Ministério Público se manifesta contra lei do abuso de autoridade
Promotores Leonardo do Gaeco Romanelli e Gabriel Rigoldi: Operação Sevandija é marco do trabalho do grupo especial em Ribeirão

Ministério Público se manifesta contra lei do abuso de autoridade

Além do Gaeco de Ribeirão Preto, Instituto Ribeirão 2030 também demonstra preocupação pela aprovação do projeto no Congresso

O Ministério Público do Estado de São Paulo se manifestou contra o Projeto de Lei nº 7.596/2017, que cuida dos chamados crimes de abuso de autoridade, aprovado na noite da última quarta-feira, 14, pela Câmara dos Deputados e que agora segue para sanção do Presidente Jair Bolsonaro.

Segundo nota de repúdio divulgada na tarde desta sexta-feira, 16, promotores de justiça, integrantes dos 15 núcleos do Grupo Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (Gedec) e Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) –inclusive o de Ribeirão Preto-, "percebe-se que o propósito inequívoco da iniciativa é impedir, acuar, dificultar e inviabilizar o exercício responsável, eficiente e eficaz da atividade investigativa, repressiva e punitiva do Ministério Público e de outros órgãos e Instituições reconhecidas e admiradas pela sociedade."

Ainda segundo o comunicado, o projeto trará prejuízo às investigações contra grandes organizações criminosas dedicadas, também, ao tráfico e a crimes que envolvem violência, como é o caso do Primeiro Comando da Capital (PCC), e outros grupos semelhantes, como redes de pedofilia ou que exploram a atividade sexual de crianças e adolescentes.

"Por esse motivo, por meio do presente manifesto, comunicamos que caso sancionado o texto, nos moldes em que lançado, restará completamente esvaziada a atividade rotineira e complexa por nós realizada, sob o receio de sempre que envolvidos interesses de pessoas de relevo ou com ingerência política, haver, no mínimo, o transtorno de se defender, seja em ações penais, seja em ações cíveis, pelo fato de realizar unicamente aquilo para o que representamos a sociedade."

Ribeirão 2030

O Instituto Ribeirão 2030 também declarou demonstrar preocupação com o projeto, citando o 16º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que prevê “reduzir significativamente os fluxos financeiros e de armas ilegais, reforçar a recuperação e devolução de recursos roubados e combater todas as formas de crime organizado” e “reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em todas as suas formas”, dispostos nas metas globais 16.4 e 16.5, respectivamente.

“Compartilhamos do sentimento de entidades representativas do Judiciário, do Ministério Público e de grupos da sociedade civil organizada de que o Projeto de Lei no 7.596/2017, se sancionado na íntegra pelo Presidente da República, pode dificultar ações de combate à corrupção, servindo de amparo para represálias contra agentes públicos que investigam e julgam ilícitos danosos aos cofres públicos.”

Ainda segundo a nota do Instituto, a Operação Sevandija, deflagrada em conjunto pela Polícia Federal e Gaeco, e que completa três anos em setembro, revelou esquemas de corrupção arraigados no Executivo e Legislativo ribeirãopretanos, com contratos fraudulentos que ultrapassam os R$ 200 milhões.

“A corrupção drena recursos de serviços essenciais à sociedade, como saúde e educação. Todos os esforços devem ser envidados para combatê-la. Assim, embora ressaltemos que atos de abuso de autoridade de agentes públicos são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, devendo ser devidamente investigados e punidos, acreditamos que alguns dispositivos existentes no Projeto de Lei no 7.596/2017 ultrapassam esse contexto e têm potencial, direto ou indireto, de coibir atividades de combate à corrupção.”

Projeto

Pelo projeto de lei, poderá ser considerado abuso de autoridade obter provas por meios ilícitos; executar mandado de busca e apreensão em imóvel, mobilizando veículos, pessoal ou armamento de forma ostensiva, para expor o investigado a vexame; impedir encontro reservado entre um preso e seu advogado; e decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado sem intimação prévia de comparecimento ao juízo.  No total, a proposta apresenta 37 ações que poderão ser consideradas abuso de autoridade. O texto foi aprovado no Senado em junho. Agora o texto segue para o Presidente da República. 


Foto: Arquivo Revide

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