Câmara aprova reajuste de 49% nos próprios salários

Câmara aprova reajuste de 49% nos próprios salários

Houve bate-boca com vereador que "voltou atrás" na promessa de voto

A Câmara Municipal dos Vereadores aprovou, nesta quinta-feira, 23, um projeto de lei proposto pela Prefeitura que areajusta os salários dos secretários, vice-prefeito, prefeito e dos próprios parlamentares em 49%.

 

Na justificativa oficial, os parlamentares apontam que o reajuste nos subsídios resultará em gastos adicionais anuais de R$ 1,3 milhões no Executivo e R$ 1,9 milhões no Legislativo.

 

Entretanto, a Câmara negligenciou o fato de que o salário do prefeito é o teto do funcionalismo municipal. Ou seja: qualquer aumento resulta em um efeito cascata. 

 

Novos salários

 

Vereadores: de R$ 13,8 mil para R$ 20,6 mil

Secretários municipais e vice-prefeito: de R$ 11,5 mil para R$ 17,2 mil

Prefeito: de R$ 23 mil para R$ 34,4 mil

 


Votaram a favor do reajuste:


Alessandro Maraca (MDB)
André Rodini (Novo)
André Trindade (União Brasil)
Elizeu Rocha (PP)
Igor Oliveira (MDB)
Brando Veiga (Republicanos)
Isaac Antunes (PL)
Jean Corauci (PSB)
Franco Ferro (PRTB)
Bertinho Scandiuzzi (PSDB)
Lincoln Fernandes (PDT)
França (PSB)
Marcos Papa (Podemos)
Matheus Moreno (MDB)
Maurício Vila Abranches (PSDB)
Maurício Gasparini (União Brasil)
Paulo Modas (União Brasil)
Renato Zucoloto (PP)
Sérgio Zerbinato (PSB)

 

 

Votou contra:


Ramon Faustino (PSOL)

 

 

Ausentes (afastamento por motivo de saúde):


Duda Hidalgo (PT)

 

Bate-boca

Durante a votação do projeto houve bate-boca entre o vereador Ramon Faustino (PSOL) e os vereadores Igor Oliveira (MDB) e o presidente Franco Ferro (PRTB). Ramon foi o único que votou contrário e usou a tribuna para criticar a pressa em aprovar o projeto e possíveis erros no cálculo do impacto financeiro.

 

A fala de Ramon foi interrompida por Oliveira que acusou o mudar o que havia combinado com os parlamentares. A discussão foi interrompida pelo presidente Ferro, elevando o tom, e acusando Ramon de contrariar o pacto feito com os vereadores.

 

"O vereador deu a palavra dele que iria votar a favor. Que fique registrado aqui que o senhor Ramon Faustino deu a palavra dele para todos os vereadores que iria votar a favor. E hoje ele está se justificando. Seja homem!", criticou o presidente.


"Eu tenho direito de mudar a minha posição. Eu estudei o projeto e quero mudar o meu voto. Eu fui eleito democraticamente como todos e todas, respeite a minha posição política. Me respeite!", retrucou Ramon.

 

 

Análise das contas

 

Segundo análise feita pela Agência Farolete na folha de pagamento da prefeitura em janeiro deste ano, 130 funcionários da ativa e 484 inativos (aposentados e pensionistas) atingiram o teto, atualmente em R$ 23.054. Os valores excedentes abrangidos pelo limite são descontados do contracheque.

 

Alguns servidores têm apenas centavos descontados. Outros, como um fiscal fazendário aposentado, teve R$ 35,3 mil retidos em janeiro. Se não fosse o teto, ele teria recebido R$ 58,3 mil no mês passado.

 

Se o salário do prefeito passar para R$ 34.384, como propõem os vereadores, o efeito cascata ao ano será de R$ 9,4 milhões no Executivo e de R$ 22 milhões no IPM, órgão público que gerencia os aposentados e pensionistas.

 

Na somatória, são ao menos R$ 31,4 milhões a mais ao ano, sem levar em conta demais órgãos da administração indireta, como autarquias.

 

Esse montante também não considera os efeitos do reajuste dos próprio prefeito, secretários e vice: na configuração atual, R$ 1,3 milhão a mais ao ano – o único valor contabilizado pela Câmara no projeto de lei.

 

Assim, o impacto real no Executivo – pelo menos R$ 32,7 milhões – é 25 vezes superior ao estimado pela Câmara no projeto.

 

Cálculos

 

O projeto de reajuste não traz estudo realizado ou requisitado pela Câmara para avaliar qual o real impacto nas finanças públicas ao reajustar o subsídio do prefeito.

 

O projeto foi protocolado sem debates prévios, como audiências públicas. O Executivo também não foi oficialmente questionado sobre quais seriam os custos decorrentes do aumento sugerido pelo Legislativo.

 

“A Prefeitura informa que desconhece o referido projeto de Lei”, informou em nota a Coordenadoria de Comunicação Social do Executivo.

 

A reportagem questionou a assessoria de imprensa da Câmara sobre quais estudos foram realizados, mas não houve resposta.

 

 

Trecho da justificativa do projeto de reajuste dos subsídios, assinado por 20 vereadores

 

Motivação

 

Com a aprovação, o reajuste valerá apenas a partir de janeiro de 2025, aplicado aos eleitos nas eleições do ano anterior (ou, no caso dos secretários, nomeados pela a nova gestão).

 

O projeto justifica que os subsídios não são reajustados desde janeiro de 2017. De lá até janeiro de 2023, a inflação foi de 36,2%, segundo o indicador IPCA do IBGE. O aumento proposto é de 49,1%.

 

A reportagem apurou que há dificuldades em encontrar profissionais que aceitem o cargo de secretário municipal, pela incompatibilidade do vencimento atual com o praticado no mercado.

 

Mas a maior pressão pelo aumento é dos funcionários de carreira da prefeitura que já atingiram o teto. Se o subsídio do chefe do Executivo fica congelado, o deles também fica. Na prática, têm perdas financeiras a cada ano, já que sequer recompõem a inflação.

 

Considerando os dez municípios paulistas mais populosos, o salário do prefeito de Ribeirão Preto é o segundo menor.

 

A Câmara não precisaria reajustar o subsídio dos vereadores, já que ele é desvinculado do Executivo. Entretanto, os parlamentares decidiram aproveitar o mesmo projeto para amenizar a pressão popular.

 

Os atuais mandatários somente usufruirão dos novos valores se forem reeleitos em 2024.


Foto: Câmara Municipal de Ribeirão Preto

Compartilhar: