Especialistas discutem impactos da fala de Lula sobre Israel

Especialistas discutem impactos da fala de Lula sobre Israel

Após comparar ataques à Faixa de Gaza com Holocausto, presidente da República foi considerada persona non grata em Israel

A comparação feita pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) entre o Holocausto e os ataques de Israel a Gaza continua gerando repercussões na política nacional e internacional.

 

"O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus", declarou o presidente em conversa com jornalistas no domingo, 18, em Adis Abeba, na Etiópia, para a reunião da cúpula da União Africana.

 

Durante o encontro, o petista instou os países ricos a fornecerem mais ajuda a Gaza. A guerra, que teve início em outubro de 2023, quando o grupo Hamas lançou um ataque em Israel resultando em cerca de 1.200 mortes e levando 240 reféns, segundo autoridades locais. 

 

Desde então, a retaliação do estado israelense deixou mais de 28 mil palestinos mortos, inclusive civis, mulheres e crianças, e mais de um milhão de pessoas precisaram deixar suas casas. 


O conflito entre Israel e Palestina é um complexo embate geopolítico e territorial enraizado em décadas de disputa pela terra, soberania e direitos humanos. Originado principalmente pela criação do Estado de Israel em 1948, tem como principais pontos de contenda a ocupação de territórios palestinos por Israel, a construção de assentamentos judaicos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, o status de Jerusalém como capital disputada e a questão dos refugiados palestinos.

 

Sob a ótica do direito internacional, a ocupação israelense dos territórios palestinos é considerada ilegal pela maioria da comunidade internacional, incluindo resoluções das Nações Unidas.

 

Contudo, o Hamas, grupo que foi eleito pelo povo palestino para comandar o país, é considerado terrorista por diversos países e organizações internacionais. Além disso, o Hamas tem uma segue uma vertente extremista – e considerada por alguns como distorcida – do islã que prega a destruição de Israel e não reconhece o direito de existência do Estado judeu.

 

Resposta


O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu afirmou que a fala de Lula foi "vergonhosa". Por isso, Lula foi considerado como "persona non grata" em Israel. A afirmação foi feita na segunda-feira, 19, pelo ministro das Relações Exteriores do país, Israel Katz.

 

Ao ser considerado persona non grata, o diplomata ou representante de um país não é reconhecido como membro da missão diplomática e não recebe o status diplomático e os privilégios garantidos para visitar aquele país.

 

Análise

 

Políticos e especialistas em Ribeirão Preto avaliaram os impactos da fala do presidente.

 

"A começar pela comparação que o Lula fez, de períodos históricos, isso é considerado pelos historiadores como anacronismo. Mas a comunidade judaica tem reticências, porque grupos antissemitas praticam este tipo de anacronismo para incendiar a prática antissemita ao longo do mundo", comenta o sociólogo Luiz Rufino.  

 

 "Enquanto governante ele deve abandonar sua ética da convicção em muitos momentos para aderir à ética de responsabilidade. Isso é o manual básico da política", avaliou Rufino. Para o especialista, a fala de Lula soa como "tentar apagar o fogo com gasolina", já que não ajudaria a resolver o conflito.

 

Isaac Antunes (PL), presidente da Câmara Municipal dos Vereadores de Ribeirão Preto, classificou a fala como Infeliz, desrespeitosa a todos os judeus e irresponsável.

 

"O presidente Lula colocou uma mancha na histórica relação diplomática entre Israel e Brasil. Mas tenho certeza de que o estado israelense tem a plena noção e convicção de que Lula não fala pelos brasileiros. Essa não é, tampouco seria, a nossa opinião", argumenta Antunes. 

 

Já a vereadora Duda Hidalgo (PT) destacou que a fala de Lula não se dirige ao povo judeu, mas às atitudes do Estado de Israel. 

 

"A fala do presidente vocaliza o que todos nós sentimos: revolta. Lula não se dirige ao povo judeu que resistiu a uma das maiores tragédias da humanidade. Lula se dirige a um presidente de extrema-direita que, com suas ações, desonra a memória de quem lutou por libertação. Quem hoje acompanha a tensão entre Israel e Palestina sabe que não vem de hoje. É só olharmos o que ficou conhecido como 'Intifadas' e a história nos mostrará. Mas, de outubro para cá foram assassinados na Faixa de Gaza, cerca de 30 mil pessoas, na sua maioria crianças, mulheres, inocentes. Se Lula é considerado 'persona non grata' em Israel, Netanyahu deveria ter vergonha de ser o representante de uma nação. Nossa luta é pelo cessar fogo imediato. Nossa luta é pela paz", argumentou a parlamentar.

 


Foto: Ricardo Stuckert / PR

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