"O BNDES deve investir no Brasil", ressalta Meirelles em Ribeirão Preto

"O BNDES deve investir no Brasil", ressalta Meirelles em Ribeirão Preto

Ex-ministro participou nesta quinta-feira, 26, de um evento para empresários na cidade e comentou o cenário econômico do país

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles praticou, nesta quinta­-feira, 26, de um evento para empresários em Ribeirão Preto.

 

Fábio Fernandes, presidente do Lide de Ribeirão Preto, responsável pelo evento, destaca o clima de “otimismo com parcimônia” dos empresários locais. “O empreendedor é um otimista por natureza, ele joga com as cartas que tem na mão. O momento turbulento já passou, chega de briga, agora vamos trabalhar e ficar atento a todas as decisões. Sentimos um otimismo com parcimônia, continuamos trabalhando e caminhando em frente, mas com muita atenção”, comenta.

 

“Temos em nossos filiados os principais líderes do Brasil e do mundo e para eles o mais importante é a tomada de informação. Então quanto mais informações pudermos trazer, convidando outros líderes ou figuras de autoridade como o nosso ex-ministro, melhor”, completa Fernandes.

 

À imprensa, Meirelles falou sobre as perspectivas econômicas para o país e o Estado. Para ele, a perspectiva do país é de crescimento baixo. O último relatório Focus do Banco Central prevê um crescimento perto de 1%.

 

“O crescimento em 2022 foi impulsionado, em grande parte, pelo Auxílio Brasil. O que tem preocupado os agentes econômicos agora é a questão fiscal, a expansão de gastos fiscais do governo. Isso leva a um aumento na taxa de juros dos títulos público. Independentemente do que o Banco Central faça, ele não controla esse mercado de juros. Isso prejudica a atividade econômica, encarece o crédito e a população já está muito endividada, o que faz com que a renovação dessas dívidas e a tomada de novos créditos seja a taxas elevadas. Temos uma perspectiva de certa dificuldade", destaca.

 

Para o ex-ministro, o corte de despesas públicas pelo governo federal seria um dos possíveis caminhos para equilibrar as contas públicas. Como exemplo, ele citou a experiência enquanto secretário da Fazenda do Estado de São Paulo na gestão do ex-governador João Doria (PSDB).

 

"Em 2021, o governo de São Paulo fez um grande corte de despesas, uma reforma administrativa. São Paulo entrou em 2022 com um saldo de R$ 53 bilhões, isso permitiu a execução de 2 mil obras, algumas ainda em andamento. Deixamos para o atual governo, um saldo de R$ 30 bilhões, o que faz com que ele [Tarcísio de Freitas] assuma em uma posição muito confortável. Para se ter uma ideia, se somarmos o crescimento do Brasil em 2019, 2020 e 2021, temos o índice de 1,7%. Já o estado de São Paulo cresceu 7,5% no mesmo período, sendo que nos 10 anos anteriores, São Paulo sempre crescia a índices abaixo em relação à média nacional", argumenta.

 

Empréstimos do BNDES

 

Meirelles criticou a possibilidade de que o governo federal retome os investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em obras estrangeiras.

 

“Acho questionável. Temos muita necessidade de investimento em obras de engenharia no Brasil e os recursos do BNDES são limitados. Por mais que se acredite na solidariedade continental e ideológica, acho que não temos recursos em abundância suficiente. O Brasil já não está em uma situação fiscal confortável. Quando o Lula assumiu pela primeira vez, em 2003, o superávit primário era de mais de 35 do PIB. Agora ele assumiu com um déficit de 1%. O BNDES deve investir no Brasil”, declarou o ex-ministro.

 

Teto de gastos

 

Durante a campanha eleitoral de 2022, tanto o presidente Lula, quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro falaram sobre a possibilidade de rever o teto de gastos, dispositivo criado na gestão de Michel Temer – quando Meirelles era ministro da Fazenda. A revisão, pondera Meirelles, está prevista na Constituição e faz parte da redação aprovada pelo Congresso.

 

"O governo tem chamado de âncora fiscal. O nome, seja âncora ou teto, é uma mera questão de marketing. O governo pode – e está previsto na Constituição – ajustar um pouco o índice e fazer algumas mudanças. O importante é que seja um mecanismo que controle as despesas do governo Entendo que o desejo de todo governante é agir como se o dinheiro do governo não tivesse limites. Pudesse gastar e fazer bondades. É prazeroso e eleitoralmente bom, só que esse dinheiro tem limite. Quem paga as despesas do governo é o povo”, avalia Meirelles.

 

Moeda única

 

Outro assunto em alta no momento, a possibilidade da criação de uma “moeda” única entre Brasil e Argentina também fez parte da pauta de Meirelles. O que os governos dos dois países, e de outros da América do Sul, estudam é a criação de uma unidade monetária para, principalmente, intercambiar as exportações como alternativa ao dólar. A princípio, não seria uma substituição da moeda de cada nação, assim como o Euro.

 

“O governo brasileiro ainda não definiu muito bem o que seria essa moeda, mas nós já sabemos o que a Argentina quer: eles não tem acesso a dólar por conta de graves problemas de solvência. Portanto, a Argentina gostaria de comprar à vontade do Brasil pagando em uma moeda comum. O que é importante é estabelecer uma relação entre os bancos centrais dos dois países visando facilitar o comércio. Porém, até para criar um meio de pagamento entre os dois países há um limite. Vai depender não só de exportações brasileiras para a Argentina – como existe atualmente e em grande escala – mas também a importação de produtos argentinos para o Brasil, porque precisamos equilibrar a balança fiscal. O Banco Central não pode ficar acumulando esse meio de pagamento sem ter como usar”, ressalta o ex-ministro.


Foto: Luan Porto

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