A força que vem do campo

A força que vem do campo

Tradicional polo comercial e de serviços, Ribeirão Preto também possui vocação para o agronegócio

Ribeirão Preto sedia 100 das principais instituições públicas e privadas ligadas a bovinos, cana-de-açúcar, grãos, indústria de alimentos e de fornecedores de bens e serviços. Cooperativas internacionais e nacionais de produtos e finanças, assim como bancos e câmaras de comércio têm sedes ou regionais encravadas em Ribeirão Preto, assim como a grande maioria das instituições públicas federais e estaduais são sediadas na cidade. A Secretaria Estadual da Agricultura tem o disputado Centro de Cana, que desenvolve tecnologia canavieira, localizado Ribeirão Preto, em área anexa de 440 mil metros quadrados, onde, desde 1994, se realiza a Agrishow.

Também é em Ribeirão Preto que se concentram os principais veículos de mídia especializados em agronegócio, onde o turismo de negócios local, com 30 eventos anuais, amplia a produtividade do agronegócio. O setor está cravado, regionalmente, — nos 86 municípios da antiga 6ª Região Administrativa do Estado de São Paulo. Em um raio de 200 quilômetros de Ribeirão Preto, estão 35% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista. Localizam-se na cidade e nas suas imediações as maiores usinas de cana em capacidade instalada, responsáveis por metade do açúcar e do etanol feitos no Estado. Distribuídas pelas cidades vizinhas há criações de gado e plantações de café, amendoim, laranja, eucalipto e grãos. 

Feira deste ano deve reunir mais de 150.000 visitantes de 70 países

Em meio a esse universo, o município recebeu, no começo da década de 2000, o título de Capital Brasileira do Agronegócio. A homenagem, depois oficializada, partiu do professor da USP, Marcos Fava Neves. Com a ideia de unificar o discurso em torno do setor, o docente trabalhava para que as sedes de instituições como a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e a Associação Brasileira de Defesa Vegetal (Andef)  fossem transferidas para Ribeirão Preto, a fim de turbinar na cidade a força do agronegócio. Sediadas na capital paulista, as instituições permaneceram por lá, mas o título de Capital Brasileira do Agronegócio foi consolidado. 

Na década de 2000, Ribeirão Preto recebeu o título de Capital do Agronegócio

Pouco tempo antes de o título vir à tona, foi realizado um trabalho com a Embrapa sobre diagnóstico de uso da terra nos 86 municípios que fazem parte da 6ª. Região Administrativa do Estado. Pensava-se somente na presença de cana, mas o estudo revelou que a cana  estava em 49,5% da área da região. O restante dessa extensão de terras era ocupado por soja, amendoim, café, frutas, legumes, leite e avicultura. O trabalho apurou que essa região tinha fabricantes de máquinas em um raio muito próximo, bem como insumos, sementes, instituições de pesquisas, unidades da Embrapa, USP, Unesp e UFSCar.

Segundo Mônika, a cidade consegue reunir tecnologia, gestão, gente, pesquisa e mercado
Foto: Rafael Cautella

O diagnóstico destacou que em Ribeirão Preto e região há todo tipo de serviços: financeiro, pessoal, porto seco, aeroporto, tradings.  “Em outras regiões do país, você tem foco em determinado segmento agrícola, mas não no todo. Então é aqui, em Ribeirão Preto, a Capital Brasileira do Agronegócio”, diz Mônika Bergamaschi, que participou do trabalho com a Embrapa e ocupava o cargo de diretora da Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão e Região (ABAG-RP) na época. Segundo Mônika, que hoje preside o conselho da instituição, o município continua fazendo jus ao título. “A cidade consegue reunir tecnologia, gestão, gente, pesquisa e mercado. A área agrícola de Ribeirão Preto é minúscula, mas reside na cidade o pessoal que é proprietário de investimentos no agronegócio não só da região, como de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, avalia Mônika. 

O peso da Agrishow

Apesar dos graves problemas políticos do país, a agricultura brasileira prepara-se para uma safra recorde de grãos de 223 milhões de toneladas em 2017. No  Estado de São Paulo, a Secretaria da Agricultura prevê aumento de 3,6% na produção de grãos na safra 16/17, com ganho de produtividade de 0,3% em comparação com a temporada anterior. Esses resultados e projeções dificilmente serão alcançados sem as tecnologias apresentadas em eventos como a Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow). Universo de produtos e de serviços unidos uma vez por ano em 440 mil metros quadrados em Ribeirão Preto, a Feira permite ganhos pela troca de experiências entre expositores e visitantes, praticamente 100% formados por técnicos, especialistas e produtores. 

O peso da Agrishow no agronegócio regional vem desde a criação. A Feira foi realizada pela primeira vez em 1994, pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), com sede na capital paulista. Em 1995, entraram outras instituições como sócias. Hoje, a Abimaq tem 70% do capital, enquanto 10% pertencem à Faesp, sendo que Abag, SRB e Anda mantêm 6,66% cada. Mônika Bergamaschi, ex-secretária estadual da Agricultura e integrante da Abag, na época da criação da Feira, lembra que o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, era secretário estadual da Agricultura.  

