Desafios do novo prefeito: Educação

Desafios do novo prefeito: Educação

Especialistas defendem investimentos em mais professores e programas de formação continuada para elevar a qualidade do ensino no município

A divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) pelo Ministério da Educação (MEC), em agosto último, mostrou Ribeirão Preto com pontuações abaixo da média nacional, especialmente no Ensino Médio da rede estadual. Principal indicador de qualidade da Educação no Brasil, o Ideb é composto pelas taxas de aprovação, reprovação e abandono apuradas no Censo Escolar, bem como pela média de desempenho dos estudantes apuradas no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

 

De acordo com o índice, o ensino no Brasil alcançou 6 pontos nos anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), enquanto em Ribeirão Preto, a média na categoria foi de 5,9, tanto na rede pública quanto na estadual. Nos anos finais do Fundamental (do 6º ao 9º), o país alcançou 5 pontos – abaixo da meta de 5,5 –, contra 4,8 do município, na rede municipal, e 4,7 na estadual. No Ensino Médio, o país registrou 4,3 (abaixo da meta de 5,2); e Ribeirão teve seu pior recorte, com 3,9 na rede estadual.

 

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação avaliou que o resultado do Ideb referente ao ano de 2023 é “compatível com os desafios socioeducacionais que impactam o país e está em linha com os resultados nacionais”, e ressaltou que a rede municipal de Ribeirão Preto atingiu índices superiores aos da rede pública do Brasil nos anos iniciais e finais do ensino fundamental. O dado ao qual a Secretaria se refere é o da média da rede municipal de ensino no país, que foi de 5,8 em 2023, ante 5,9 da ribeirãopretana nos anos iniciais.

 

“O resultado valoriza o plano de recomposição de aprendizagem adotado para minimizar o efeito negativo causado pela pandemia, o trabalho dedicado dos profissionais da educação e as potencialidades do aluno ribeirão-pretano, que apresenta diferenciado nível cultural, repertório argumentativo, consciência crítica e habilidades nas quatro linguagens da arte”, informa a pasta.

 

Problema estrutural

 

Para o professor e especialista em Educação Wlaumir Doniseti de Souza, porém, a dificuldade de Ribeirão Preto em atingir as metas estabelecidas pelo Ideb escancara um problema estrutural no município e no Estado. Para ele, a falta de concursos públicos para manter um corpo docente estável afeta a relação de ensino e o acompanhamento dos alunos. "A qualidade de vida do professor que trabalha 40 horas por semana explode em licenças de saúde recorrentes. Isso retroalimenta o processo de professores substitutos, que ganham menos que os titulares e, assim, apesar do empenho dos substitutos, sucateia todo o sistema educacional", avalia.

 

A professora Elaine Garcia, que atua na rede pública em Ribeirão Preto, acrescenta que a participação familiar no processo de ensino e aprendizagem é indispensável para uma melhora nesses indicadores. "As famílias precisam tomar consciência participando ativa e efetivamente da vida escolar dos seus filhos. Somente com a atuação familiar responsável poderemos alcançar resultados melhores e efetivos na educação pública", ressalta.

 

Elaine Assolini, professora na graduação e pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP), alerta que os alunos têm chegado ao Ensino Médio sem capacidade de interpretar e atribuir sentido a textos. "Uma das consequências disso é que temos dificuldade para ter um aluno criativo, inventivo e que lida com a poesia e a polissemia da linguagem".

 

As notas obtidas pelo município no Saeb corroboram a análise da professora, revelando que seus alunos têm concluído o Ensino Médio com dificuldade de compreender o sentido de textos e resolver problemas matemáticos simples. Em 2023, alunos da rede pública de Ribeirão Preto obtiveram 276 pontos de média em língua portuguesa, ante 285 em 2021. Segundo a escala de proficiência do Saeb, uma nota entre 275 e 300 pontos, significa que o aluno não é capaz de reconhecer a ideia comum entre textos de gêneros diferentes e inferir o sentido de palavra em letras de música e reportagens.

 

"Um problema grave que temos no Estado de São Paulo, é a compreensão de que, ao alcançar o nível alfabético de escrita, o aluno estaria alfabetizado. Isso é um equívoco. Conhecer o nível alfabético é algo fundamental que é tomado como sendo o suficiente. Temos alunos que não produzem textos com coesão e argumentação", acrescenta Elaine. Ela também frisa a urgência de um investimento substancial na formação continuada de professores. E essa formação deve permitir que ele se atualize em serviço, enquanto é substituído por outro profissional capacitado. Para tanto, seria necessário abrir novos concursos públicos, para compor um quadro suficiente de funcionários.

 

A rede em números

 

A Secretaria Municipal da Educação de Ribeirão Preto responde por 16,5% do orçamento municipal. Segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, dos R$ 4,9 bilhões do orçamento municipal, R$ 827,8 milhões foram destinados à Educação. É o segundo maior orçamento do Executivo Municipal, ficando atrás apenas da Saúde.

 

Em 2023, Ribeirão Preto tinha 66.917 alunos matriculados na rede pública, de acordo com o Censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Até essa data, a distribuição dos alunos entre as escolas de Ribeirão Preto era a seguinte: 39.889 na rede municipal; 51.850 na rede estadual; e 48.735 nas redes particular e conveniada. Ao todo, são 108 escolas municipais, 78 estaduais e 197 privadas.

