Abrindo portas

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Por meio da educação e da cultura, há mais de 40 anos Marta Irides de Oliveira se dedica a dar novas oportunidades a pessoas em estado de vulnerabilidade e de exclusão social

Nascida em Franca, a 90 quilômetros de Ribeirão Preto, em família sempre envolvida com atividades sociais, desde pequena Marta Irides de Oliveira já acompanhava a mãe nas visitas realizadas à periferia da cidade. Na adolescência, ministrava aulas de evangelização para crianças e adolescentes, participava de teatro, sendo muito atuante no grupo de mocidade que frequentava. Sempre trabalhou na área da educação, primeiro como professora das séries iniciais, sentindo-se realizada, principalmente, no processo de alfabetização. 

Em 1974, concluiu o curso de Pedagogia, prestou concurso para o cargo de diretora e, logo em seguida, para supervisora de ensino — função que exerceu até sua aposentadoria, em 1991. É mãe de quatro filhos, três cirurgiões dentistas e um analista de sistema, e chegou a Ribeirão Preto na década de 70. Trabalhou em vários grupos, até atingir uma região conhecida como Favela do Jandaia. Juntamente com uma equipe de civis, militares e profissionais da área da saúde, Marta realizava um trabalho assistencial e de orientação para famílias devidamente cadastradas.

Foi esse o trabalho precursor do Centro de Orientação, Reintegração e Assistência Social (Corassol), uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos, beneficente e filantrópica, que há mais de 30 anos compartilha solidariedade, amor e serviços humanitários, intermediando ações entre quem disponibiliza recursos e quem deles necessita, para assegurar qualidade de vida. Marta explica que são realizadas atividades na área dos direitos fundamentais: vida, saúde, educação, lazer, esporte, trabalho, habitação e meio ambiente. “Tudo para garantir condições de proteção e de inclusão, exercício da cidadania e protagonismo a crianças, adolescentes, jovens e familiares, em situação de vulnerabilidade e exclusão social”, assegura Marta. A seguir, a fundadora do Corassol e atual presidente da instituição compartilha as experiências de uma trajetória a serviço do bem.

Marta afirma que um dos valores mais importantes de uma organização é sua credibilidadeQuando começou seu envolvimento com o Corassol?

Sou uma das fundadoras, iniciei o trabalho no bairro em 1977, na favela do Jardim Jandaia. Com o aumento da demanda, surgiu a necessidade de centralizar o atendimento à comunidade em um único local e, por meio de doações, foi adquirido um terreno próximo. No dia 3 de março de 1981, foi eleita a primeira diretoria da Cruzada dos Militares Espíritas - Núcleo de Ribeirão Preto. Demos continuidade do atendimento numa parte já construída, sendo a sede própria inaugurada em 1982. Em dezembro de 1999, foi alterada a denominação da entidade para Corassol. São 38 anos de atividade ininterrupta, com dificuldades, sim, mas com uma alegria enorme pelas conquistas e pelo número de pessoas beneficiadas, incluindo a nós mesmos, que somos os maiores beneficiados com a realização desse trabalho. 

Qual é o principal foco da organização?

Na atualidade, temos como principal foco o atendimento realizado pelo Programa Construindo o Amanhã, um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes, que têm idades entre seis e 15 anos.

Quais foram seus principais desafios à frente da instituição?

Ao longo de nossa história, foram vários desafios, mas destaco o atendimento domiciliar as pessoas com HIV/Aids, pois no início da epidemia, havia muita desinformação e preconceito. Realizamos terapia holística e manutenção de dois abrigos para doentes de Aids por 16 anos. Também instalamos o Serviço de Acolhimento Institucional para Jovens e Adultos com Deficiência e a residência inclusiva, que, por três anos e meio, mantivemos em duas unidades. Nosso maior desafio nos últimos anos tem sido assegurar a qualidade do serviço, atendendo à demanda, mesmo com a drástica redução das contribuições em razão das dificuldades pelas quais passa a sociedade brasileira.

Você acredita que uma maior transparência na gestão reflete em credibilidade?

Sem dúvida. Um dos valores mais importantes de uma organização é a sua credibilidade. Uma organização transparente, idônea e fiel aos princípios e valores por ela elegidos transmite segurança a seus colaboradores, possibilitando parcerias mais duradouras e bem sucedidas.

Quais as ferramentas adotadas para que isso aconteça?