“Tinha ocorrido um evento semelhante ao que seria a Agrishow no Paraná”, conta Monika, acrescentando que o secretário, juntamente com lideranças como Ney Bittencourt, então presidente da Abag, formatou a Feira a partir do evento do Paraná e de outros realizados no exterior. “Pelo fato de o Roberto ser secretário naquele período, foi mais fácil utilizar área em Ribeirão Preto para sediar a Agrishow, uma vez que a Secretaria possui imóveis rurais no município”, comenta a dirigente da Abag, lembrando que a área na qual a feira se realiza foi cedida em comodato pela Secretaria aos realizadores. 


A Feira deste ano

As novidades da edição de 2017 da Agrishow estão centradas em conteúdo e em tecnologias. “A Arena de Demonstrações de Campo terá um novo formato”, afirma José Danghesi, diretor da Feira. O espaço terá curadoria da Coopercitrus, para apresentar tecnologias para o agronegócio em ação. Haverá, também, a Arena do Conhecimento, um palco de apresentações de novas tecnologias e de tendências durante o evento. “Serão palestras, seminários e congressos com informações relevantes para o dia a dia e para os negócios dos profissionais do campo.

Danghesi anuncia arena de demonstrações de campo com um novo formato

As palestras serão ministradas por importantes organizações, como o Lide Ribeirão Preto”, revela Danghesi. Segundo o diretor, os investimentos em conteúdo ocorrem depois de uma série de melhorias na estrutura para o expositor e para o visitante. “Houve desde o alargamento e asfaltamento de ruas, melhoria de acessos e estacionamento, mais pontos de alimentação, entre outros benefícios.”


Acesso e parceria

O acesso à área da Agrishow, que durante anos foi motivo de queixa de expositores e de visitantes, deverá ficar congestionado nos horários de pico. “São cerca de cinco mil veículos de expositores que chegam e partem próximo aos horários de abertura e de encerramento da Feira”, explica Danghesi. “Buscamos seguir orientações de segurança viária, a fim de minimizar os riscos de acidentes e de atropelamentos. Por esse motivo, nesses horários de maior movimentação de veículos e pessoas, é preciso controlar rigorosamente esse fluxo, sendo o acesso liberado aos poucos, tanto na entrada como na saída, para a garantia da segurança de todos. É importante verificar que, nos últimos anos, não houve nenhum acidente viário significativo no local,” avalia o diretor.

Pesquisas internas revelam que as críticas relacionadas ao acesso diminuíram nos últimos anos. “As  reclamações  sobre poeira  praticamente  terminaram  desde  2013,  quando  os  trenzinhos  (abertos)  foram  substituídos  por  ônibus convencionais”, destaca o dirigente. Segundo Danghesi, a organização fechou parceria com o aplicativo de trânsito Waze. “É uma vantagem para quem vai de carro. O Waze informará o melhor trajeto para chegar até o local”, comenta o diretor. Outra ação desenvolvida é a disponibilização de transfers diários, organizados pela Levitatur, agência de turismo oficial, para os visitantes de cidades como Bauru, Araçatuba, Sorocaba, Barretos, Botucatu, Piracicaba, Rio Claro e Franca.
 

Perspectivas

Conforme Danghesi, apesar da situação econômica do país, as projeções de negócios são positivas. “Na verdade, estamos otimistas justamente pelo agronegócio ser um dos únicos setores que sustenta a economia nacional, movimentando toda a cadeia direta ou indiretamente ligada a ela. Quanto à Agrishow, sendo hoje a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, ela tem por responsabilidade apresentar aos produtores rurais importantes soluções para ampliar o agronegócio”, projeta o diretor, informando que serão mais de 800 marcas nacionais e internacionais expositoras no evento. “A expectativa é reunir mais de 150.000 visitantes de 70 países, e superar a realização de negócios alcançados no ano passado.” 


Expectativa de crescimento

- Projeção de safra brasileira de grãos para 2017: 223 milhões de toneladas;
- Aumento de 3,6% na produção de grãos na safra 16/17, com ganho de produtividade de 0,3%, no estado de São Paulo.


Infraestrutura de Ribeirão Preto e região

- É sede das 100 das principais instituições públicas e privadas ligadas a bovinos, cana-de-açúcar, grãos, indústria de alimentos e de fornecedores de bens e serviços;

- É sede do Centro de Cana da Secretaria Estadual da Agricultura;

- Concentra os principais veículos de mídia especializados em agronegócio;

- O turismo de negócios é reforçado por 30 eventos anuais;

- 35% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista se concentra nos 86 municípios da antiga 6ª Região Administrativa do Estado de São Paulo;

- Na cidade e imediações, encontram-se as maiores usinas de cana em capacidade instalada, responsáveis por metade do açúcar e do etanol feitos no Estado;

- Nas cidades vizinhas há criações de gado e plantações de café, amendoim, laranja, eucalipto e grãos.

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