
A força do sonho de um menino
Aos 70 anos, Oswaldo Feierabend celebra a vida, as conquistas e os caminhos que o levaram de volta à paixão da infância
Quem observa os passos calmos de Oswaldo Feierabend ao caminhar pela Fazenda Visconde, sem pressa, como quem realiza um passeio, sequer imagina que são dados por um homem que já correu muito na vida, ao longo de seus 70 anos, atrás da estabilidade e de um sonho.
Hoje, a história do homem bem-sucedido, que nasceu em Santa Cruz da Esperança, em 1940, curiosamente se mescla com a do menino que, até os 12 anos, viveu em uma propriedade rural e aprendeu na infância que a natureza pode ser generosa e proporcionar prazeres para quem sabe apreciá-la. “Eu nasci na roça e tinha minha arapuca, como todo menino. Meu pai fazia viveiros em que colocava os pássaros que eu conseguia apanhar. Eu sempre gostei muito de aves, sempre fui apaixonado”, define.
Mas a vida não espera e o garoto dos pássaros teve que esquecer suas aventuras na mata para se preparar para a vida. E foi assim que abandonou a “roça” para estudar em um colégio interno em Batatais, onde permaneceu até os 17 anos. “Foi nessa época que vim para Ribeirão Preto: trabalhava durante o dia, como auxiliar de colocador de cortina, e fazia o científico à noite”, ele conta.
Não demorou muitos meses para que o auxiliar se transformasse em colocador de cortinas e, alguns meses depois, em vendedor da loja de produtos finos, que pertencia ao grupo J Silva, que, não por coincidência, chamava-se “Visconde Decorações”.
Depois de algum tempo, Oswaldo tornou-se subgerente. A empresa, que se dividiu em cinco lojas, foi estabelecida em um prédio de cinco andares, mas não havia espaço para a loja em que trabalhava. Foi assim que, pela primeira vez, tornou-se proprietário de alguma coisa. “O dono propôs para o gerente e para mim a compra da loja e nós decidimos aceitar. Mas o dinheiro subiu à cabeça do gerente, endividamo-nos e voltamos à estaca zero”, relembra Oswaldo. Pensando em abandonar o negócio, chegou a investigar propostas de trabalho em São José dos Campos e em Uberlândia, mas, por fim, decidiu arcar com as dívidas e fazer o negócio prosperar.
Comprou a loja do sócio sem crédito nem dinheiro: vendeu uma casinha, pagou os impostos atrasados e chegou a trabalhar 18 horas por dia. “Não fiquei rico, mas tinha muito mais do que merecia”, comenta. Permaneceu no ramo até 1998 e chegou a ter uma fábrica de móveis e uma tapeçaria. Com os lucros, construiu várias casas e, por fim, pôde voltar às raízes com a compra da Fazenda Visconde. “Cheguei a ter mais de 100 funcionários, mas como não tinha sucessor — já que minhas filhas não tinham interesse em continuar com o negócio —, desativei e arrendei o prédio, tendo ficado somente com a fazenda. No início, era uma fazenda de leite, depois arrendei 80% das terras para plantação de cana e fiquei apenas com 20%”, afirma Oswaldo.
A história da fazenda como um reduto de animais exóticos e silvestres teve início em 1981, com a aquisição de sete casais de faisão e cinco casais de pavão. Na época em que negociou com grandes empresas, chegou a ter 50 mil faisões. A estrutura contava, além dos viveiros, com um frigorífico, que já está desativado há três anos, um abatedouro e uma incubadora. Hoje, a Fazenda Visconde tem 290 espécies de aves, peixes, répteis e invertebrados oriundos de vários países, sobretudo da Ásia e da África, e se constitui o maior criadouro com fins ornamentais da América do Sul. “Nossos melhores compradores estão no Nordeste, mas temos procura em todo o território nacional”, destaca o proprietário.
O local também serve para o desenvolvimento da consciência ambiental: recebe anualmente 15 mil visitas, entre elas, milhares de crianças que exploram o local acompanhadas por biólogos e monitores, que as introduzem ao universo dos animais silvestres e ornamentais, contando as curiosidades, os hábitos, as características e as peculiaridades de cada espécie, despertando-os para a importância de preservar o meio ambiente.
Hoje, Oswaldo, que completou 70 anos no dia 13 de outubro, olha para o que conquistou e se sente realizado. Alcançou o sonho do menino que queria viver em contato com os animais, mas ao longo dessa trajetória, o proprietário acumulou muito mais. Além de trabalho, que também define como um hobby, já que tem o privilégio de fazer o que gosta, sua esposa Dayse, as filhas Cristiane, Giselle e Alessandra, junto com os netos, completam seu sonho, formando o que ele define como uma família feliz. “Amo minha família, meus irmãos, meus netos e vivo para eles”, conclui.
Fotos: Carolina Alves e Julio Sian