
Abastecendo a Mochila
Pesquisa feita em Ribeirão Preto revela diferença de preço de até 400% entre os mesmos materiais escolares, em diferentes lojas; compras e preparativos para a volta às aulas envolvem pais e alunos
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Colaboração: Cárila Covas | Fotos: Luan Porto
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Para pais de alunos, a saga é anual: antes de começar o ano letivo, a hora é de pegar as listas de material escolar e sair em busca dos pedidos feitos pela escola. Esse período, que pode ir de novembro a janeiro, antes de as aulas começarem, costuma encher as papelarias de Ribeirão Preto com famílias em busca de cadernos, estojos, lápis, canetas e o que mais a instituição de ensino demandar. No entanto, para os apressados que pretendem resolver o problema no primeiro estabelecimento que encontram, uma dica valiosa: pesquisar os preços entre diferentes lojas pode garantir uma boa economia.
A Fundação Procon-SP, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania, realizou uma pesquisa de materiais escolares no município e o resultado é alarmante: o levantamento comprovou uma variação de preço de até 382,76% entre materiais em papelarias distintas. Esse percentual foi apurado na borracha látex branca, da marca Faber Castell: o maior preço encontrado foi de R$ 2,80 e o menor, de R$ 0,58 — uma diferença em valor absoluto de R$ 2,22.
A pesquisa foi realizada em sete papelarias de Ribeirão Preto, nos dias 6 e 7 de janeiro, pela equipe da fundação. O órgão ressalta, em nota, que os valores podem sofrer alterações sazonais. "Os preços praticados atualmente podem ser diferentes, já que estão sujeitos à alteração conforme a data da compra, inclusive, por ocasião de descontos especiais, ofertas e promoções", destaca o Procon-SP, afirmando que o objetivo do levantamento é oferecer aos consumidores referências, por meio dos preços médios obtidos na amostra.
O percentual de abastecimento dos produtos nos estabelecimentos pesquisados ficou entre 40% e 90%, por isso, além do custo, é fundamental verificar, também, a disponibilidade dos produtos, para avaliar se vale a pena comprar tudo em uma mesma loja.
Para a comparação realizada, foram considerados somente os itens comercializados em, no mínimo, dois dos locais visitados, totalizando 94 artigos, relativos aos seguintes tipos de produtos: apontador, borracha, caderno, canetas esferográfica e hidrográfica, colas em bastão e líquida, fita corretiva, giz de cera, lápis preto e colorido, lapiseira, marca texto, massa de modelar, papel sulfite, pintura a dedo, refil para fichário, régua e tesoura escolar.
Indo às compras
Pesquisar é palavra de ordem para o gerente Róger, que tem um filho de cinco anos. Ele e a esposa buscam os melhores preços antes da compra do material escolar. “Em relação a buscar o mais barato ou com mais qualidade, acredito que é preciso olhar um pouco de cada, até encontrar algo que seja bom e com um preço razoável. Nas compras, buscamos comprar o essencial, nada além da lista, até porque, em comparação com o ano passado, os preços aumentaram”, afirma.
Segundo a auxiliar de vendas de uma papelaria de Ribeirão Preto Larissa de Araújo, o estabelecimento espera aumento no fluxo de clientes na última semana de janeiro, embora, até o momento, as vendas estejam satisfatórias. “As famílias estão voltando de férias, de viagem, então acredito que o ápice das vendas ainda não foi atingido. Esperamos mais, mas, mediante nossa economia, posso afirmar que até então as vendas estão dentro das perspectivas”, comenta. De acordo com Larissa, em 2020, a maioria dos pais tem buscado os pedidos da lista, independente do valor. “Acredito que o motivo disso seja porque as escolas não colocam mais outros materiais que não são de uso pessoal da criança. O Procon já alertou em relação a qualquer abuso e fez com que os pais ficassem mais atentos. O que as escolas têm pedido é realmente o necessário”, afirma. Ainda para a auxiliar de vendas, muitos pais encaram as compras de materiais como gasto e não investimento na educação do filho. “O que eu diria para o consumidor, afinal, é que ele busque um local apropriado, ou seja, vá a uma papelaria onde encontra tudo o que precisa. Ele vai economizar combustível e tempo. Comprar um pouco em cada lugar pode sair mais caro”, sugere.
A estudante Ana Laura, 16 anos, foi com a irmã mais nova, Ana Júlia, procurar o material escolar. Para ela, a busca tem de ser prazerosa, e não um programa burocrático e complicado. “Nós sempre compramos os materiais juntas, porque é algo que tem que ser agradável para ela e que incentive a ir à escola”, diz.
