"A maior parte da população é democrática e votou em Bolsonaro por falta de escolha", afirma cientista social
Wlaumir Souza, assina o blog "Sociedade e Cultura" no portal Revide

"A maior parte da população é democrática e votou em Bolsonaro por falta de escolha", afirma cientista social

Em entrevista ao Portal Revide, Wlaumir Souza, professor, filósofo e cientista social falou sobre a atual crise institucional

Para Wlaumir Souza, a maior parte da população defende a democracia e a separação dos três poderes e teria votado em Jair Bolsonaro (sem partido) por "falta de escolha". Em entrevista ao Portal Revide, Souza falou sobre a crise institucional que se abateu sobre o país e atingiu seu ápice no feriado de sete de setembro. Ele também comentou sobre as ações de reconciliação do presidente da república após a repercussão negativa das manifestações convocadas para o Dia da Independência.

Souza é graduado em Filosofia, possuí mestrado em História e doutorado em Sociologia. É autor autor de três livros: "Anarquismo, Estado e pastoral do imigrante", "A esfinge metodológica" e "Democracia Bandeirante".

Wlaumir Souza escreve o blog "Sociedade e Cultura" no Portal Revide. No blog, Souza traz poesia, arte, além de uma análise crítica da política e da sociedade.

Confira a entrevista:

Como o senhor avalia o saldo do Sete de Setembro do ponto de vista das instituições? Elas saem mais sólidas do que antes?

Wlaumir Souza é Graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1992), graduação em Pedagogia pela Faculdade de Educação S. Luis de Jaboticabal (1997), mestrado em História [Franca] pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1997) e doutorado em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2003). Tem experiência na área de Educação e administração escolar, com ênfase em Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia, didática, ética, história e sociologia - voto distrital, primeira república e império., gênero, ultramontanismo, romanização, igreja, política, educação, políticas públicas, planejamento, escola, aprendizagem, poder local, cafeicultores e política, processos migratórios. (Fonte: Currículo Lattes)

Como o senhor avalia o saldo do Sete de Setembro do ponto de vista das instituições? Elas saem mais sólidas do que antes?

SOUZA: A eleição passada para Presidente da República já foi, de certa forma, o plebiscito sobre a viabilidade ou não da democracia. Naquele momento de crise a democracia estava realmente posta em cheque, de certa forma o discurso autoritário veio em um crescente e chegando no ápice no Sete de Setembro. Neste dia, o presidente extrapolou todo os limites democráticos do discurso e enfrentou as instituições do judiciário e do parlamento de forma afrontosa. A reação dessas instituições, bem como as pessoas que dele fazem parte, mostrou que a democracia não será adversa, pelo menos por enquanto, com o discurso autoritário de Bolsonaro. Isso demonstra o quanto o nosso judiciário e parlamento estão alinhados a democracia e o quanto são fortes essas instituições.

Manifestações do sete de setembro, em Ribeirão Preto. Foto: Luan Porto/Revide

E para o presidente Bolsonaro e seus seguidores? As manifestações se provaram a exibição de força que eles desejavam?

SOUZA:  As manifestações não tiveram a força esperada, a aderência foi menor do que antes. Tendo em vista que, em primeiro lugar, a própria crise econômica pelo atual ocorre pela incapacidade do presidente da república e do ministro da economia de dar uma resposta à altura, já que o Banco Central tem trabalhado praticamente sozinho contra inflação. Ou seja, o preço da gasolina, encarecimento dos alimentos, entre outras questões fizeram com que os próprios aliados repensassem seu apoio ao presidente. Como se isso não bastasse, Bolsonaro não conseguiu manter seu discurso e chegou a dizer que nunca teve a intenção de atacar instituições democráticas com suas práticas, levando um desgaste progressivo em relação ao presidente do Brasil. Esse desgaste é natural que ocorra, porém, mais do que isso, é um desencantamento e uma desconstrução do “mito”, que demonstrou que apenas aqueles mais alinhados ao presidente, e de certa forma do ponto de vista mais histéricos, permanecem vinculados a essa gritaria antidemocrática. 

Em países como Hungria, Turquia e Venezuela vemos que o controle da Suprema Corte pelos governantes aumentou a repressão e praticamente extinguiu a separação entre os três poderes. O senhor acredita que corremos esse risco de controle do STF pelo Executivo no Brasil?

SOUZA: No dia seguinte das manifestações, o presidente percebeu o risco de ser preso. Nesse sentido, pela primeira vez na história nós poderíamos ter um presidente preso ainda em exercício e não após, como foi o caso de Michel Temer que chegou a ser detido. Basta lembrar que o desfile militar convocado por ele [Bolsonaro] foi frustrado. Aliado a isso eles não estão disponíveis para acabar com a divisão dos três poderes. No Brasil, a maior parte da população é democrática e votou em Bolsonaro somente por falta de escolha, mas essas mesmas pessoas não estão disponíveis à perder a liberdade.

De que forma o senhor enxerga a aproximação do ex-presidente Michel Temer (MDB) nesse movimento de – momentânea – trégua do governo federal?

SOUZA: A aproximação de Michel Temer demonstra que o presidente é ávido da velha política–  assim como Collor, Roberto Jefferson –, e que discurso da nova política foi apenas uma fachada eleitoral. Mais que isso, demonstra o quanto ele [Bolsonaro] está próximo de uma linha de governo ultrapassada, que não corresponde às demandas sociais e políticas, dessa forma se preocupa apenas com a sua própria pele e dos seus filhos. Ele não está preocupado com a nação, está preocupado apenas com sua manutenção no poder, por isso buscar apoio em Michel Temer e de Collor, que são sobreviventes nesse sistema político.

No momento, a tão falada "terceira via" é uma realidade ou apenas um desejo de alguns segmentos da sociedade?

SOUZA: A terceira via na verdade é um discurso da direita que diz respeito ao lançamento de um nome, aparentemente novo, que poderia reagrupar os interesses que estão ao redor de Bolsonaro e que dele se afastam. Interesses tais como, FIESP, FEBRABAN e outros grupos econômicos dominantes do país. No entanto, acredita-se que a terceira via dificilmente terá uma grande aderência da população. A população brasileira se deu conta de que em um discurso liberal, o seu empobrecimento estará garantido e mais do que isso, no atual discurso liberal do atual presidente, aliado à má gestão do ministro da economia, a inflação já atinge as camadas consumidoras A e B, empobrecendo até os mais ricos. Sendo assim, essa terceira via seria uma via de reforço do discurso liberal que dificilmente a população legitimará nas urnas.

 

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Foto: Arquivo Pessoal

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