
A energia do campo
Líder global em biocombustíveis e maior produtora de açúcar e etanol do Brasil, Raízen tem marcado presença na região de Ribeirão Preto
A Raízen, gigante do setor sucroenergético, está de olho na região de Ribeirão Preto. A companhia possui parques de bioenergia em Sertãozinho, Guariba e dois em Morro Agudo. Em média, cada nova usina gera um impacto em um raio de até 50km. Além do campo, a Raízen está presente nos centros urbanos. Isso porque a empresa é a licenciada da marca Shell e administra mais de 7 mil postos de combustíveis em todo o território nacional. Os números envolvidos neste, que é um dos maiores grupos empresariais privados do Brasil, impressionam: são cerca de 40 mil funcionários e 15 mil parceiros de negócios. Esse poder econômico não poderia deixar escapar o mercado da região de Ribeirão Preto, considerada um ponto estratégico do agro. Ricardo Berni, diretor executivo de agronegócios, ressalta que a região representa 20% de todo o universo de hectares de cana-de-açúcar gerenciados pela Raízen. “Os nossos fornecedores de Ribeirão Preto são grandes empresários. Não são apenas grandes produtores de cana, mas são formadores de opinião. É uma região absolutamente fundamental”, destaca. Na entrevista a seguir, Berni revela os planos da companhia para a região e as expectativas de negócios para 2023.
Como foi a sua trajetória até se tornar diretor executivo de agronegócios da Raízen?
Sou o que chamamos de ‘executivo de carreira’. Estou na Raízen desde a fundação, egresso da Shell. Por três anos, fui diretor de varejo na região nordeste, cuidando de sete Estados. Depois parti para Santa Catarina, para gerenciar alguns investimentos que a empresa precisava fazer e, oito meses depois, assumi a direção de varejo da região sul. Já no sudeste, fui diretor de planejamento estratégico por seis anos e, agora, estou, há cinco anos, no cargo de diretor executivo de agronegócios. Nessa função, cuido de todo o suprimento de cana-de-açúcar que precisamos e gerencio essa compra com nossos 2.200 produtores. E eles possuem um perfil muito diversificado, desde o pequeno sitiante até os maiores produtores agrícolas do país. Também garantimos todo o controle e a gestão dos nossos arrendamentos e parcerias com proprietários de terra para produzirmos a nossa própria cana. Atualmente, 50% da cana-de-açúcar da Raízen é de produção própria.
Sabemos que a Raízen é uma empresa enorme e que atua em diferentes frentes. Mas, pensando em alguém que nunca ouviu falar dela, como podemos resumir suas principais atividades?
São duas grandes empresas. A Raízen Combustíveis se encarrega de distribuir gasolina, etanol e diesel para diferentes mercados de todo o país. No varejo de combustíveis, está presente no Brasil e na Argentina, com 7.300 postos Shell. Também comercializamos 33 bilhões de litros por ano para mais de 3.300 clientes corporativos em inúmeros segmentos do comércio, indústria, aeroportos, usinas, metalúrgicas, montadoras etc. Além dos combustíveis, também temos a Raízen Energia, a área da qual eu participo. Temos um modelo único de atuação e estamos presente de ponta a ponta: desde a produção e venda de energia renovável e açúcar a partir da cana-de-açúcar, levando essa energia para diversos cantos no mundo. Temos a missão de, ao trabalhar com essa biomassa, suprir as nossas usinas para a produção efetiva de etanol, açúcar e bioenergia. Esse produto processado a partir da cana-de-açúcar vai para inúmeros fins no mercado nacional e internacional. Nosso etanol é destinado para fins carburantes, mas também para fins industriais, como cosméticos, por exemplo. A Raízen tem como mote redefinir o futuro da energia. A base de tudo isso é a cana-de-açúcar e a minha responsabilidade é garantir toda a cana que precisamos até a porta da usina. Somos a maior produtora de energia gerada a partir do bagaço da cana, com capacidade atual para abastecer uma cidade como a do Rio de Janeiro por um ano, por meio de uma fonte constante e previsível, que tem seu pico de produção justamente no período mais seco do ano, quando a matriz hídrica fica mais pressionada.
Qual é a importância estratégica da região de Ribeirão Preto para a Raízen?
É absolutamente fundamental. Desejávamos há muito tempo entrar na jurisdição dessa cidade tão importante, não só para a Raízen, mas para todo Estado de São Paulo e o Brasil. Ribeirão Preto é um celeiro do agro brasileiro. Isso nos enche de orgulho porque essa região representa 20% de todo o universo de hectares de cana-de-açúcar gerenciados pela Raízen. Atualmente, temos parques de bioenergia localizados em quatro cidades da Região Metropolitana de Ribeirão Preto. A Vale do Rosário (Morro Agudo), MB (Morro Agudo), Santa Elisa (Sertãozinho) e Bonfim (Guariba). Cada usina tem um raio da ordem de cerca de 50 km de impacto. Ou seja, toda a população, em um raio de até 50km dessas usinas, é afetada positivamente pela geração de empregos e por ações sociais promovidas pela Raízen.
