Falta de grandes obras afasta Ribeirão Preto da Lava Jato

Falta de grandes obras afasta Ribeirão Preto da Lava Jato

Maioria das cidades com políticos envolvidos na ‘lista da Odebrecht’ conta com grandes investimentos em infraestrutura

Os nomes da prefeita Dárcy Vera (PSD) e do secretário de Transportes do Estado de São Paulo, Duarte Nogueira (PSDB), foram os únicos da política de Ribeirão Preto citados nos documentos retirados pela Polícia Federal dos escritórios da Odebrecht, na última quarta-feira, 23. Ambos já negaram por meio de notas que receberam qualquer doação irregular para campanhas.

Dárcy aponta que o nome dela aparece na lista somente com referência ao desempenho eleitoral do primeiro turno, sem nenhuma referência a valores supostamente doados. Já o secretário de Logística e Transportes, Duarte Nogueira, afirmou, por meio de nota, que todas as doações recebidas em suas campanhas eleitorais foram devidamente declaradas à Justiça.

Mas, enquanto os políticos de Ribeirão Preto apareceram de maneira discreta na operação, líderes de cidades pequenas aparecem com mais força. Triunfo, município de 25 mil habitantes, no interior do Rio Grande do Sul, tem vereadores, não identificados, e até o diretório municipal do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) como beneficiados por doações para campanhas eleitorais nos documentos da 26ª operação da Lava Jato.

Coincidentemente, a cidade gaúcha conta com uma empresa de distribuição de água, que faz parte da companhia, instalada no município, com investimentos de mais de R$ 315 milhões. O sociólogo Wlaumir Sousa acredita que “a corrupção revela o poder privado nos destinos do Estado, ou seja, o quanto o capital é capaz de manipular os políticos sedentos por lucros fáceis. Isto poderá ser notado em qualquer lugar onde os interesses possam se manifestar em termos econômicos. Independente do tamanho do município ou do Estado”, destaca o sociólogo.

Situação parecida ocorre com Camaçari, município baiano de 161 mil moradores, que tem pelo menos dois políticos locais como recebedores de doação política nos documentos apreendidos pela Polícia Federal, já que lá a Odebrecht também conta uma empresa de tratamento de água, com investimentos de R$ 444 milhões.

Sousa acredita que isso é uma demonstração da vulgarização da corrupção entre os políticos brasileiros, o que demonstra os hábitos da sociedade em que estão inseridos. “Essa inserção nos municípios menores demonstra o quanto a corrupção tornou-se uma rotina no poder. Isso seria um quadro gravíssimo, pois a rotina aponta os hábitos comuns das pessoas no poder ou mesmo fora dele. Uma verdadeira catástrofe para o bem comum, para a transparência, e a democracia e a república no seu sentido popular”, completa.

O fato de Ribeirão Preto não ter muitos nomes na lista dessas doações coincide com o fato da cidade estar por fora do circuito de gigantescas obras de infraestruturas financiadas com dinheiro público, no caso pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Levantamento da Fundação Seade divulgado no início de fevereiro mostra que entre os 10 maiores investimentos na cidade em 2014, nenhum era especificamente de alguma obra de infraestrutura, e sim empreendimentos particulares de porte médio, com investimento máximo de US$ 4 milhões.

Somadas todas obras de infraestrutura na região, o valor alcançado é de apenas US$ 14 milhões. Nesse ano, os investimentos em Ribeirão Preto foram 44,6% menores do que o anunciado no ano anterior. Enquanto isso, o Estado de São Paulo viu os aportes crescerem 33%.

E o principal motivo foi justamente a as conclusões de obras de infraestrutura na região, como o Trevão da Anhanguera – que consumiu US$ 75,4 milhões em 2013, cinco vezes menos do que o gasto com melhorias estruturais na pesquisa mais recente.

Sousa acredita que as grandes obras são mais parelhas aos casos de corrupção no País por serem refletidas no andamento da sociedade, já que esse é um dos fatores que acarretam ao encarecimento dos serviços públicos, por exemplo.

“Os desvios de recursos encarecem os serviços públicos e empobrece ainda mais o cidadão e nos condena a dívidas eternas a serem pagas pelas gerações futuras, e mesmo por nós mesmos em meio a esta crise que vivemos no mundo atual”, conclui.


Foto: Arquivo Revide

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