 

Das 108 escolas municipais, 34 são Centros Educacionais Infantis (CEIs); 41 Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs); 34 Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs); uma escola de educação especial e uma de ensino profissionalizante. O município também possui 25 escolas conveniadas com a iniciativa privada, sendo 20 de educação infantil e cinco de educação especial. Ao todo, a rede comporta 3.944 servidores, sendo 76% desse quadro composto por docentes, cerca de 3 mil profissionais.

 


 

PROPOSTAS

 

André Trindade (União Brasil)

Nessa atual gestão, todos os níveis de capacidade da Educação municipal evoluíram positivamente no Saresp [Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo] 2023, quando comparados com 2022. Essa foi apenas a segunda vez que as escolas da rede participaram dessa avaliação, o que demonstra o interesse do nosso governo em reconhecer a atual situação da aprendizagem, a fim de promover as transformações tão necessárias e aguardadas. Ainda, ressalto que o ensino permaneceu por 18 meses sem aulas presenciais durante a pandemia da Covid-19, após uma Ação Civil, a qual criou uma lacuna que outros municípios não enfrentaram, dificultando uma comparação justa com outras redes de ensino. No nosso governo, iremos manter a sexta aula para todo o ensino fundamental e a presença de dois professores em sala de aula para reduzir os impactos.

 

Ismar Menezes (Agir)

Melhorar os indicadores educacionais de Ribeirão Preto requer uma abordagem gigantesca (ademais pelos últimos índices), que incluam revisão pedagógica, investimento em formação de professores, envolvimento comunitário e uso eficaz dos recursos. Estratégias sugeridas incluem: Formação Continuada de Professores com foco em metodologias inovadoras e eficazes; Intervenção Pedagógica com currículo adaptado e apoio individualizado; Uso de Tecnologias Educacionais para atividades personalizadas; Envolvimento da Comunidade com parcerias e campanhas; Avaliação Constante para ajustes necessários; Gestão Eficiente dos Recursos orçamentários; e Foco em empreendedorismo, acento na português e matemática, em especial a financeira, e contábil para garantir habilidades básicas desde cedo.
 

Jorge Roque (PT)

Esses índices começam a ser construídos na Educação Infantil, onde há déficit de vagas, e refletem lá na frente. Vamos garantir que nenhuma criança até 6 anos fique fora da escola. E buscar para a rede equidade com qualidade; fazer a reestruturação administrativa-pedagógica; aprimorar sistemas escolares, currículo e avaliação. Infraestrutura pode ser resolvida no curto prazo, mas qualidade exige investir em currículo, materiais pedagógicos e formação continuada. Como o atual, criado em março, após sete anos engavetado, vence em dezembro, o passo inicial é elaborar um bom Plano Municipal de Educação, feito com a comunidade escolar, diálogo e de forma aberta e democrática. Abriremos as escolas em fins de semana e férias para oferecer idiomas, digital, artes, esportes, saúde e refeições, pois ninguém aprende com fome.

 

Marco Aurério (Novo)

O problema da educação em Ribeirão Preto vai além dos números – é uma somatória de falhas de comunicação, liderança e priorização. Os resultados estão muito baixos mesmo com altos investimentos, o que demonstra que não estão sendo acertados pela gestão pública por muitos anos. Acreditamos que os cargos de liderança na educação também precisam ser ocupados por pessoas comprovadamente qualificadas, através de processos seletivos executados por empresas terceirizadas e, principalmente, que sejam comprometidas com o ensino e não estejam presas a interesses politiqueiros. Nossa proposta é valorizar os profissionais da educação, oferecer capacitação contínua e melhorar muito as condições de trabalho. Queremos implementar uma gestão mais técnica, participativa, com metas claras, avaliações de desempenho e programas de participação nos resultados. O investimento precisa ser bem direcionado para melhorar o ensino e favorecer alunos, responsáveis e os profissionais de educação. Com isso, toda a sociedade será beneficiada.

 

Ricardo Silva (PSD)

O ato de educar é o mais importante e o mais bonito para a vida. É fundamental que essa área receba um carinho especial e um planejamento em conjunto com gestores, educadores, estudantes e familiares. Mas vamos analisar: uma criança que entrou no primeiro ano em 2017 passou praticamente todo o Ensino Fundamental sem que a Prefeitura tivesse um Plano Municipal de Educação, o que só aconteceu oito anos depois, em 2024, o último da atual administração. O que essa demora de oito anos significa? Falta absoluta de planejamento. Isso não pode ocorrer. E é claro que afeta o aprendizado. Na formação continuada de professores, no ano de 2022, por exemplo, a Prefeitura de Ribeirão destinou apenas R$ 13 mil. São dados oficiais. Já São José dos Campos, cidade de porte semelhante à nossa, investiu quase R$ 2 milhões com pós-graduação, em contrato realizado com a Unesp, com foco em qualificação para “Educação 5.0”, tanto para profissionais da Educação Infantil quanto do Ensino Fundamental.


Arte: Revide

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