Feirante divide produtos com protesto no Centro de Ribeirão

Feirante divide produtos com protesto no Centro de Ribeirão

Sebastião Célio Correa compartilha queijos e goiabadas com cartazes que criticam os políticos

O radinho de pilha está em uma estação de rádio que toca pop rock, “mais tranquilo”, segundo o feirante Sebastião Célio Correa, que, mesmo assim, não tem distinção de gênero musical: pode ser o que for, desde que o aparelho pegue bem e o acompanhe em mais um dia de trabalho.

“O radinho é antigo, então escuto o que tiver pegando. Mas aqui também gosto de ler”, diz Correa, que demonstra todo o conhecimento que adquire pela leitura de jornais diários com os cartazes que adornam a banca de queijos e goiabadas. Às terças-feiras, ela fica bem na esquina das ruas Marcondes Salgado e Rui Barbosa.

Célio, como prefere ser chamado, além dos produtos, apresenta dezenas de cartazes com protestos políticos, que vão desde a reorganização escolar – suspensa pela Secretaria Estadual de Educação no último mês de dezembro - até a Operação Lava-Jato, da qual ele considera o juiz Sergio Moro um “herói”.

“Eu sempre prezei pela igualdade, não do jeito que está, sem saúde, sem segurança, sem educação. Eu vejo que para o País funcionar tem que ter esse tripé. Sem isso, nunca vai dar certo. Quando vemos uma luz no fim do túnel, de repente ela se apaga”, afirma o feirante que está na profissão há 40 anos – começou ainda adolescente, aos 15 anos de idade - e, desde 2003, utiliza as placas na banca por considerar para questionar os políticos.

“Eu sempre pensei em fazer, e não ser obrigado a fazer. Eu só tenho que agradecer ao meu trabalho. Mas, puxa vida, o Brasil é um País tão gostoso, por que temos que ver um nível de corrupção deste jeito? Somos nós que pagamos tudo. Quem leva o Brasil é o povo trabalhador”, completa Célio, que é casado e têm dois filhos, um deles, inclusive é cirurgião-dentista, e sempre teve os estudos custeados pelo trabalho do pai na feira.

Isso para protestar contra os políticos, que ele garante não fazer distinção, embora demonstre simpatia pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelos deputados estaduais e federais eleitos na região de Ribeirão Preto.

“O que atrapalha o crescimento do País é a política errada. Tem políticos bons, como o Alckmin, que vejo ser uma pessoa muito coesa, mesmo com essa história das escolas, que acho que ele fez um pouco errado, mas é uma pessoa de cabeça. Têm muito deputado bom. Na região todos lutam pelas casas de assistência, e vejo isso de maneira muito boa, mas acho que é pouco, porque Ribeirão Preto é uma cidade muito forte”, diz Célio, que acredita que o Estado de São Paulo deve ser um espelho para os outros estados.

Mesmo assim, ele não se esquiva de criticar o governador com relação à proposta de reorganização no ensino, que previa o fechamento de 94 escolas públicas. “Achei tudo precipitado. Tanto do Alckmin, que usou da violência e tentou impor uma mudança, quanto dos estudantes, porque eu notei que tem infiltração de movimentos que não são estudantis. Os estudantes estão no direito, porque a escola é a segunda casa deles, e ninguém quer sair de casa, mas ainda vejo que tem ser feitos muitos acertos. A reorganização não é uma má ideia, mas tem que ser feita gradativamente, não é impondo de uma vez, senão vira ditadura”, aponta.

A educação, que segundo Célio é um dos pilares para transformar o País, se melhorada, pode fazer o Brasil despontar. Inclusive, acredita, dividindo as atenções com países desenvolvidos, como Coreia do Sul e Japão. “Demora? Demora, mas temos essa condição. Brigando pela fatia do mercado mundial, e para isso precisa de tecnologia e educação”, conta o feirante.

“As placas são só coisas construtivas, fala da Dilma, fala do Alckmin. Falo de todo mundo. Eu mostro o porque está errado. ‘você político vai ter que fazer assim’. Mas o povo precisa pensar e lembrar que ele paga tudo, desde o cafezinho, até o jatinho. Se o povo usar a cabeça, na eleição desse ano já vai dar para mudar muita coisa”, completa Célio, que a uma hora da tarde já começa se preparar para ir embora e poder ler mais um pouco.


Fotos: Leonardo Santos

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