Advogados querem anulação de delação de ex-presidente do Sindicato dos Servidores
Nesta quarta, 5, empresário prestou depoimento à Justiça sobre acusação do Gaeco por lavagem de dinheiro

Advogados querem anulação de delação de ex-presidente do Sindicato dos Servidores

Defesas afirmam que há conflito entre as delações de Wagner Rodrigues, na ação que condenou Dárcy Vera, com a de empresário

Defesas que atuam na Operação Sevandija devem questionar na Justiça a delação do ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto Wagner Rodrigues, na ação dos honorários advocatícios, em que ele foi condenado, mas está em liberdade por ter firmado a colaboração com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo.

A alegação dos advogados é de que o Rodrigues teria mentido em sua delação, e que isso poderia ser comprovado pela colaboração premiada do empresário José Ricardo Arruda, que passou informações ao Gaeco em uma investigação sobre lavagem de dinheiro dos recursos que teriam sido desviados, conforme apurações da Sevandija.

De acordo com a delação, que foi publicada pelo Portal Revide na semana passada, Wagner Rodrigues teria adquirido diversos veículos, com a anuência do advogado Sandro Rovani, também investigado na operação, que, de acordo com o Gaeco, usaria sua relação com o empresário para trocar cheques recebidos do escritório de Maria Zuely Librandi.

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Em depoimento na manhã desta quarta-feira, 5, o advogado informou ao juiz Lúcio Alberto Eneas da Silva Ferreira, da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, que recebeu cerca de R$ 2,5 milhões em cheques e dinheiro de Sandro Rovani. “Ele sempre me oferecia, eu nunca solicitei, mas era interessante, porque dava um reforço de caixa bom. Eu não sei qual era a vantagem dele. [...] Eu tinha muita confiança no Sandro”, disse o empresário durante o depoimento.

A defesa de Sandro Rovani diz que os empréstimos eram realizados de boa fé e de maneira informal, em função da amizade entre os dois. “Pela delação do José Ricardo Arruda, ele informa que Sandro emprestou dinheiro para ele e informa que isso ocorreu de boa fé”, afirmou o advogado Julio Mossin, que defende Rovani na Sevandija.

Delação conflitante’                                                                                                               

No entanto, Julio Mossin afirma que a delação de Arruda é conflitante com a de Wagner Rodrigues, prestada na ação dos honorários advocatícios, a mesma que condenou a ex-prefeita Dárcy Vera a 18 anos de prisão. Para o advogado, o sindicalista teria omitido informações no acordo.               

“As defesas começaram questionar, assim como a delação do Wagner, porque ele mente na delação dele. Não só pelo Sandro, mas foi desmentido por uma outra delação. Ele ocultou a questão patrimonial. Isso, por si só, derruba a delação do outro núcleo (dos honorários advocatícios)”, disse.

Quem também deve questionar a delação de Wagner Rodrigues é a defesa do advogado André Hentz, outro condenado na Sevandija. Guilherme Rodrigues da Silva, que também defende Marcelo Gir Gomes, acredita que a delação prestada na outra ação é mentirosa.

“A delação do Wagner [Rodrigues] é absolutamente mentirosa. Uma coisa é você esquecer uma coisa X, Y, ou Z, que não tem uma relação com as pessoas e com aquilo que aconteceu. Outra coisa é sonegar informações ao Ministério Público. E foi o que aconteceu”, afirma o defensor.

Na última semana, a reportagem do Portal Revide entrou em contato com a defesa de Wagner Rodrigues para comentar a delação de José Ricardo Arruda. O advogado Daniel Rondi afirmou que é preciso que as provas das acusações sejam apontadas.

“Eu não tive acesso à delação premiada. Não estou sabendo disso. Eu tenho a preocupação de, às vezes, se aproveitar de uma situação. Por exemplo: ‘já que os carros estão no meu nome, vou falar que é do Wagner’. Tem que provar isso. Igual ao Wagner fez. Disse como era, indicou documentos, falou como funcionava. Fez prova. Ele não é imune à Justiça. Ele vai responder pela acusação que tiver”, comentou.

"Não sabia o que fazer"

O empresário José Ricardo Arruda disse que continuou a trocar cheques com Sandro Rovani, mesmo após a deflagração da Operação Sevandija, porque, de acordo com ele, não sabia como proceder, e queria resolver a situação o quanto antes. Em depoimento, o empresário informou que foi procurado por Rovani para resolver uma ação movida contra ele, por Marcelo Gir Gomes, que também é investigado.

O empresário informou que devolveu a quantia de R$ 620 mil, questionada por Gir Gomes, a Rovani, para que a situação fosse resolvida rapidamente, já que ele se sentia incomodado em razão dos negócios que mantinham com Rovani, após saber das irregularidades investigadas na Sevandija.

“Fiquei completamente apavorado. Eu não tinha quem me orientasse para poder procurar [o Ministério Público]. Quando o Sandro e a [a advogada Maria] Zuely saíram [da prisão], eu pensei que a situação tinha dado uma acalmada”, declarou. “Ele [Sandro Rovani] me disse que tinha sido um mal entendido e que em breve seria resolvido. Eu queria me ver livre dele”, completou.


Foto: Reprodução

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