O mesmo pensa a auxiliar de cozinha Nilzete, 40 anos, que foi às compras acompanhada da filha Beatriz. “Quando posso, trago minha filha junto, porque ela já escolhe uma capa do gosto dela, por exemplo. Não adianta eu levar um caderno que eu escolhi e ter de voltar para comprar outro depois. Sai mais caro”, explica.
ENTREVISTA
Feres Najm, chefe da Divisão de Gerenciamento do Procon de Ribeirão Preto esclarece algumas dúvidas e as respostas podem ajudar nos preparativos da compra de material escolar.
Qual a melhor maneira de os pais se planejarem para gastar menos com a compra do material escolar?
Os pais devem pesquisar no maior número de estabelecimentos possível, negociando descontos e prazos para pagamento. Antes da compra, verifique quais os produtos da lista que você já possui em casa, que estejam em bom estado e que possam ser reutilizados. A compra em conjunto pode facilitar as negociações. Evite comprar materiais com personagens, logotipos e acessórios licenciados, porque, geralmente, os preços são mais elevados. Outra dica é promover e participar da troca de livros didáticos entre alunos que cursam séries diferentes. Na busca pelo menor preço, é importante que o consumidor não se esqueça de verificar a qualidade e procedência dos produtos, evitando a compra em vendedores ambulantes: o preço pode ser menor, mas não há emissão de nota fiscal e muitas vezes os produtos não possuem certificação do órgão responsável.
A que tipo de irregularidade os pais devem ficar atentos?
A possíveis imposições no local de compra da lista, ferindo o direito de escolha, a discrepâncias nos valores dos produtos, caso escolha comprar os produtos da lista por alguma parceria com a escola e, principalmente, a inclusão nas listas de materiais coletivos. Sendo isso vedado às instituições educadoras.
Existe alguma determinação com relação às listas de materiais escolares que precisam ser seguidas pelas escolas?
Principalmente, respeitar o direito de escolha dos pais, não impondo ou exigindo deles que comprem os produtos da lista ‘nesse ou naquele’ estabelecimento ou mesmo restringindo produtos a uma marca específica, direcionando a venda e, principalmente, a inclusão de produtos de uso coletivo nas listas — o que é proibido por parte das escolas. Por exemplo: álcool hidrogenado, algodão, canetas para quadro (atômico), copo descartável, cordão, creme dental, CD ou DVD, esponja de prato, estêncil a álcool e óleo, fita para Impressora, papel sulfite A4, papel ofício, plástico para classificador, TNT (Tecido não tecido), toner, giz branco e colorido, lenço descartável. Materiais que seriam de obrigação da escola fornecer ou então que é para uso coletivo da sala ao longo do ano. Esse tipo de material é irregular e não pode ser exigido nas listas.
Valores Reajustados
Segundo a Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (Abfiae), os materiais escolares podem sofrer reajuste de até 8% na comparação com os preços de 2019. Por isso, é fundamental que os pais estejam atentos e façam uma pesquisa entre estabelecimentos antes de irem às compras.
De acordo com o advogado e professor de Direito do Consumidor no Centro Universitário Estácio Ribeirão Preto, Danilo Nunes, é preciso ficar de olho na lista das escolas para o caso de a instituição pedir algum item que não é responsabilidade dos pais. “Os pais não devem comprar produtos que não façam parte das atividades escolares como, papel higiênico, álcool em gel ou líquido, detergente, entre outros”, explica.
Outro detalhe que precisa de atenção extra na hora das compras é se a escola em questão cobra alguma taxa extra de material, que os responsáveis não são obrigados a pagar. Caso resolvam efetuar o pagamento, é importante que peçam para a escola apresentar a lista com os materiais envolvidos nesta taxa.
O X da Questão
O Procon-SP dá algumas dicas aos pais e aos responsáveis que vão comprar os materiais escolares para o ano letivo.
• Verificar quais dos produtos da lista de material o consumidor já possui em casa e se estão em condição de uso. Promover a troca de livros didáticos entre alunos também garante economia.
• Na lista de pedidos, as escolas não podem exigir a aquisição de qualquer material escolar de uso coletivo (materiais de escritório, de higiene ou limpeza, por exemplo), conforme determina a Lei nº 12.886 de 26/11/2013.
• Alguns estabelecimentos concedem bons descontos para compras em grandes quantidades. Assim, pode ser interessante o consumidor se reunir com outros pais para uma compra coletiva.