"O Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação", declarou Dimas Covas na CPI da Covid

"O Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação", declarou Dimas Covas na CPI da Covid

Natural de Batatais, Covas é professor titular na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas Tadeu, declarou nessa quinta-feira, 27, que ofertou, ainda em julho de 2020, 60 milhões de doses da Coronavac ao governo federal e que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a iniciar a vacinação contra a Covid-19.

O depoimento foi dado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado federal. Natural de Batatais, Covas é professor titular na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto.

À CPI, Covas declarou que a primeira oferta de vacina ao governo federal ocorreu no dia 30 de julho de 2020, após o envio de um ofício. Segundo o presidente do Butantan, as negociações ocorriam com frequência e tudo, "aparentemente, estava indo bem".

"Tanto é que no dia 20 de outubro, eu fui convidado pelo então ministro General Pazuello, para uma cerimônia no Ministério da Saúde onde a vacina seria anunciada. A partir desse ponto, é notório que houve uma inflexão, e eu digo isso porque no final da reunião no dia 20, com a presença de vários governadores e parlamentares, saímos satisfeitos com a evolução dessas tratativas. Infelizmente, essas conversações não prosseguiram porque, houve sim, uma manifestação do nosso presidente, do presidente da república, dizendo que a vacina não seria, de fato", relatou Covas.

A manifestação do presidente a qual ele se refere foi feita no dia 29 de outubro. Na época, o governador João Doria (PSDB) pressionava Jair Bolsonaro (sem partido) para que ele oficializasse a compra dos imunizantes. "Ninguém vai tomar tua vacina na marra não, tá ok? Procura outro. E eu que sou governo – com o dinheiro que não é meu, é do povo – não vai comprar tua vacina também não, tá ok? Procura outro pra pagar a tua vacina aí", declarou Bolsonaro em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. 

De acordo com o relato de Covas, se o acordo iniciado em julho fosse firmado, o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a iniciar a vacinação contra a Covid-19. Ao todo, o presidente do Butantan garantiu que foram feitas três tentativas de acordo para a distribuição da vacina ainda em 2020 com o governo federal.

"O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro, e no final dezembro, o mundo tinha aplicado pouco mais de 4 milhões de doses. Nós tínhamos no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas e mais 4 em processamento, mas sem contrato com o Ministério [da Saúde]. [...] O Brasil poderia ser o primeiro país do mundo a começar a vacinação", ressaltou o presidente do Butantan.

Autorização da Anvisa

O acordo de compra da Coronavac pelo governo federal foi publicado no dia 7 de janeiro de 2021. Já a autorização para o uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi divulgada no dia 17 de  janeiro. 

Outras vacinas também tiveram trâmites parecidos, com o acordo de intenção de compras sendo divulgado antes da autorização para uso pela Anvisa. A vacina Oxford/Astrazeneca teve o acordo para produção firmado no dia 27 de junho de 2020. Enquanto a autorização para uso emergencial pela Anvisa foi publicada apenas no dia 17 de janeiro de 2021. 


 


Foto: Governo do Estado de São Paulo

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