Região de Ribeirão não consegue atingir número mínimo de mulheres candidatas
TSE estipula número mínimo de 30% de mulheres candidatas por partido ou coligação

Região de Ribeirão não consegue atingir número mínimo de mulheres candidatas

Especialistas apontam desproporcionalidade na disputa e dificuldades de renovação na política nacional

A Região Metropolitana de Ribeirão Preto atingiu pouco mais da metade do número mínimo de mulheres candidatas nas eleições de 2018. Desde 1997, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) exige que os partidos e as coligações respeitem a cota mínima de 30% de mulheres na lista de candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras municipais.

Apensas 18% dos candidatos da região são mulheres: ao todo, são 54 candidatos, sendo dez mulheres e 44 homens. E, das dez mulheres na disputa, nove são de Ribeirão Preto e uma de Batatais.

O número, por sua vez, não corresponde ao perfil do eleitorado ribeirãopretano. Esse perfil é composto por mulheres, de meia idade e com a escolaridade até o ensino médio. Os dados foram extraídos de relatórios da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Tribunal Superior Eleitora (TSE).

Maioria em Ribeirão, segundo dados do Instituo Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), as mulheres também representam maior parte do eleitorado: são 53,8% votantes ante 46,2% de homens.

Desproporcional

Para a advogada Raquel Montero, a baixa quantidade de mulheres candidatas não é um fato restrito apenas a Ribeirão Preto, mas um reflexo do que acontece no Brasil e no mundo.

Raquel explica que uma série de fatores impede a mulher de chegar aos cargos de poder. A advogada analisa que não se trata apenas do voto - a eleição, segundo Raquel, é apenas a última etapa do processo.   

"Para termos mais mulheres na política, precisamos de condições para viabilizar isso. [...] Mulheres casadas, com filhos, e que fazem serviços domésticos além do trabalho têm menos tempo livre do que os homens", analisa a especialista.

Além da falta de tempo, que impede muitas mulheres de participarem de reuniões em diretórios ou se filiarem a partidos, o machismo também tira a credibilidade de candidatas mulheres. “No inconsciente coletivo, é sempre esperado que o homem se proponha a fazer política”, explica.

Isso implica, também, em mudar a forma como os partidos enxergam a cota de 30% de mulheres candidatas. “Porque quando temos uma mulher lá, é simplesmente para cumprir a cota. Se você parar para analisar, elas não possuem ou mal fazem uma campanha”, critica.

Portanto, de acordo com Raquel, para aumentar a representatividade feminina na política e em demais espaços de poder, não basta apenas votar em mulheres. É preciso reestruturar a sociedade a fim de diminuir as distâncias e proporcionar melhores oportunidades para as mulheres que tenham interesse em se candidatar.

Velhos hábito

Uma das críticas da advogada Raquel Montero recai sobre um machismo arraigado na sociedade e na classe política brasileira. Mudar esse cenário também passa por mudar velhos hábitos na política, como incluir mulheres, apenas, para cumprir uma cota. "Infelizmente, também contamos com o machismo das mulheres, que não têm a consciência desses problemas", aponta Raquel.

Para o cientista político Luiz Rufino, a renovação política vai um pouco além da reeleição de candidatos que estão há muito tempo no cargo.  “A renovação variou nas quatro últimas eleições em torno de 45% das cadeiras. Contudo, quase a metade dos deputados eleitos são netos, filhos, irmãos ou casados com políticos”, comenta.

Rufino explica que, dessa forma, as ideias são passadas de um político para o outro, como uma herança de família, criando uma “falsa renovação”. Na região de Ribeirão Preto, dos 54 candidatos, cinco buscam a reeleição.


Sob supervisão de Marina Aranha.


Fotos: Elza Fiúza/ABr

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