Como a companhia trabalha a questão da sucessão familiar de seus fornecedores?
O negócio de cana-de-açúcar é de longo prazo. O ciclo da cana é, no mínimo, cinco anos. Isso é um pressuposto elementar para que a nossa relação com os parceiros seja de longo prazo. A história da Raízen precisa se confundir com a história das famílias que atuam no agronegócio. Infelizmente, temos uma carência no agro, que não prepara os seus sucessores. Temos trabalhos muito na transferência de know-how. Por isso, temos o Pulse, um hub de inovação que moderniza e cria novas alternativas para o agronegócio. O Pulse é um ponto de encontro de startups, universidades, investidores, executivos e organizações de diversos setores, que se unem para moldar um futuro mais inteligente. Lá são abertos espaços para que as startups criem tecnologias, inovem e possam conquistar a oportunidade de implementar soluções na prática, respondendo às necessidades de desenvolvimento da Raízen. Temos com os sucessores uma agenda frequente de encontros para discutir sobre negócios, inovação e de como o agro pode ser pop e, sobretudo, rentável a longo prazo.
Quais são as expectativas das Raízen para o mercado sucroenergético em 2023?
Temos uma expectativa de que a nossa produção deva crescer, como um todo, em torno de 10%. Estudos recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (CEPEA) mostram que os negócios de cana-de-açúcar devem crescer de 4 a 10% na próxima safra e queremos que isso acompanhe o nosso ciclo de investimentos, principalmente, na região de Ribeirão Preto. Assim, em 2023, iremos investir nas nossas plantas, usinas e também apoiar o fornecedor nos seus investimentos. Para isso, eu citaria, como dois bons exemplos, o lançamento do programa Jornada Cultivar e o Programa Elos. Fazer parte do Cultivar permite troca de experiências, acesso a tecnologias e condições comerciais através de um conceito de integração de esforços, onde a Raízen, fornecedores de cana e empresas parceiras do programa se juntam para buscar o melhor em termos de produtividade e rentabilidade para as lavouras. O capital intelectual desse grupo é muito poderoso e se amplifica nas interações frequentes, na pesquisa de produtos e tecnologias, testes e homologações do que melhor funciona nos diferentes ambientes produtivos e parceiros do agronegócio, que se esmeram em oferecer novidades em primeira mão para os produtores agrícolas da Raizen. O Jornada Cultivar vai ser formalmente lançado em junho.
Já o Programa Elos Raízen foi desenvolvido para orientar a atuação dos fornecedores nos diversos aspectos que envolvem o tema, tais como: garantia do suprimento de cana sustentável, tendência de mercado, redução do risco e sustentabilidade econômica, ambiental e social. Inédito na cadeia produtiva global da cana, o programa também é resultado de parceria com a Solidaridad e o Imaflora. Essa abrangência foi reconhecida internacionalmente. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), entidade ligada à ONU, incluiu o Elos Raízen como um big push (grande impulsionador) de sustentabilidade no setor. Nosso objetivo é que 100% dos nossos fornecedores recebam a consultoria desse programa.
Vocês reforçam a atuação com base na agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa). Dentro desse escopo, quais ações sociais da Raízen você destacaria?
Temos a Fundação Raízen, que nasceu do sonho de incentivar a educação e a educação complementar, de modo que ela seja transformadora. Criada em 2012, a Fundação tem como objetivo ampliar oportunidades para crianças e jovens em locais onde a Raízen tem operações. Por meio da educação, a instituição investe no desenvolvimento de crianças e adolescentes impulsionando autonomia, protagonismo e cidadania. A instituição conta, ainda, com o programa Ativa Juventude, voltado para o desenvolvimento de competências socioemocionais para adolescentes, e que está presente em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná. Em dezembro de 2022, a Fundação Raízen celebrou a conclusão das turmas do segundo semestre do programa Ativa Juventude, com mais de 240 adolescentes formados em Colômbia, Guariba, Igarapava e Morro Agudo. O número total de adolescentes beneficiados, incluindo todos os 37 municípios atendidos, ultrapassa 3,4 mil. Esse movimento faz parte da estratégia de expansão da Fundação Raízen e do compromisso público da Raízen de impulsionar ações em educação, por meio de programas da Fundação Raízen em 100% dos territórios em que tem operação até 2030.