Temos algumas iniciativas realizadas com o objetivo de dar destaque à credibilidade e garantir a transparência aos nossos colaboradores. Além da qualidade dos serviços prestados, temos a publicação do balanço anual no Diário Oficial do Município, no Portal de Transparência, localizado no site da entidade, e a utilização de mídias sociais para divulgação de realizações. Também convidamos a todos que se interessarem para vir conhecer e acompanhar as atividades realizadas pelo nosso grupo na instituição.

Quais os principais programas e cursos realizados e os principais avanços nos últimos anos?

Sem dúvida, é o atendimento no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, realizado pelo Programa Construindo o Amanhã. As atividades propiciam vivência cidadã e democrática, a partir do sentir e do pensar, estimulando a convivência social cooperativa e reforço dos laços, de forma que os participantes se reconheçam como protagonistas da história. Claro, sempre respeitando as características individuais e os estágios de desenvolvimento de cada participante, que é estimulado à prática de habilidades em atividades intergeracionais, compartilhando experiências. Em outro programa, o Profissional do Futuro, iniciado em 2001, o resultado foi gratificante, pois centenas de contratações foram efetivadas nesses 17 anos, muitos permanecendo nas empresas com bom desempenho e, até hoje, ocupando cargos de gerência ou atuando nas mais diversas áreas funcionais.

Trabalhos manuais ajudam na integração e despertam talentosEntre os diferenciais do trabalho, o que destacaria?

Podemos ressaltar, nos últimos anos, o incentivo para que os assistidos planejem e realizem as atividades que atendam seus interesses, ideias e motivações. Como exemplo, cito o acolhimento dos que ingressam no projeto, que é totalmente programado e realizado pelos veteranos.

Em 2017 encerraram o serviço de residência inclusiva da Casa Caio, passando esse atendimento para a prefeitura. O que levou a essa decisão?

Pretendem retomar o serviço? Isso foi decorrente, basicamente, do efeito sinergético de dois fatores: por um lado, o alto custo do serviço para atender poucas pessoas — per capita elevado —, e, por outro, a redução das contribuições da sociedade, em consequência da transição econômica e social pela qual tem passado a sociedade brasileira, situação enfrentada pelas Organizações da Sociedade Civil (OSCs) até hoje. Em razão dessa situação, em setembro de 2017 o serviço passou a ser executado pela Prefeitura de Ribeirão Preto. O retorno desse ou qualquer outro programa depende de financiamento.

Hoje, quais as necessidades da Instituição e de que forma procura saná-las?

Uma delas é realizar a recuperação do patrimônio físico do Corassol, porque os programas de acolhimento exigiram a aplicação de todos os recursos, ficando em segundo plano a manutenção desse patrimônio. A outra é assegurar a continuidade do atendimento à criança e do adolescente, ampliando o número de vagas. Procuramos saná-las mobilizando recursos para viabilizá-las.

Quem são os principais mantenedores do Corassol e quais as outras formas de colaboração?

Contamos com a parceria de pessoas físicas e jurídicas, por meio de doações de recursos financeiros e materiais, parcerias para promoção de eventos, trabalho voluntário, entre outras ações. Quem preferir doar diretamente em depósito em conta, pode fazer pelo Banco do Brasil, na agência 2890-8, Conta Corrente 219575-5. Outra forma de colaboração é pela “Nota Fiscal Solidária”, realizada por meio do Programa Nota Fiscal Paulista, que é um incentivo ao controle fiscal por parte do próprio consumidor. Ao indicar o CPF e exigir o seu documento fiscal, a pessoa recebe créditos ou pode ajudar uma Entidade Assistencial de sua confiança. Com o slogan ‘Fazer o bem, sabendo a quem’, o contribuinte também pode destinar parte de seu Imposto de Renda devido ao Fisco, financiando sonhos de crianças e adolescentes. Trabalhamos para que a população deixe seu Imposto de Renda em nossa cidade.

Há alguma campanha vigente para angariar novos patrocinadores?

Sim, trabalhamos com algumas iniciativas nesse momento. Temos, por exemplo, a ‘Financie Sonhos’. Todo trabalho do Corassol é voltado a realizar os sonhos de nossas crianças e adolescentes. Por isso, buscamos parcerias que assegurem e ampliem essa possibilidade. E qual a criança que não tem sonhos? Nossa meta é financiar sonhos, colher luz e prosperidade. Além disso, temos o ‘De Coração pra Corassol’, realizado por meio da distribuição de cofres em forma de porquinhos, posicionados em caixas de diversos estabelecimentos, para incentivo a doações eventuais, que, somadas, contribuem para a manutenção do serviço. 

Texto: Rose Rubini | Fotos: Luan Porto

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