Xadrez nos bastidores
A um ano das eleições municipais, possíveis candidaturas começam a se articular e medir sua força com o eleitorado de Ribeirão Preto
A disputa das eleições municipais de 2024 já começou nos bastidores. Apesar de ainda parecer que há muito tempo para começar a se pensar no assunto, profissionais do marketing político garantem o contrário. Partidos locais têm aventado pesquisas em institutos e assessorias para medir a força de seus concorrentes. No final de julho veio a público um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas sobre as intenções de voto para a Prefeitura de Ribeirão Preto.
A pesquisa colocou o deputado Ricardo Silva (PSD) como o favorito, com 30% das intenções de voto. O instituto avaliou três possíveis cenários e, em todos que concorre, Ricardo é o favorito. Nos cenários em que o nome do deputado não aparece, a disputa fica entre os vereadores Igor Oliveira e Alessandro Maraca, ambos do MDB, e a ex-reitora da USP, Suely Villela. O instituto de pesquisas entrevistou 718 eleitores de Ribeirão Preto de 27 a 30 de julho deste ano. O grau de confiança do levantamento é de 95% com uma margem de erro de 3,7%. Veja mais no gráfico ao lado.
Para quem trabalha nos bastidores, a eleição já começou há tempos. "Há um ditado no meio político que diz que a pré-campanha começa no dia seguinte ao último dia da eleição passada. Já a campanha propriamente dita começa estritamente 45 dias antes do primeiro turno", comentou o marqueteiro político e fundador da Baila Politics Giuliano Salvarani. Como consultor político, ele, que já atendeu todas as regiões do país, acredita que a polarização se estenderá aos municípios e haverá uma nacionalização nas disputas, ao contrário de 2020 que, segundo Giuliano, esses ciclos são normais.
"É importante entender as diferentes situações das campanhas em grandes capitais e também no interior, em cidades pequenas. Nas capitais e grandes cidades, há maior chance de polarização e segmentação mesmo dentro dos campos da esquerda e da direita. Já em pequenos municípios é necessário estar atento aos cenários locais, desgastes e novidades da política. Por isso, precisamos discutir polarização e entender quando e como ela ocorre em cada localidade", ressaltou o marqueteiro.
Nos bastidores
Procurado, Ricardo Silva mantém um discurso de prestação de contas dos seus feitos para o município, enquanto deputado federal, na busca de que isso o qualifique para comandar o Executivo local. Em seu discurso, ele enfatiza que tem atuado de maneira incisiva na busca de investimentos para Ribeirão Preto e região. "Considero o pleito eleitoral de 2024 muito importante, porém o foco do trabalho que desempenho está direcionado ao mandato concedido a mim como Deputado Federal por quase 134 mil pessoas, em especial o mais votado de Ribeirão Preto. Com relação aos eventuais nomes que entrarão nessa disputa de 2024, creio também que seja um assunto para debate no próximo ano", se limitou a dizer.
Na mesma linha de prestação de contas e continuidade de serviço, o vice-prefeito Daniel Gobbi (PP) se diz comprometido com os compromissos assumidos com a gestão do prefeito Duarte Nogueira (PSDB), que, segundo Gobbi, está devolvendo o protagonismo para Ribeirão Preto. Ele enfatiza que estão focados em entregar resultados para a população e que trabalharão para que o próximo Prefeito seja a continuidade deste projeto macro, para que fomente a geração de emprego, renda e contribua para a construção de uma cidade ainda mais próspera nos polos de educação, saúde, logística, tecnologia e no agronegócio. Procurado, o Prefeito Duarte Nogueira não revelou quem irá lançar como candidato nas próximas eleições e que este segue sendo um campo de especulações nos bastidores.
Já do lado do MDB, o vereador Alessandro Maraca se diz preparado e ter seu nome à disposição do eleitorado ribeirãopretano para concorrer às eleições majoritárias. Em sua fala, ele destaca que a cidade merece um prefeito que se preocupe com os detalhes que fazem a diferença no dia a dia de seus habitantes e que não deixe a cidade retroceder onde ela avançou. "Durante toda a minha vida, sempre estive à frente de grupos que se dedicam a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Ainda na adolescência, descobri que meu propósito era representar a comunidade. Desde então, nunca interrompi esse compromisso e, agora, desejo ir além. Vivemos em uma democracia na qual o povo tem o poder de decisão, e eles têm me incentivado fortemente a assumir essa responsabilidade", destacou o vereador.
