona sul, eles criaram o Grupo de Desenvolvimento Urbano Incorporações e Construções Ltda (GDU), contratado pelas irmãs para executar as obras de infraestrutura do novo bairro na cidade. 


No projeto Jardim Santa Ângela, foram idealizadas a construção de dois condomínios residenciais de alto padrão, em uma área de 106 mil m²: um com 40 casas, em terrenos de 500 m², e o outro, também com 40 casas, em terrenos de 1000 m². Cinco glebas — 87 mil m² —, foram reservados para a construção de até 25 edifícios residenciais, ocupando terrenos de, aproximadamente, 3,4 mil m² cada um. Como forma de pagamento pelos serviços realizados — projeto, aprovação (em 1992), execução e comercialização dos terrenos —, o GDU recebeu 28% do empreendimento. 

 


O projeto do bairro Santa Ângela — que deu origem à Fiusa como referência de luxo —nasceu da necessidade de construção do Colégio Santa Úrsula


As obras de saneamento básico, sistema viário, muros dos dois condomínios, guaritas e área de lazer foram concluídas em 1994. Aí, nasceu o trecho da avenida Professor João Fiusa — de 600 metros de extensão e 30 metros de largura —, compreendido a partir da avenida Presidente Vargas, conhecido como “o m² mais caro de Ribeirão”. “Esse loteamento foi o vetor de crescimento vertical para a zona sul de Ribeirão Preto.

 

A criação do bairro Santa Ângela possibilitou o desenvolvimento de edifícios de alto padrão na cidade e fomos pioneiros nesse processo. Levantamos oito edifícios ali, em tempo relativamente curto. Várias empresas incorporadoras participaram dessa velocidade alta na ocupação do bairro. Ninguém queria mais imóvel no centro”, ressalta Paulo Tadeu.


Em 1995, o colégio foi erguido pela Hochtief, por US$ 14 milhões, em uma área de 70 mil m², sendo 22 mil m² de área construída. Em 1997, o bairro Jardim Santa Ângela, ganhou o Master Imobiliário, em São Paulo, e foi considerado o melhor empreendimento urbanístico do Brasil.

 

Alto da Fiusa


O “boom” imobiliário na avenida Professor João Fiusa começou em 1997. O primeiro edifício construído foi o Ville de Quebec, feito pela Habiarte, em 1996. Em 1998, a empresa lançou o segundo edifício, Pensilvânia.

 

A Pereira Alvim lançou o Candeias, em 1997, e o Jataí, em 2001. A Copema lançou, em 1999, o Grand Paysage. A Stéfani Nogueria Incorporação e Construção também apostou na Fiusa, lançando, em 1999, o Quartier Des Arts, com seis edifícios de alto padrão: Rembrandt, Van Gogh, Monet, Rodin, Matisse e Velásquez. A primeira etapa de edificações verticais na avenida foi concluída em 2003, resultando em um conjunto de 24 torres construídas. 

 


“A criação do bairro Santa Ângela possibilitou o desenvolvimento de edifícios de alto padrão na cidade e fomos pioneiros nesse processo”, desta Paulo Tadeu Rivalta de Barros


A partir daí, começou a ocupação da região chamada “Alto da Fiusa” — trecho entre a praça Mr. Blitz e o Anel Viário Sul —, considerada a parte mais nobre da avenida, onde se encontra o Morro do Ipê — projeto da Habiarte concluído em 2020, com oito torres —, considerado o maior valor por m² de Ribeirão Preto por seis anos consecutivos, entre 2013 e 2018, segundo a revista Exame. 


Diferente do projeto Santa Úrsula, este trecho da avenida Fiusa adquiriu outras características urbanísticas, sendo, na divisa com o Bosque das Juritis e o Botânico, destinado a prédios residenciais de alto padrão, e, na divisa com o Jardim Canadá, destinado a estabelecimentos comerciais e de serviços. Entrecortado pelas avenidas José Adolfo Bianco Molina e Wladimir Meirelles, onde muitas empresas se instalaram, o eixo alcançou ainda mais valor. 

 

O Alto da Fiusa tem características urbanísticas diferentes do projeto Santa Ângela, com uma lateral da avenida destinada a edifícios e outra a estabelecimentos comerciais

 

Quem foi João Fiusa 
(Fonte: Imoteca Magazine)

A escolha do nome da avenida foi uma homenagem que o proprietário do loteamento, Godofredo Leite Fiusa, fez ao pai, o professor João Damasceno Fiusa, que nasceu em Feira de Santana, no Sertão da Bahia, no final do século XIX, e por lá morreu, aos 50 anos, sem nunca ter visitado Ribeirão Preto.

 

O empresário esteve de passagem por Ribeirão nos anos 1960 e adquiriu uma grande gleba de terras para investimento, onde decidiu criar um loteamento — que hoje corresponde ao bairro Alto da Boa Vista.

 

Pressentindo a região como promissora, só permitia ali a construção de casas de padrão mais elevado e, para que os interessados tivessem acesso ao empreendimento, ele abriu uma pequena estrada de terra que deu o nome de Professor João Fiusa. Quando a cidade cresceu, o nome acabou ficando. Godofredo Leite Fiusa doou uma área no bairro Sumaré para implantação da Faculdade de Medicina da USP, em 3 de dezembro de 1951, mas, ele mesmo, nunca foi homenageado.

 


 

• Confira mais sobre o Jardim Irajá, Jardim Botânico e outros bairros de Ribeirão Preto na editoria "Nosso bairro, nossa história".


Fotos: Reprodução

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