
A leveza do brincar
Pesquisa realizada com crianças diagnosticadas com câncer revela estratégias para enfrentar a quimioterapia
Pesquisa realizada com crianças entre 7 e 12 anos diagnosticadas com câncer, em tratamento há pelo menos três meses no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), revelou estratégias para enfrentar a quimioterapia.
Segundo a terapeuta ocupacional responsável pela pesquisa, Amanda Mota Pacciulio, as crianças deixam evidente que manter a esperança acesa é de extrema importância para o tratamento. “A equipe médica precisa sempre “dosar”, para não dar falsas esperanças, é uma linha tênue”, argumenta a terapeuta.
Em entrevista para o portal da Revide, Amanda explica como os vínculos com a equipe de saúde, as brincadeiras e a religião afetam diretamente o tratamento.
- Quando você começou a desenvolver a pesquisa e por quê?
Amanda: Comecei essa pesquisa em 2010, com o objetivo de buscar compreender, a partir da opinião das próprias crianças, o que facilita o enfrentamento do tratamento quimioterápico, ou seja, o que faz com que fique mais fácil passar por esse tratamento que envolve tantas adversidades, como o afastamento dos amigos e da família, os efeitos colaterais (principalmente náuseas, dor e perda do cabelo), a ociosidade, a realização de procedimentos e exames invasivos e dolorosos, etc.
- Quais os métodos utilizados para ajudar na entrevista com as crianças?
Amanda: Com o objetivo de deixar as crianças mais à vontade, e favorecer sua expressão, a entrevista foi realizada com auxílio de fantoches, desenvolvidos por mim e elaborados em parceria com as próprias crianças participantes do estudo. Utilizei ainda um avental, também especialmente confeccionado por mim, para servir como um cenário interativo, que possibilitava o encaixe dos fantoches em diferentes espaços e reforçava a característica lúdica da entrevista.
- Quais as principais características da criança em relação a adequação ao tratamento que puderam ser notadas durante a pesquisa?
Amanda: As crianças preferem saber exatamente qual a sua doença, para conseguirem entender qual a necessidade desse tratamento que traz sofrimentos. Então, é importante que exista uma parceria entre pais e profissionais da saúde para contar para a criança que ela tem câncer, mas de uma forma adequada à sua faixa etária, para que ela possa realmente compreender o que está acontecendo com seu corpo.
- Durante esta pesquisa as crianças revelaram os aspectos negativos do tratamento, quais foram os mais citados?
Amanda: Como aspectos negativos (adversidades) do tratamento, as crianças desta pesquisa referiram-se aos efeitos colaterais da quimioterapia (principalmente as náuseas, vômitos e perda do cabelo) e à dor, causada principalmente pelos procedimentos invasivos, como a punção venosa. Somado a isto, elas mencionaram também a ociosidade enfrentada durante as internações e a incerteza quanto ao sucesso do tratamento.
- Quanto aos aspectos positivos, o que foi citado pelas crianças em tratamento?
Amanda: As crianças demonstraram construir vínculos positivos e, mais do que isso, afetivos com a equipe de saúde e manter o desejo e disposição para realizar brincadeiras, as quais aproximam o cotidiano da internação às vivências anteriores à doença, evidenciando a manutenção de aspectos saudáveis, apesar do adoecimento biológico. Elas relataram também manter a fé e a esperança da cura durante todo o tratamento e, na medida em que acreditam que esse tratamento é o que vai propiciar que elas voltem a ter a vida que tinham antes do câncer, consideram que vale a pena passar por tudo isso.
- Quais estratégias podem ser usadas pela família e pelos médicos para amenizar o dia a dia da criança em tratamento?
Amanda: É importante informar à criança que ela tem câncer; manter um atendimento acolhedor e humanizado, atento às particularidades de cada caso; oferecer a criança brinquedos e brincadeiras, se possível também em atendimentos de Terapia Ocupacional. Os efeitos colaterais e a dor podem ser minimizados, muitas vezes, com recursos não-farmacológicos associados às medicações, como por exemplo estratégias de distração (novamente as brincadeiras), alimentação escolhida pela criança, uso de adereços na cabeça para disfarçar a perda dos cabelos, entre outros.
Revide On-line
Texto: Pâmela Silva
Fotos: Carolina Alves