Ainda segundo o emedebista, a polarização não é benéfica, pois ela interessa apenas a um grupo pequeno de políticos e que para mudar a vida das pessoas é necessário observar todas as correntes, independente de colocação partidária. "As pessoas precisam estar no centro das atenções. A política é cíclica, estamos passando pela fase do Brasil dividido, precisamos dialogar com todos", concluiu.
Já o companheiro de partida de Maraca, o vereador Igor Oliveira declarou que ainda é cedo para falar em candidatura. "O número positivo nas pesquisas é motivo de honra pelo reconhecimento da população e nos motiva a trabalhar ainda mais. Falar sobre uma possível candidatura à prefeitura ainda é prematuro e envolve questões partidárias, que sempre respeito. Mas procuro estar preparado e pronto para desafios na gestão pública. O importante mesmo é contribuir com eficiência para o desenvolvimento da nossa Ribeirão Preto”, declarou.
Polarização
Algo que assombra todo o cenário é a polarização que permeia o país desde 2018, com as eleições presidenciais. Esquerda e direita estão no centro do ringue, mais especificamente e com concentração o Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Liberal (PL), tendo como seus principais nomes o presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, e o ex-presidente Jair Bolsonaro Bolsonaro. As principais diferenças estão nas bandeiras ideológicas defendidas por cada grupo, como economia, políticas sociais e questões culturais. Para o cientista político Luiz Rufino, a polarização política será um campo delicado, que os candidatos devem tomar cuidado ao se aventurar. "Majoritariamente, o eleitorado ribeirãopretano é bolsonarista ou, pelo menos, simpático a ele, tendo uma minoria contrária. Mas acredito ser muito difícil se posicionarem, com exceção do Partido dos Trabalhadores (PT), que, com candidatura própria vai se posicionar em relação a isso, não há dúvidas", disse.
Questionado sobre a recente pesquisa circulada na cidade, Rufino se diz reservado, uma vez que grandes nomes não aparecem na espontânea, como o da ex-prefeita, Darcy Vera, e do vereador Lincoln Fernandes (PDT). As pesquisas espontâneas se referem aos nomes que primeiro vem à mente do eleitorado. Ele ressaltou também que nomes que aparecem bem colocados, como o de Igor Oliveira e Daniel Gobbi, não têm envergadura para a disputa. Ainda analisando o quadro que se forma para 2024 em Ribeirão Preto, Rufino acredita que o deputado federal Ricardo Silva, seja o nome mais forte no momento, dadas as alianças que ele tem construído, bem como se analisados os cenários das últimas eleições.
PESQUISA
A Paraná Pesquisa entrevistou 718 eleitores entre 27 e 30 de julho em Ribeirão Preto.
Cenário 1
Ricardo Silva: 30,4%
Igor Oliveira: 17%
Suely Vilela: 7,4%
Fernando Chiarelli: 6,1%
Antônio Machado: 3,3%
Daniel Gobbi: 2,8%
Isaac Antunes: 2,8%
Mauro Inácio: 1,8%
Ricardo Aguiar: 1,5%
Brancos e nulos: 20%
Cenário 2
Igor Oliveira: 25%
Fernando Chiarelli: 11,4%
Suely Vilela: 9,6%
Isaac Antunes: 4,5%
Antônio Machado: 4%
Daniel Gobbi: 3,3%
Felipe Elias Miguel: 3,2%
Mauro Inácio: 2,6%
Brancos e nulos: 25%
Cenário 3
Ricardo Silva: 35,2%
Suely Vilela: 7,5%
Alessandro Maraca: 7,4%
Fernando Chiarelli: 6,1%
Antônio Machado: 3,5%
Isaac Antunes: 2,6%
Mauro Inácio: 1,8%
Ricardo Aguiar: 1,7
Brancos e nulos: 23%
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
