Dárcy se recusa a responder perguntas do Ministério Público
Ex-prefeita de Ribeirão Preto afirmou que não falou antes sobre o empréstimo porque se sentiu constrangida

Dárcy se recusa a responder perguntas do Ministério Público

"Desse jeito não chegaremos à verdade. Fica meia verdade. Precisamos deste debate", lamentou o juiz ao fim do interrogatório sem respostas

A ex-prefeita de Ribeirão Preto Dárcy Vera se recusou a responder a perguntas dos promotores do Ministério Público e do juiz da 4ª Vara Criminal de Ribeirão Preto em depoimento na manhã desta terça-feira, 5, no Fórum. Dárcy respondeu apenas às perguntas de seus advogados em interrogatório que durou cerca de 1h30.

"Essas são questões que a sociedade de Ribeirão Preto quer que sejam respondidas", afirmou o promotor Frederico de Camargo, que apontou aproximadamente 60 perguntas que poderiam ser rebatidas pela depoente.

Ao longo do depoimento, Dárcy afirmou que não se furtará de provar sua inocência e confirmou que pediu empréstimos à advogada Maria Zuely Librandi. O Ministério Público acusa a ex-prefeita de participar de um esquema de recebimento de propina para liberação dos honorários advocatícios de Maria Zuely.

"Sim, recebi dinheiro a titulo de empréstimo. Essa situação começou porque houve uma época em que foi divulgado que fiquei três meses sem pagar a conta de água de minha casa. A Maria Zuely veio até mim e se dispôs a pagar a conta. Eu recusei, já que não paguei a conta por mero descuido meu, não por falta de dinheiro. Mas Zuely afirmou que eu poderia procurá-la quando precisasse. Depois disso, ela me viu reclamando que deixei atrasar o pagamento do cartão, em um momento que realmente eu estava apertada, e me disse que emprestava, porque já fazia isso com outras pessoas, e eu aceitei porque o meu nome tinha o risco de ser contestado", afirmou Dárcy, que declarou ter recebido cerca de R$ 120 mil de Maria Zuely em pagamentos de R$ 5 mil, R$ 10 mil e R$ 20 mil.

Além da advogada, a ex-prefeita declarou que emprestou dinheiro de outras pessoas e de bancos. Ela tinha intenção de pagar ao fim de seu mandato com o recurso que receberia sobre as férias acumuladas.

Sobre o fato se não ter dito isso anteriormente, a ex-prefeita contou que se sentia constrangida em assumir que precisou pedir dinheiro emprestado parra outras pessoas.

"Fiquei com muita vergonha. Porque era muita mentira misturada com verdade. Não sabia o que fazer", contou Dárcy, que afirmou que na última segunda-feira, 4, recebeu na cadeia feminina de Ribeirão Preto, onde estava enquanto aguardava a audiência, um escrevente cobrando atrasos do financiamento da casa em que morava.

"Com R$ 7 milhões que me acusam de ter recebido, você acha que ia precisar de empréstimo? Que não ia ter quitado minha casa? Que eu teria de ir de ônibus para São Paulo toda semana estudar, para fazer a mina pós? Ia de carona. Minhas filhas iam morar de aluguel em um apartamento perto da faculdade, em que uma delas dorme na sala? Eu trabalhei tanto, e olha a situação que eu estou. Eu tinha uma vida simples" afirmou Dárcy, apontando aos promotores do Gaeco.

Após a responder, os promotores questionaram a ex-prefeita o motivo de ela não ter declarado no imposto de renda o o empréstimo de Maria Zuely, como fez em outras situações. Ela não respondeu.

O juiz do caso, Lucio Alberto Enéas da Silva Ferreira, afirmou a Dárcy que achou estranho o comportamento de não responder às perguntas, embora tenha frisado que é um direito constitucional. " Desse jeito não chegaremos à verdade. Fica meia verdade. Precisamos deste debate", lamentou o juiz ao fim do interrogatório.

Dárcy Vera também atacou a delação premiada do ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais, Wagner Rodrigues. Ela disse que a colaboração firmada junto ao Ministério Publico é mentirosa e lamentou estar presa em razão das informações prestadas pelo sindicalista. "A delação já foi comprovada que foi mentirosa. Enquanto eu estou presa, longe da minha família, das minhas filhas, o delator esta solto", declarou a ex-prefeita, que ainda disse que só se reunia com Wagner Rodrigues para discutir assuntos envolvendo o dissídio dos Servidores, e que.nunca se reuniu com ele, Sandro Rovani, Marco Antônio dos Santos é André Hentz para discutir a divisão da suposta propina, que é acusada de ter recebido.


Foto: Amanda Bueno

Compartilhar: