Há 60 anos, Brasil sofria um golpe militar

Há 60 anos, Brasil sofria um golpe militar

Em Ribeirão Preto, ditadura prendeu e torturou Madre Maurina

No dia 31 de março de 1964, um golpe militar resultou na derrubada do governo democraticamente eleito de João Goulart e na instauração de um regime militar que perdurou por duas décadas.

 

Alegando a necessidade de combater a corrupção, o comunismo e a suposta ameaça à ordem social, as Forças Armadas brasileiras depuseram Goulart. O golpe foi apoiado por setores da sociedade civil, como empresários, políticos conservadores e parte da classe média, que temiam as reformas de cunho social propostas pelo governo deposto.

 

Após o golpe, o Brasil mergulhou em um período de repressão política e censura. O regime militar dissolveu o Congresso Nacional, suspendeu direitos civis e políticos, e instalou um governo autoritário. O período ficou marcado pela perseguição a opositores políticos, tortura e assassinatos de dissidentes. A censura à imprensa e a repressão a manifestações públicas se tornaram comuns, restringindo severamente a liberdade de expressão e organização política.

 

O golpe militar de 1964 deixou um legado de cicatrizes profundas na sociedade brasileira. Apesar de ter promovido um período de estabilidade econômica e crescimento, o regime militar também foi marcado por violações aos direitos humanos e à democracia. Somente em 1985, com o fim do regime, o Brasil recuperou sua democracia plena, mas as memórias e consequências desse período ainda ecoam na política e na sociedade brasileira contemporânea.

 

Ribeirão Preto e a Madre Maurina

 

A perseguição política atingiu níveis ainda mais violentos em Ribeirão Preto, com a prisão e tortura da Madre Maurina.

 

Nascida em Perdizes, Minas Gerais, Maurina Borges da Silveira  entrou para a vida religiosa em 1942, tornando-se membro da Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição. Ao longo de sua vida, dedicou-se ao serviço educacional e ao cuidado de crianças órfãs. 

 

Em 1969, Maurina, então diretora do Orfanato Lar Santana em Ribeirão Preto, foi presa por ceder espaço para reuniões estudantis, sem saber que estavam relacionadas a um grupo de esquerda. Submetida a tortura por cinco meses, sua prisão causou comoção e levou à excomunhão de seus torturadores pela Igreja Católica. 

 

Após ser trocada por um diplomata japonês sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária, Maurina foi forçada ao exílio no México por 14 anos. 

 

Madre Maurina faleceu em 2011, em Araraquara, vítima do mal de Alzheimer. Sua vida e abusos sofridos pela ditadura foram retratados no livro "A coragem da inocência de Madre Maurina Borges da Silveira", de Saulo Gomes, Frei Manoel Borges e Moacyr Castro.

 

Além do livro, o documentário “Maurina, o Outono que Não Acabou”, também retrata a história da irmã.

 

A obra foi premiada na Espanha e nos Estados Unidos. Produzido entre 2020 e 2021, o documentário faz um resgate histórico ao se debruçar sobre documentos da época, jornais, arquivos e entrevistar ex-presos políticos, advogados, historiadores, religiosos e jornalistas que conheceram a freira dentro e fora das prisões.


Foto: Reprodução

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