
A hora da reforma
Seja uma mudança simples ou radical, é importante tomar alguns cuidados antes de iniciar a reforma de qualquer imóvel
Vários fatores podem motivar o início de uma reforma. O desgaste natural causado pelo tempo e o surgimento de novas tecnologias construtivas são alguns deles, assim como a mudança do momento de vida — um casamento, a chegada de filhos, o estado de espírito mais, ou menos, vibrante. Seja qual for a razão, uma reforma exige atenção e não deve ser iniciada sem planejamento. Segundo o arquiteto e urbanista Ruy Mariano, o ideal é desenvolver um projeto prévio. “Consultar um profissional da área irá garantir bons resultados e evitar maiores sustos no decorrer do trabalho”, recomenda o sócio-proprietário da Soma Construtora, que afirma que 80% das possibilidades de sucesso de uma reforma podem ser atribuídos a um bom planejamento.
Com um plano de ação, a grande maioria das mudanças pode ser realizada. “Algumas alterações incluem adequações estruturais, o que exige novos cálculos e atenção redobrada. Mas as novas tecnologias ampliaram as possibilidades também na hora da reforma”, garante o arquiteto, habituado a reformas de pequeno, médio e grande porte.
Na última categoria podem ser incluídas as obras da residência do casal Rodrigo e Cristiane Chaves. “Em 2009, compramos uma casa com cerca de 10 anos de uso e resolvemos reformá-la. Para isso, contratamos uma empresa, depois de consultar alguns amigos que já haviam passado pela experiência”, relata Cristiane.
O projeto previa a ampliação de alguns ambientes e estava estimado para terminar em quatro meses, mas prolongou-se por um semestre inteiro. “Não tem jeito. Os atrasos sempre acontecem, seja por causa do clima, da entrega dos materiais, da mão de obra ou das surpresas do caminho”, acrescenta a proprietária. O orçamento também não deve ser levado ao pé da letra. “Gastamos em torno de 30% mais do que o previsto, mas ficamos extremamente satisfeitos”, avalia a profissional de propaganda e marketing.
Segundo Ruy Mariano, atrasos e acréscimos no orçamento são normais. “Qualquer alteração, seja no projeto ou na inflação do país, impacta sobre as obras. Por isso é importante separar uma reserva para esses imprevistos”, recomenda. O arquiteto orienta seus clientes a não iniciarem nenhuma reforma, por mais simples que possa parecer, no período final do ano. “Isso se ele não quiser passar o Natal dentro de uma obra”, brinca. Mudar-se para um outro endereço, enquanto a reforma é executada é sempre a melhor opção. Quando isso não é possível, encontrar uma maneira de conviver com a realidade da obra é a única saída.
Desafio que a empresária Zélia Belluzo encarou e superou com louvor. As mudanças no apartamento começaram pela cozinha. “Nossa casa é cenário de muitas reuniões familiares. Meu marido, apaixonado por culinária, é o responsável por preparar as refeições nesses encontros. Gostamos de ficar próximos dele, mas a estrutura antiga não nos permitia. Foi isso o que motivou a reforma, queríamos ter uma integração maior”, lembra Zélia. As obras duraram 90 dias e a empresária se adaptou rapidamente à nova rotina. Os profissionais entravam pela área de serviço e trabalhavam apenas no cômodo, que ficou totalmente interditado. Sala, quartos e banheiros não foram comprometidos. “Dava um pouco de dor de cabeça estar no meio da reforma. Porém, se eu não passasse por essa fase, não atingiria o objetivo. Pensava que seria temporário e não reclamei um dia sequer”, indica.
A experiência foi tão positiva que um ano depois ela decidiu renovar os banheiros da área íntima do apartamento. A mesma estratégia foi adotada, isolando o espaço da reforma. O casal utilizava a cozinha nova e o banheiro da área de serviço, enquanto a sala acabou se transformando em dormitório. Foram mais 90 dias, dos quais Zélia não se arrepende. “Tudo valeu a pena porque o resultado foi além das expectativas. Estou muito feliz com a minha casa”, conclui. Atenção e cuidados
Uma obra requer planejamento, projeto, observância das técnicas e normas de execução, além de uma manutenção adequada. Tais itens, orientados por um profissional, garantem o sucesso de uma construção ou de uma reforma. Para o especialista em engenharia de reparação estrutural e geral, Augusto Menezes, a possibilidade de colapso de um imóvel — como o que aconteceu no início deste ano com o edifício Liberdade, no Rio de Janeiro — é nula quando seguidas as normas de projeto, construção e conservação. “Com a tecnologia disponível hoje em dia, pode-se dizer que casos como este são 100% ocasionados por falha humana. Isto porque os programas construtivos estão muito especializados”, afirma o engenheiro civil. Para Augusto, além de erros de cálculo, outras duas falhas podem ser cometidas: de construção, sempre motivado pelo não cumprimento do projeto ou pelo uso de materiais fora das especificações, ou de falta de manutenção preventiva adequada, assim como reformas mal planejadas e executadas. “Muitas vezes, para economizar ou acelerar uma obra, materiais recomendados são trocados, assim como plantas são redefinidas por empreiteiros sem consulta técnica”, acrescenta Augusto. Em casa, as pessoas devem ficar atentas a alguns sinais, como queda de pedaços de reboco, manchas de infiltrações, trincas, fissuras, queda de azulejos, entre outros. “Tudo isso pode ser indício da necessidade de uma reforma”, argumenta. Quanto antes o socorro for dado, mais barato ficará.
Fotos: Julio Sian e arquivo