Nomeação de Lula é golpe de misericórdia de Dilma

Nomeação de Lula é golpe de misericórdia de Dilma

Cientistas políticos analisam a nomeação de petista para o ministério da Casa Civil

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi confirmado como o novo ministro da Casa Civil. Após dias de especulação, a confirmação foi feita por meio de uma nota emitida pela presidência da república nesta quarta-feira, 16.

A nomeação do petista gerou revolta nas redes sociais, no Planalto e inicia mais um capítulo na história da política brasileira, aberto a diversas maneiras de interpretação. Na opinião do cientista político José Elias Domingos, a ação pode ser vista como um golpe de misericórdia da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta, segundo ele, uma melhora no mercado e uma possível reaproximação com o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

“O Lula sempre foi um bom articulador. Há indícios de que sua nomeação para o ministério seja para reaproximar o PT do PMDB – que é o sustentáculo dos pilares do Governo brasileiro – para que se cumpra o modelo de Brasil pensado em 2002”, destaca Domingos.

Imagem enfraquecida

A posse de Lula, anunciada para a terça-feira, 22, evidencia o enfraquecimento do governo Dilma, uma vez que Lula desempenharia o papel de primeiro-ministro no mandato de sua sucessora. “O Lula sempre se posicionou contra a participação de um ex-presidente no governo e essa decisão contradiz seu pensamento”, aponta.  

Mesmo com uma boa imagem de Lula no exterior, a manobra do PT pode não sair conforme o esperado. Domingos destaca que a imagem do ex-presidente  sempre foi maior que a de seu partido, contudo, a insatisfação popular já atingiu o petista e por isso, destaca o especialista, "o tiro pode sair pela culatra".

Modelo

Na opinião dele, Dilma Rousseff é refém do modelo conhecido como presidencialismo de coalizão – quando há alianças entre forças políticas, como as que foram feitas entre petistas e peemedebistas.

Sobre a possibilidade de manobra para blindar Lula das investigação encabeçadas pelo juiz Sérgio Moro, Domingos acredita que o partido dos trabalhadores tenta ganhar tempo, pois, com foro privilegiado, o ex-presidente será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Entendo que o STF não aliviaria para o Lula, porque é uma instituição séria e com um nome a zelar”, destaca.

República e democracia

Para o cientista político Igor Lorençato Rodrigues, os reflexos na economia já se produziram com a queda da bolsa de valores e o aumento do dólar. No campo político ele aponta que o Brasil vive sob a proteção e do discurso do respeito à democracia, mas que esse é um discurso enganoso.

“Esse discurso enganou e continua enganando centenas de pessoas, de alunos a professores que, sempre colocando a ditadura como referência de perseguição e atentado à democracia, enaltecem políticas populistas com líderes que se colocam acima do Estado em prol da liberdade”, afirma.

Igor questiona, por exemplo, porque só agora a presidente Dilma Rousseff, após cinco anos de mandato, resolve nomear seu antecessor para um Ministério tão importante, justamente quando ele é investigado. “Não significa que ele é culpado, mas o correto seria esperar o final das investigações para a nomeação”.

Para o cientista político, o único remédio para eventuais prejuízos que o sistema democrático pode trazer é a implementação de um modelo de Estado solidamente republicano. “Democracia é uma forma de governo. República é uma forma de Estado. A democracia garante que qualquer pessoa, grupo ou partido político tenha acesso à máquina pública. A República impede que os fins justifiquem os meios, e que as pessoas se utilizem do público como se delas fossem”, conclui.

Foto: Ricardo Stuckert

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